13/12/08

Estou em vias...

...de acabar de ler “The God Delusion”, de Richard Dawkins, e dá-me vontade de o recomendar a todos. Não só os que procuram entender uma data de coisas, mas também os que julgam ter o assunto arrumado. O livro explora os eventuais motivos para tendência humana para a crença, as consequências que isso teve ao longo da história, e o pouco sentido que faz alimentar rivalidades ilusórias. Enfim, é a minha leitura. Fá-lo de um modo extensivo, crítico e – o melhor – sem pôr paninhos quentes.

Vou ali num instante deitar-me na cama de rede e acabar de ler. :)

Deixo só uma citação (que encontrei no livro) do comediante norte-americano George Carlin, que me fez rir:

Religion has actually convinced people that there’s an invisible man – living in the sky – who watches everything you do, every minute of every day. And the invisible man has a special list of ten things he does not want you to do. And if you do any of these ten things, he has a special place, full of fire and smoke and burning and torture and anguish, where he will send you to live and suffer and burn and choke and scream and cry forever and ever ‘til the end of time… But He loves you!

18/11/08

acho que vou voltando

Aos Domingos a cidade parecia saída de um sonho.

[Nos sonhos deambula-se muitas vezes sozinho, encaram-se portas fechadas em largas ruas de asfalto coberto por pó alaranjado. Anda-se meio anestesiado pela simples quietude do mundo.]

O vento quente levantava-lhe os cabelos, como antes imaginara. Antes. Antes de estar ali, nessa cidade aos Domingos fantasma.

Mas, descendo a rua, metia-se outra vez em Moscovo, no apartamento que se encaixotava num subúrbio, na rigidez dos olhares que se lhe cruzavam e no vestido azul da protagonista. É que, às vezes, os livros não nos largam.

E então tinha que parar e deixar passar um carro ocasional, dado que na cidade fantasma as passadeiras tinham apenas função decorativa. Deixava-o passar: uma carrinha negra grande, acelerando os vidros fumados alcatrão abaixo; coelhinho da playboy colado na traseira.

Para chegar onde ia, o único café aberto em dia de descanso, desceria ainda dois quarteirões mais. Cruzaria três hippies sentados num degrau, expondo os seus artesanatos. Topá-los-ia à distância, as rastas de um, os óculos redondos do outro (protegendo do sol num dia cinzento), a preguiça dos dois, e os olhos da rapariga a estudá-la, de cima abaixo, em busca de referência. “Do you want to see our art?” decidido que ficava, como apropriado, o modo de abordagem. Uns breves segundos atentos no livro que levava na mão bastariam. Mas que não, gracias.

Chegada à esquina encontraria um altifalante virado para a rua, pregado na parede, deitando para a rua a música que se fazia ouvir no café. “Um chamariz”, pensaria. “Um chamariz de turistas, pensam eles”. Êxitos internacionais em versão chill out por vozes de cama. Plumas nos canteiros à porta. E uma selecção gourmet de chocolates e bombons lá dentro, para além de grande poltronas entre o ferro e o salmão, iluminadas por focos impecáveis. Algo caído de um outro hemisfério a que, quando calhava, acabava por recorrer.

Faria sentido pensar em Moscovo? Em macacos que têm medo a colibris? Em saltos quânticos de objectos perdidos na selva? Faria sentido que uma pessoa levasse sempre mosquitos consigo, onde quer que fosse? E que uma dupla face pudesse ter filhos sem antes escolher quem é?

Sentar-se-ia então lendo Dawkins negar a existência de Deus. Não entenderia por que raio seria ainda necessário fazê-lo. Tudo o mais parecia bastar.

06/10/08

flutuando

Já não escrevo para mim. O tempo vai passando e as teclas batem para outros, alheios que são (e porquê?), forasteiros em meus meandros. Olhos de fora (e porquê?). O que sobeja de mim nestas linhas não faz jus ao agora. Este momento de hoje. Recordo, a propósito de nada, uma igrejinha em Megéve, em noite fria e com cheiro a lume. Todos cantavam, apeteceu-me ficar dentro. Talvez pela primeira vez. Recordo a tarde no pão-com-chouriço em Mafra. A água a pingar do céu cinzento, a subir-nos pelas calças compridas demais – arrastando –, a desagradar. A falta de abrigo para comer e as mãos geladas a retirar o chouriço do pão. Outras mãos geladas dizendo “eu quero!”. Recordo coisas de que já nem me lembro (mas afinal porquê?).

11/09/08

as minhas desculpas...

a quem vem aqui e nao foi avisado. Mudei de residência física e resolvi ser uma boa opcao mudar também a residencia virtual. Estou agora, e pelos proximos meses, em: www.diasnafloresta.blogspot.com
Nao digo que nao continuarei a deixar aqui qualquer coisa de vez em quando. Mas ficara esta como casa de fim-de-semana.
Como estou em terra de habla castellana: saludos a todos!

17/08/08

cheira bem?

Já tentaram definir um cheiro? É complicado, não é? Quando toca a odores, parece que temos poucos adjectivos à disposição. Nada comparável com o que se passa com a visão. O costume é acabarmos por recorrer a cheiros já conhecidos e dizer que é mais ou menos como isto ou aquilo. Ou, num atrevimento de imaginação, misturar essas memórias odoríferas, e tentar, pelo menos, uma maior aproximação ao real.

Ontem dizia eu à minha avó:

- Têm que ir conhecer os Açores porque vale a pena, lava os olhos e enche a alma! E além disso há aquele cheirinho…

- Ai sim? Cheira a quê? – perguntou-me logo, como se quisesse imaginar tudo ao pormenor para formar um quadro mental perfeito.

E eu hesitei. Como é que se define um cheiro outra vez?

- Bem, a mim cheira a fresco, a humidade fresca (notem a redundância) e a verde (o cheiro de uma cor, portanto!).

Não fiquei muito convencida comigo própria… Ela levantou os olhos para procurar, por momentos, esse horizonte açoriano. Voltou a querer saber:

- É como a relva cortada?

- Não é bem isso. Cheira a plantas sim, mas é mais doce (tentei). E cheira a mar também. Mistura-se tudo nessa humidade que está em todo o lado.

- Ah… - aceitou, pensativa - Olha, uma coisa de que tenho muitas saudades é o cheiro de Luanda! Não era bom António?

O meu avô estava com a atenção na televisão.

- António, estás a ouvir? – insistiu ela.

- O quê, o quê? Os alemães o quê? – respondeu de repente (e a eterna piada do alemão que ainda não cheguei a perceber).

- Se te lembras do cheiro de Luanda?

- Ah, lembro. Mas olha que não era grande coisa… Cheirava a farinha quente.

Cheirava-lhe a farinha quente!

E com esta, I rest my case.

.............................

08/08/08

Anita burricando

Repeti este ano uma experiência de há dois anos. Quatro dias em terras de Miranda, debaixo de um sol abrasador, em companhia de burros, gaiteiros, gentes de fora e locais dispostos a receber. O passeio é co-organizado pelo grupo de música tradicional Galandum Galundaina e pela AEPGA (Associação para ao Estudo e Protecção do Gado Asinino) que, como o nome indica, se dedica a não deixar morrer esse património genético que é o dos burros de Miranda e que, por tal boa causa, vai promovendo a animação no planalto mirandês.

À chegada a Miranda do Douro, pela noite da véspera, é altura de inscrições e põem-se logo os gaiteiros a tocar. Para quem vai pela primeira vez e não está habituado ao som das gaitas e a ter os músicos (determinados) sempre ao lado, dá logo uma certa emoção. Vai-se ficando por ali, os roncos a ecoar, a cerveja a ser servida para os canecos, soltam-se “olá, tudo bem?” a caras conhecidas, uns e outros mais afoitos encetam bailaricos, a noite está morna, tudo vai bem.

No primeiro dia de real burriquice deslocam-se as boas almas para uma das aldeias e ocupa-se o tempo com workshops de dança, de pauliteiros, de língua mirandesa, de maneio de burros ou de gaitas e precursão - é à escolha do freguês. Alguns metem-se logo na tasca mais próxima (não vou dizer quem, que o barbudo ainda me vem acusar de queixinhas!). Os dias seguintes são já para se passar em caminhada. Cada grupo acompanha um burrico e, quem quer, vai alternando para montar. O olhar, esse, vai-se perdendo nas searas, nos lameiros delimitados por toscos muros de pedra, no feno enrolado em cilindros, nesses campos amarelos pintalgados de carrascos e pedras, e reserva-se na memória – não tenho dúvida – o contraste magnífico das cores mirandesas. Claro que há pó. Um imenso calor. Pernas que, às tantas, precisam de ir em piloto automático para se moverem. Há cansaço, sede, burras teimosas e gaitas que, inexplicavelmente(!!) dentro dos tímpanos, às vezes apelam ao silêncio. Mas a experiência vale essa pena. Até caminhar atrás de um burro a quem dá um súbito ataque de diarreia é coisa que se vê compensada pelos sítios, as vistas, os ares e as gentes.

O que me espanta, ao voltar de locais como este, é a fraca ligação que pessoas como eu têm à sua terra. Ao seu lugar. Dá a sensação, depois de conhecer gente rural, que flutuo com suavidade por cima do solo, sem nunca lhe tocar, sem nunca ele me agredir, nem tão pouco me oferecer o que seja. Não o conheço. Para ele sou invisível. É verdade, para uma Lisboa sou absolutamente invisível! Não consigo sequer deixar uma pegada - dada a calçada e o alcatrão a perder de vista. E é normal que assim seja, estou rodeada por um milhão de lisboetas igualmente invisíveis. Parece que da cidade só tiro, só percorro, só aproveito miradouros, cinemas, cafés, bares… E nada dou. Por estranho que pareça, quem não dá sente-se vazio.

Mas voltando à burricada! É revigorante conhecer um grupo de gente nova que se preocupa em manter viva a sua cultura. Por banal que isto soe, é verdade. Como prova disso, somos acompanhados por várias crianças locais que também tocam os bombos, as gaitas e as pandeiretas que nem gente grande – para além de controlarem os burros, coisa que nós não conseguimos, de todo, fazer. Arre, arre burrica, em frente! [e a gaja decide comer umas ervas apetitosas mesmo ali ao lado]. Wow, wow, devagarinho… [e ela arranca desembestada, dando encontrões a torto e a direito, porque a outra burra, que é a sua maior amiga, vai lá para a frente]. Seguimos assim, de aldeia em aldeia, falamos com os antigos, levamos a confusão e a festa e parece-me que a maior parte deles gosta. Alguns burriqueiros vão armando tendas e dormindo nos locais de paragem, outros, depois do arraial, metem-se na camioneta que os leva de volta ao parque de campismo (no meu caso foi mais a kangoo da SemNexo, feita T0).

No dia seguinte era mais do mesmo. No total palmilhámos o percurso: Constantim – Póvoa – Malhadas – Pena Branca – Miranda do Douro. Não faço ideia da distância. Só sei que, mais uma vez, foi uma curtição.

Obrigada à companhia!












31/07/08

e finalmente foi Verão!

Quando eu era miúda, na praia, as avionetas passavam por cima do areal e deixavam cair brindes. T-shirts, bonés ou bolas de praia insufláveis, a questão é que caíam do céu e toda a gente corria para os apanhar. Tudo bem – concedo – pode ter acontecido uma única vez. É possível que a emoção tenha sido tal, que a memória tenha extravasado ligeiramente… Quem pode garantir o contrário? Mas lá que me lembro, ora essa, se me lembro! Havia coisas sobre o Verão que não se viriam a esquecer. O genérico da série “Marés vivas” (e as cenas de afogamento repetidas ao pormenor quando íamos à barragem). A voz do Eládio Clímaco a apresentar os Jogos sem Fronteiras. A excitação só proporcionada pela venda de rifas da feira da Achada e toda a tralha que de lá trazíamos. O incansável bolo “meia-lua” empurrado a Tang no aniversário da M. O cheiro a gasolina no barco. Os saltos que ele dava nas ondas quando o levávamos para a barra. A visão da senhora das bolas-de-berlim a aproximar-se com o cesto de verga debaixo do braço. Andar de bicicleta à noite pelo aldeamento. E, por fim, essa hipótese de um aviãozinho passar lá no alto e abrir as portas ao marketing. Ainda hoje, quando os vejo passar, acredito por breves momentos que irão começar a cair objectos. Só que hoje a mente põe-se a vaguear logo pelo consumismo descontrolado, os problemas ambientais e o ego desmedido de todos nós. Não sei se por esta ordem. Nem sei se isto são consequências de entrar no mundo dos adultos, se no mundo actual. Às vezes confundo-me. O último avião que vi trazia uma daquelas fitas presas à cauda onde se lia: “Português Suave – Um romance inesquecível”. O marketing, portanto, estendido ao ponto de nos apontar a leitura adequada à situação em que nos encontramos. Está na praia de papo para o ar? Então devia estar a ler a Rebelo Pinto! (é o que todos os outros estão a fazer) Algo deste género. Pasmei um pouco. Anúncios voadores a livros? Onde é que isto já se viu? Mas depois dei-me conta que, a quem pudesse ouvir a indignação ressoar dentro do meu cérebro, surgiria como uma octogenária estereotipada. Sejamos francos, muitas vezes os livros vendem-se pela capa. Escrever passou a ser também um negócio e, portanto, nada mais natural que seja tratado como tal. Produto a tornar atractivo e vendido à fartazana. Ou não? [a octogenária em mim bate o pé] O sucesso, afinal, não se mede em euros? [e franze o sobrolho, já zangada] Não sei. Com o tempo fiquei mais seca, tremendamente analítica e pouco do que o avião oferecesse me faria mexer uma palha. Mas a verdade é que há um instante muito preciso, um quase nada, uma fracção de fracção de segundo, em que oiço aquele som ao longe e descortino que se trata de um avião e, secretamente, se acende uma esperança, uma trémula sede de criança. Que já não é de brindes. Não é de t-shirts. Deixou foi de saber exactamente de que é.

03/07/08

all aboard? [quase post nº100]

Escrevi uma vez um poema, coisa única, a uma tia velha que se foi daqui com sacrifício. Pessoa que conheci sempre sem pretensão. Só que, certo dia, o meu pai pegou no computador e apagou-me os textos sem aviso. Foi como se mos arrancasse da carne.

Entretanto, eternidades volvidas, chegou-me o Samuel Beckett. «Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor». E deixou-me a pensar… Porque não? Porque não viver para se afastar cada vez mais do erro, em vez de ter por meta a excelência ridícula e desesperante da perfeição? Que tal a segurança de partir com o que já se tem – a tal falha – e trabalhar o mundo próprio a partir daí?

Gostava de saber repetir o poema… Não era grande coisa, não. Mas, em poucas palavras, dizia o que queria. Agora… Agora? Vou ter que falhar de novo. Talvez um pouco melhor.

30/06/08

o tal concerto

Acabou por ser assim, decidimos ir as três estarolas à última da hora. Liguei a reservar mais um bilhete, ao que me respondeu a voz do outro lado: “não é preciso, há muitos lugares”. A ideia preocupou-me. Apressei o dia aquilo que pude e voltei para casa com a estarola terceira, a fim de mudar de roupa e jantar com leveza. Torceu o nariz arrebitado sem cerimónia ao cuscuz que lhe cozinhei. Ó senhores, vá de hambúrguer no pão! A estarola segunda chegou entretanto, maldizendo a vida e a infinita lata masculina. Durante o jantar tratou de expurgar a neura, dando-lhe um formato verbal que, tanto eu como a terceira, ouvimos quase em silêncio. Ruminando.

Desde o início da tarde que me sentia um bocado nervosa sem motivo. Ansiosa. Como se fosse euzinha subir ao palco essa noite e enfrentar um público. Como se a mim afectasse directamente o volume de audiência que, ao que parecia, ficava muito aquém das expectativas. Sempre fui assim tonta, a encaixar problemas alheios (até os que por auto-recriação vou inventando). Quando, nas aulas, os professores davam uma descasca em alguém, os meus olhos colados na mesa não conseguiam mexer-se. Um sufoco idiota. Mas pronto, nesse dia, estava tensa com o espectáculo. Depois do jantar, despachámos a cena mudança-de-roupa-e-demais-coqueterias com relativa rapidez. E foi de tal modo rápido que consegui fechar uma porta em cima do dedo indicador. Fabuloso! Num daqueles ataques que me tomam quando a dor estala, dei um senhor pontapé na porta culpada, deixando as estarolas boquiabertas a olhar para mim, enquanto fugia para a varanda agarrada ao dedo. Que aqueceu, desatou a latejar. E eu, respirando fundo e procurando na casa-de-banho uns minutos de água fria, vi-me obrigada a pedir : “M., vais-me buscar um saco com gelo?”. Portanto, acabei por sair de casa com o dedo enrolado num pano verde alface que envolvia uma bolsinha de gel frio. Lindo.

Chegadas ao Coliseu uma hora antes do concerto, à cause dos bilhetes, encontrámos o espaço às moscas. Fomos entrando, subindo, sorrindo, aceitando revistas e panfletos, e acabámos por nos sentar no chão, lá no alto no piolho, enquanto o resto das pessoas, provavelmente, acabava os seus jantares. Logo aí uma verdadeira adversidade: estarola terceira tem vertigens e nós não sabíamos! O cabo dos trabalhos para a convencer a colocar-se a três passos do varandim, onde se deixou ficar tesa que nem um carapau, os olhos no chão com nervoso miudinho. O que fazer? Nada a fazer. Ir espreitando as formigas lá em baixo a entrar aos poucos (muito poucos) e silenciosamente. Continuava nervosa, apreensiva com a sala tão cheia de espaço e imaginando o inevitável nó na barriga dos que se encontravam, nesse momento, do outro lado do palco. Mas, devagar, a área da frente foi-se compondo e, quando as luzes se apagaram, já o cenário não parecia tão negro.

Ela entrou seguida das palmas, algo brilhante, vestida de cor e em cima de uns saltos pouco habituais. O meu samba vai curar teu abandono… E parecia o CD a tocar. A voz é tal e qual e, no Coliseu, a distância do piolho ao palco não nos ajuda a sentir o forro quente do ambiente – principalmente tratando-se de pitosgas como eu.

Entretanto a estarola terceira mantinha a postura pétrea, muito embora nos esforçássemos por provocar uns abanicos conjuntos ao ritmo do samba. Na única vez que se dirigiu directamente ao público, ao fim de duas ou três músicas, Maria Rita disse-nos que estávamos em casa e que, portanto, fizéssemos o que mais nos apetecesse. Sentar, levantar, dançar, cantar… Ao que um gajo cá de cima gritou “queremos ir aí para baixo!”. Alguns risos nossos, dos pobrezinhos. Mas a verdade é que, depois de repetidamente a estarola segunda ter observado “bem que nos podiam mesmo deixar ir para baixo, há tanto espaço!”, as vozes do povo foram ouvidas. Um dos meninos de fato veio informar-nos que, se quiséssemos, nos podíamos mudar para as laterais lá de baixo, aquelas de onde só se vê meio palco. Bem, foi ver-nos a todos descer quatro lances de escada o mais rápido que as pernas permitiam! O passo da estarola terceira a limitar um pouco o nosso trote. Mas lá chegámos e, tendo esperado o fim de uma música, abriram-nos as portas para entrar. Foi incrível, de repente estávamos ali em cima, até podíamos ver as expressões na cara da mulher! Sentámo-nos as três, para grande alívio da vertiginosa mas eu, na verdade, fiquei um bocado inquieta por não me poder mais abanar. Ao fim de duas músicas levantei-me e afastei-me para não quebrar visibilidades. M. secundou-me e gozámos o Pagu com menos reservas. Nem toda a feiticeira é corcunda, nem toda a brasileira é bunda, meu peito não é de silicone, eu sou mais macho que muito homem! Deliramos com isto. Só que o espaço nas bancadas também não é muito e tardou pouco a decidirmos descer para dar chão aos pés. A coisa não parou por aí. Uma música volvida e alguma alma iluminada, das que se encontravam connosco no local, abriu a portinhola do varandim que separava a bancada lateral da central e, em segundos, transbordámos para a melhor zona possível: mesmo ao lado das cadeiras da frente, em pé, com imenso espaço de dança, sem incomodar vistas, e tendo o palco a uma distância quase ridícula. A cantora estava cada vez mais animada e o público já se ia levantando e vibrando. A fraca tentativa do fato engravatado nos dissuadir de ficar ali foi posta de lado como um par de meias sujas. Não houve insistências. Parecia que o concerto tinha então realmente começado. O repertório passou a incluir músicas anteriores e mais conhecidas e ela ia gingando de um lado para o outro do palco, de braços no ar como de costume. Parava à nossa frente e abria grandes sorrisos à Elis. Gritámos, cantámos, saltámos, fingimos que sambámos e divertimo-nos à grande. Posso dizer que foi dos melhores concertos a que já fui. Um encanto. Mesmo vestida para sambar, a Maria Rita surge-nos como uma pessoa real e talvez seja isso, para além da voz, da presença e da simpatia, que a liga tanto ao público. Depois de mudar para um vestido muito, muito mini, entrou no palco debaixo de uma cascata de assobios. O resultado foi um envergonhado ataque de riso que não a deixou cantar metade de uma música. Já se sabe, é destas coisas que se alimenta a empatia entre as pessoas.

Saímos de lá a tender para o histéricas, com o ritmo sambista no sangue a pulsar. Não nos calámos até casa. E depois disso. E só dava vontade de lhe ligar para dizer “Rita, obrigada! Foi único. Deixaste-me endorfinas para o mês inteiro.” Não seria mentira.

25/06/08

hoje apenas isto

Somos por comparação. Vivemos toda uma vida por comparação. Padrões e bitolas, é o que é.

22/06/08

descobertas

A Maria Rita vem a Lisboa para a semana e eu e a M. lá estaremos no Coliseu, esperando o samba seu. Conheci a música dela há alguns anos, enquanto espiolhava o computador de uma colega por novidades. Gostei, copiei. Achei-lhe uma voz diferente, muito redonda e sincera. Envolve. Ouvi muito, acompanhou-me sempre que havia dados para analisar, relatórios para escrever (qualquer coisa que me prendesse horas solitárias ao computador) e, mais tarde, arranjei também o álbum “Segundo”. Estranhamente, ao longo dos anos, nunca googlei a rapariga. Foi, portanto, só depois de muito a ouvir que descobri que traz um fantasma acoplado: o da mãe, Elis Regina. A própria Maria Rita diz que demorou muito tempo a enveredar pela carreira musical porque confundia a sua vontade com as expectativas dos outros.

(ouvi, pois: Cara Valente e Tá perdoado, por exemplo)


Eu, da Elis, julgava só conhecer o nome. Por “intermédio” da filha, comecei a procurar música da senhora – já agora para perceber what the fuss is about. De início reagi mal ao metálico que se lhe sente na voz. Desconfortava-me. Mas fui ouvindo mais, um pouco mais. E fui descobrindo uma data de músicas que, não só reconhecia, como sabia cantar às partes - resultado de uma infância em que a (única) novela do dia era brasileira e ritualizada. E, provavelmente por causa dessa familiaridade precoce, comecei a ouvir Elis com menos reservas. O desconforto mantém-se (pode tornar-se ele um vício?) mas deixo que o faça.

Não sei nada de música, mesmo. Mas pasmo com o modo como dela brotava uma voz límpida, cheia de garra, leve e divertida, forte, tudo ao mesmo tempo. É impressionante.

(a que deixo em repeat: O bêbado e o equilibrista)

Daí que, agora, gostava que também Elis viesse ao Coliseu…

17/06/08

dizer as palavras dos outros

A primeira vez que ouvi o poema “Aniversário”, de Pessoa na pele de Álvaro, foi numa encenação do grupo de teatro da Crinabel. Arrepiou-me. Os actores estáticos, muito brancos, como memórias congeladas. A iluminação dourada de um sonho – talvez porque as memórias não cheguem a ser verdades por inteiro. A entrada enérgica das crianças-Pessoa, jogando com os adultos como se de mobília se tratassem, como se fossem únicos seres vivos num reino moribundo. E a gravação ditando o compasso da acção. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos… Lindíssimo.

A noite passada foi domingo e estaquei na rtp2, onde a Paula Moura Pinheiro conversava com uma senhora de idade. Que eu desconhecia. Só que gosto do programa e fiquei por ali. A senhora chama-se Germana Tânger e foi professora de dicção no Conservatório Nacional durante uma carrada de anos. Amiga de Almada Negreiros, José Régio, Vitorino Nemésio… Espalhava poesia. E então foi-lhe pedido que dissesse o “Aniversário”, coisa que logo fez e com uma naturalidade desconcertante. Com os sentimentos certos no momento exacto. Eu não sou muito de que se leia poesia (ou o que quer que seja), porque sempre me pareceu que se desvirtuava o sentido, que não se devia desapropriar assim o autor, bem como o leitor, das emoções, dos instantes seus. Mas ontem gostei.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar pela vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

27/05/08

fernanda câncio

Gosto desta senhora. Merece um copy-paste.

"O petróleo aumenta, aumenta, aumenta. Motivos múltiplos, alguns mais perceptíveis que outros. Mas vai dar no mesmo, qualquer que seja o motivo: os países que o têm passam bem e os que não têm passam mal. E passam tanto pior quanto mais dependem dele. E é espantoso o quanto dependemos, nós os sem-petróleo, do petróleo que não temos. Não só dependemos como queremos continuar a depender. Nem sonhamos outra coisa. É assim uma espécie de estado de negação permanente, uma patologia psíquica global.

Comecemos por um exemplo fácil. Temos os taxistas e as transportadoras em pé de guerra a exigir “gasóleo subsidiado”. Parece que o Estado (isto é, eu, quem me lê e quem não me lê) subsidia o gasóleo para uso agrícola e eles querem o mesmo tratamento. Não querendo perder muito tempo com o subsídio para a agricultura - faz parte de um mundo hipersubsidiado que sempre tive a maior dificuldade em entender -, fico de boca aberta ante a exigência. Por que carga de água hei-de eu, com os meus impostos, subsidiar o combustível que alimenta os táxis e os camiões? Para que os táxis não aumentem e as mercadorias não subam de preço devido ao custo acrescido no transporte, respondem-me. E eu respondo de volta: e por que não hão-de as mercadorias ser transportadas de comboio e de barco, meios que têm um dispêndio inferior de energia? Por que não hão-de os táxis ser reconvertidos para trabalhar a gás, que, ao que ouvi dizer, é coisa que não custa assim tão caro, permitindo usar um combustível que é mais de 50% mais barato e ainda por cima menos poluente? E, não despiciendo, por que há-de quem não usa táxi subsidiar quem usa?


A mesma lógica se aplica aos detentores de automóvel - afinal, ninguém é obrigado a ter carro, e se o tem, estando disposto a fazer face aos acidentes de percurso (a começar pelos propriamente ditos), por que não há-de ver na subida do preço da gasolina e do gasóleo mais um acidente? -, como aos transportes públicos em geral e a toda a gente em particular. Escolha como quer reagir a esta situação: chorando e exigindo “apoios” ou aproveitando para mudar hábitos, poupando energia e dinheiro? Quantas pessoas há que deixaram de usar transportes públicos há anos, passam horas em bichas e a procurar lugar para estacionar, apenas porque meteram na cabeça que isso é mais cómodo e lhe confere mais statu? Quanta gente há que não dá um passo a pé, para quem é impensável viver num prédio sem elevador e para quem as práticas ambientalmente conscientes são “perdas de tempo” e “esquisitices”?

O papel do Estado é fundamental nesta matéria, é. Mas recusando subsídios e encorajando a reconversão e a poupança energética, a começar pelos transportes públicos. Já fazemos todos parte, quer queiramos quer não, do Movimento dos Sem-Petróleo (MSP). É altura de a ele aderirmos à séria, com entusiasmo e militância."


publicado no DN de 23/05/2008

26/05/08

domingueira

Esta tarde acabei por ir dar umas curvas para os lados do castelo. Tenho um sério feeling que o Verão está, finalmente, a chegar. O sol foi mais que suficiente para me deliciar com a vista sobre Lisboa, tentar adivinhar onde estão, exactamente, os edifícios conhecidos, e sentar-me a preguiçar na escadaria tosca do castelejo. Rica cidade! Se fosse estrangeira de passagem, iria querer viver aqui. Sendo da casa, tenho uma vontade doida de palmilhar mundo.

Descobri um espaço novo, que há muito já pedia para ser aproveitado. Finalmente alguém notou! É aquele terraço enorme que existe ao lado do “Bar das Imagens”, na costa do castelo (antes de chegar ao “Chapitô”, quem sobe pelo largo do Caldas). Aquilo é da Câmara e costumava ter, simplesmente, um portão trancado. Agora encheram o local de espreguiçadeiras, cadeirões, mesinhas e, ao canto, funciona um bar. Pelo aspecto está também aberto à noite e deve ser bem fixe. Venha de lá esse bom tempo, e rápido!

Aproveito para anunciar também (que isto hoje estamos numa de cultura e lazer) que a “8 ½”, Festa do Cinema Italiano, vai escarrapachar-se no King e na Cinemateca de 5 e 11 de Junho. Penso que são filmes que têm passado nos festivais europeus ultimamente. Na verdade reparei no cartaz porque “8 e ½” é o título do único filme do Fellini que vi. E que por sinal me encantou. :)

Foto do dia

23/05/08

amizades que foram

Uma pessoa que parte deixa uma marca que não sai, tal como um prego na parede deixa sempre o seu buraco. Com o tempo, a vista adapta-se ao buraco e simplesmente deixa de o ver. Integra-o. (um buraco? onde?)

Uma pessoa deixada para trás representa o tempo que lhe ficou colado. Claro que também ela viveu, experimentou, ultrapassou barreiras, mas vemo-la sempre como estando no tal local, no tal período de tempo, associada a fulano ou a cicrano. E como isso não é mais verdade, quando topamos com os olhos nela, não sabemos o que fazer. Difícil será reagir como se a não reconhecêssemos e entabular uma conversa de apresentação. Por outro lado, ao fim de alguns anos, não temos a mínima noção do que ela pensa ou faz regularmente, pelo que não podemos assumir o que quer que seja. Caímos na entediante repetição da vida em condensado, a versão que trazemos sempre preparada para ocasiões do foro público. E pode, inclusive, ser doloroso olhar os olhos de quem já se entendeu um dia num domínio mais chegado, mais aconchegado. Ver os farrapos de uma amizade que, afinal, talvez não fosse. Pode ser um desalento identificar o pouco à-vontade, a desconfiança nos gestos, um acautelado manter de distância… A mim, que sou dada à saudade, bate logo a tristeza desses nós que já não soltam e daquilo que não pôde mais ser.

17/05/08

olha qu'esta!!

Hoje comecei o dia ao volante do mazda. Ali ao passar o Campo Grande, mesmo por baixo do viaduto da 2ª circular, o locutor que comentava musicalidades na Antena3 começou a contar que, ao engano, achava que os Guns n’ Roses tinham agora editado um álbum novo - mas que depois verificou que se trata, afinal, de um best of. Então, em jeito de observação de remate, terminou a intervenção da seguinte maneira: “… aqueles que foram jovens teenagers dos anos 90 e que hoje, certamente mais entradotes, querem mostrar à sua descendência o rock de outros tempos, têm aqui uma oportunidade…” Ora meu amigo, alto e pára o baile!! Vamos cá fazer algumas continhas… Entre 1990 e 1999, eu própria fui dos 9 aos 17 anos. Um perfeito exemplo de “jovem teenager”. E chamar-me “entradota” aos 26 anos é no mínimo exagerado... Eu sei que há-que se fazer de engraçado, que é o trivial e almôndegas falar de épocas e tempos idos, mas calma! Além do mais, as três pessoas da minha idade que conheço com filhos, têm-nos ainda em estado de desenvolvimento insuficiente para que lhes seja mostrada a música dos Guns (ou do que quer que seja, aliás - talvez à excepção dos Teletubbies). Portanto a máxima transcrita no post anterior aplica-se lindamente ao caro artista da rádio. Se é para dizeres parvoíces, mais vale estar calado.

12/05/08

uma curta só para picar o ponto

"Whereof we can not speak, thereof we must remain silent"
Ludwig Wittgenstein

A maior parte de nós esquece-se disto com uma trágica frequência!

30/04/08

Anita em Amsterdão...

Agora estou aqui, neste sítio em que há casas que são barcos, barcos que são pistas de dança e música um pouco por todo o lado. É que foi dia de aniversário da rainha-mãe - aquilo a que os holandeses chamam o dia da rainha - pelo que este pontinho do mapa, hoje, virou cor-de-laranja, apinhado e meio descontrolado.

Gosto da atenção que dedicam às crianças, do facto de montarem, com simplicidade, uma feira gigantesca em que elas exibem talentos, vendem o que querem e se divertem à grande.


Tiro o meu chapéu ao amigo gandamaluko por ter conseguido aprender esta língua de trapos, principalmente tendo sido autodidacta no processo.

E estou de rastos porque andámos umas 10h a cirandar por aí. Deliro com a cena da bicicleta! Se não faltasse o sol 80% do tempo, isto é que seria qualidade de vida.

28/04/08

into the (not so) deep

Finalmente, ao fim de cinco meses, fizemo-nos ao mar!
Glup, glup, glup...


Os exercícios do tem que ser:


E agora é só dar à barbatana!

25/04/08

faz um ano

Quase deixava passar o aniversário desta dieta a pão e vodka! Foi por acaso que pensei "deixa lá ir ver a data do primeiro post". E não é que foi a 25 de Abril?? Um ano inteiro, parece mentira! Coincidência ou não... vou ali soprar uma vela e já volto.

resumo de uma janta de gajas


A emigra do norte aparece à bifa: chinelo no pé e calores imensos. A tarde passada na baixa e no chiado - como manda a praxe - e eu tenho as minhas dúvidas de que não se tenha sentado na Brasileira ao lado do Pessoa a tirar auto-retratos para depois mostrar lá no UK. Desejosa que vem da boa pastelaria portuguesa, parte substancial do tempo é passada a falar de pastéis de Belém, duchaises e bolas de berlim. Podia-lhe dar para pior, é verdade.

Uma das já poucas não-emigras, acha por bem despejar o conteúdo da carteira em cima da mesa e chega-se à conclusão que temos um caso de MacGyverismo entre nós. Algo assustador. Fita-cola, lápis nunca antes vistos tão delgados, chaves para aparafusar móveis, fita-métrica… Não lhe vejo o canivete suíço, mas não tenho dúvidas quanto à sua existência.

A emigra do sul materializa-se muy salerosa, como de costume. O cabelo novo, a boa disposição habitual e uns sapatinhos de salto que embirram com a calçada lisboeta a noite inteira. Vá-se lá entender! Bairro alto acima, bairro alto abaixo, e os sapatos com vida própria, a insistirem fazer nicho dos buracos no chão!

E pronto, ao som dos Gipsy Kings e um bocado abatido, o Júlio lá serve as margueritas. Não sei se é a crise económica, se é coisa de bola, mas o homem parece preocupado. Lá fora uma montanha de gente, porque passa da meia-noite e já é 25 de Abril. Ainda se alcança fogo-de-artifício lá para os lados do Seixal. Tiramos fotografias parvas com os óculos-de-sol gigantes (e fashion, obviamente) da emigra do norte.

No fim a escuteira vem-nos buscar, com a mochila às costas. Como boa alma que é, caridosa, leva-nos no seu carro até às nossas próprias viaturas. Ainda sai do lugar do condutor para me vir abrir a porta de trás! Um mimo.

Para acabar, chego à minha rua e noto a rega do jardim a fazer um repuxo enorme. Vou espreitar. Os mendigos deitam-se nos bancos com caixas de cartão por cima, mas não evitam levar com os salpicos. Um deles levanta-se e ameaça com o punho o aspersor. Sorrio. Ele vira-se para trás e lança-me um olhar sanguinário. Medo! Meto o rabinho entre as pernas e vou para casa.

22/04/08

cliques

De vez em quando recebo e-mails sobre concursos fotográficos para amadores como aqui a je. Uns mais restritivos, outros mais abrangentes, uns que se repetem anualmente, outros inéditos, com prémios, sem prémios, há de tudo. O último que me chegou chama-se “culturas da minha rua” e é um concurso europeu que procura a captação de momentos pluriculturais no local onde vivemos - que é uma coisa muito em voga, isto das culturas misturadas. Não sei se a intenção é que a fotografia mostre situações interculturais, ou se as pessoas podem estar simplesmente de costas voltadas uma para a outra. O curioso é que, se lermos com atenção os regulamentos, na parte onde diz “requisitos de participação” encontramos: “os participantes devem provar que os indivíduos mostrados nas fotos inscritas concordaram em ser fotografados para este fim”. Para tal, os referidos indivíduos devem assinar um papel onde afirmam “I, the undersigned … hereby declare that I posed voluntarily for …”. Ora não me digam que isto faz sentido. O que é suposto fazer? Pôr o qué-frou, o chinês da loja da esquina e o preto que mendiga no jardim todos em filinha-pirilau e tirar uma fotografia? Ou dar uma nota de cinco a cada um e perguntar se o amigo não se importa de apertar a mão a esse companheiro? Ou pegue ao colo na menina, vá, que é de leste e não tem muito que comer?!
Eu gostaria de ver o resultado de um concurso que tivesse captado realidades. E as realidades a sério, aquelas que não são fruto da criatividade de cada um, tendem a ser espontâneas. Ou não?

21/04/08

pontapés nos acentos

Não sei se este blog terá modus vivendi com o novo acordo ortográfico... Se ainda faço contas em escudos!!

18/04/08

vinha subindo

as escadas do metro quando comecei a ouvir umas pancadinhas regulares logo abaixo de mim. Virei-me para olhar e lá estava um cego. Ao bater com a bengala nos degraus assegurava-se que era preciso continuar a subir. Visto assim não parece difícil. Mas tentei imaginar em que mudaria a minha existência o facto de não conseguir ver. Em primeiro lugar, o mais provável seria não estar a subir aquelas escadas naquele momento, a caminho de uma manhã em frente ao ecrãn de um computador. O que faria nessa manhã - em todas as outras manhãs - se fosse cega? Ficaria em casa? Dormiria até ao meio-dia? Teria alguma ocupação ou nem por isso? São questões a que não consigo responder, por muito que o tente imaginar. De uma coisa, no entanto, fiquei segura: estaria extraordinariamente dependente dos outros. Enquanto crescesse, enquanto me movesse, enquanto quisesse saber mais sobre o mundo... Iria precisar de ajuda. Pouco me estaria tão acessível como se pudesse ver. Não iria guiar um carro. Com dificuldade acenderia uma lareira ou montaria uma tenda para acampar. E a maior parte dos livros ter-me-ia que ser lida, quer por um amigo ou uma gravação.

Olhando à volta para o resto da Natureza percebemos que um indivíduo cego tem fraquíssimas probabilidades de sobrevivência. Não é por mal nem por bem, é só assim. Uma zebra que não veja é a primeira a marchar na cadeia alimentar. Chamam-lhe um figo! Por isso é tão intrigante que os humanos exijam socialmente o cuidado com os outros, em especial se estes forem incapacitados. É preciso gastar energia preciosa para o fazer, mas somos compelidos a fazê-lo. Bem sei que isto parece básico. Quem precisa mais deve ter direito a mais. Mas é básico apenas porque são as regras segundo as quais vivemos, talvez nunca as tenhamos chegado a pôr em causa. Desde quando seremos assim? Desde quando passou a fazer parte de nós este marcado, embora por vezes duvidoso, altruísmo? Actualmente temos um sem-número de associações de apoio, promovemos o voluntariado social, chegamos mesmo a punir quem não ajuda uma pessoa em perigo. Estabelecemos regras morais. Grande parte da população mundial cresce a ouvir como exemplo a história do senhor que deu a vida por nós todos. E porque será? Os insectos têm sociedades, outros mamíferos têm sociedades... Nenhum parece partilhar com os primatas (em especial connosco) a capacidade de sentir empatia. Não me atrevo a dizer que ela é a base - simplesmente porque não me quero esticar - mas que é uma linha bem definida do que significa ser humano, disso não haja dúvidas.

Estando numa de cegueira, acabo com Saramago, uma achega de que gosto:
"Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara."

16/04/08

é a vida que dá um filme?

Os heróis não existem, mas é o que nos imaginamos sempre ser. Incompreendidos, ocultos heróis, cujas minúsculas vidas se revelarão, afinal, num final, importantes. E que final é esse? Simples: é aquele que sabemos vir mesmo antes das letras brancas a rodar no fundo preto. Para lá chegar o herói ultrapassa provações, enfrenta perigos, é trazido à razão pelo melhor amigo, é ignorado ou menosprezado pelo povo em geral e, no tal final, encarna o seu verdadeiro ser - aquele que os outros desconheciam até então, mas passam desde logo a admirar. Tudo termina bem e com grandiosidade.

Na vida real acontece que o final não existe. Daquilo que por vezes parece final logo entendemos que não é estático, que o casal não se abraça eternamente ao pôr-do-sol ou que ao fechar de um livro se segue qualquer outra acção (como levantar-se para o arrumar na prateleira ou ir à casa-de-banho porque a bexiga já dói). Bem dizia a personagem da Meg Ryan no “You’ve Got Mail” que lhe parecia estranho que tanto do que vivia lhe fizesse lembrar histórias lidas algures e não o contrário. Bizarro que fosse a vida a imitar a ficção. Só que num mundo que arrota doses maciças de ficção, como não fazer dela o modelo do universo mental de qualquer um de nós? É que talvez nem seja mau... Só temos que interiorizar que nem sempre seremos a personagem principal.

10/04/08

o raio da carne!

Uma coisa que me irrita sempre é a pergunta “se não comes carne então porque é que comes peixe?”. Quando eu argumento que discordo das condições em que vacas, porcos, galinhas e patos, entre outros, são mantidos na maioria dos locais de criação (ou melhor, “produção”, que é um termo que até me arrepia) há alguém que logo se levanta e atira com a aquacultura. Ora bem, eu entendo o raciocínio. Em ambos os casos os animais são impedidos de ocupar o seu habitat natural e vêem-se confinados e enfardados de antibióticos e alimento artificial. Não está certo. Mas o que não entendo é porque é que me hei-de ver obrigada a dar justificações a cada refeição que partilho com uma nova pessoa. É cansativo. Eu não passo o tempo a pedir às pessoas “explica-me, por favor, porque é que comes carne”. Às vezes acho que devia, mas não o faço. Não lhes espeto com as histórias dos leitões capados sem anestesia - cujos dentes e cauda são também arrancados -, dos frangos a serem escaldados vivos, dos gansos alimentados à força para o fígado dar um bom fois gras ou das porcas inseminadas sempre que possível para terem ninhada atrás de ninhada dentro de um cubículo de um metro quadrado. E da mesma forma que não estrago a refeição a ninguém, gostava que parassem de me chatear. Se sou menos sensível aos peixes, isso é uma questão minha. Posso procurar justificá-lo com a diferente complexidade do sistema nervoso das duas classes, com a minha maior proximidade aos mamíferos (o que deixaria de fora os frangos e os patos, mas talvez seja por isso que tanta gente insiste em convencer-me que “frango não é bem carne”) ou pode ser que o meu paladar tenha, simplesmente, mais dificuldade em renunciar ao prazer de uma dourada grelhada. Não sei. Mas sei que não tenho que ser atacada por, a ver de terceiros, não estar a agir de uma maneira preta ou branca - aquelas duas que consideram aceitáveis.

Quem estiver mais interessado no assunto pode sempre espreitar o site da PETA (aconselho que vejam o video na página princial).


p.s. - Parabéns à SemNexo!!! Qualquer dia está uma senhora! :D

03/04/08

El amor en los tiempos del cólera

Fui ver e gostei. Mesmo em filme, o senhor tem pormenores deliciosos.

02/04/08

o BA de outrora

Logo da primeira vez, fizémo-nos ao Bairro Alto. Teria quinze anos, mas dos pouco vividos, dados fundamentalmente às crises existenciais. O Bairro não era para mim mais do que um nome. Uma ideia difusa.

O carro encostou junto ao miradouro de São Pedro de Alcântara para nos deixar sair. Assim que pisei o asfalto e olhei em volta, percebi que não conhecia a minha própria cidade. A praça borbulhava de gente, os batuques dos djembés elevavam-se no ar e, ao fundo, as luzinhas de Lisboa faziam vezes de moldura. Sentia-se a energia como um estalo na cara. Estava uma noite quente, cheia de cheiros. “Aqueles ali estão a fumar ganza” sussurrou-me a amiga, forçando um adolescentíssimo ar blazé. Inspirei mais profundamente. Ganza… Esperava qualquer coisa agressiva, mais de acordo com os avisos de pânico que tendiam a acompanhar o tema. Pelo contrário, parecia-me adocicado e nem sequer desagradável. Mas era o ritmo das percussões, isso sim, que unia a montanha de gente que ali se reunia. Uns rodavam fitinhas no ar, praticavam malabarismos amadores, outros ajoelhavam-se em cima dos instrumentos, frenéticos, criando grandes círculos sinfónicos. Pum, pum, pum, pum… Por momentos deixei-me estar, hipnotizada.

Depois atravessámos a rua e penetrámos as ruelas desconhecidas. Espaços apertados, construções em tanto diferentes daquelas a que estava habituada! As pessoas sentavam-se nos passeios e conversavam animadas. Lembro-me claramente das Dr Martens, essas botifarras tão noventa, desfilarem diante dos meus olhos em cores várias. Isso e os eternos All Star - desde que devidamente rotos e emporcalhados. Era a malta do grunge, os fiéis seguidores de Pearl Jam, para quem o Nirvana, mais do que a superação das ilusões desta vida, era o veículo de Cobain para o mundo. Também eu tinha um grande fraco por “Smells like teen spirit” ou “Oceans” e me sentia encaixar nessa onda de neura.


Rua acima, rua abaixo e dei por mim a jogar snooker num sítio com ar tascoso. O cérebro ia registando tudo como se quisesse garantir que não me enganava no protocolo a cumprir nas vezes seguintes: começar a noite num salão de jogos, check!

Depois seguimos os nossos chaperones até um bar com paredes amarelas e espelhos pendurados. Lá fora o fumo, a conversa, os risos. E dentro algum sossego, música ambiente, esse amarelo quente que anos mais tarde acabaria por conseguir espetar na parede do quarto... Tudo novidades a absorver mas, ao mesmo tempo, como que saído de um sonho de infância - quase em câmara lenta.

Foi então que, de volta à rua, de repente, no meio das sombras daquela envolvência estranha e boa, ouvimos um barulho muito forte. Em questão de segundos e sem que nos déssemos conta, metade das pessoas corria rua abaixo e a outra metade, na qual nos incluíamos, agachava-se atrás dos carros. É que na altura ainda o trânsito circulava no Bairro Alto e ao longo das ruas os carros estacionados criavam refúgios de todo o tipo. Não sei bem como, portanto, vi-me escondida atrás de um deles. Espreitei através do vidro e avistei um homem de barba por fazer e camisola de alças à porta de um dos prédios, de pistola em punho. Alguém lhe gritou de longe para se acalmar e o resultado foi mais dois tiros para o ar, bem ao jeito do faroeste. Um autêntico Clint Eastwood. Que aventura! Nunca mais me esqueci dessa noite. Assim que o homem voltou a entrar no prédio a minha amiga puxou-me pela mão e corremos rua abaixo com o coração aos pulos. Então isto é sair à noite!, pensei. Estava um bocadinho longe da verdade, mas nunca me poderia vir a queixar de falta de emoção nessa estreia.

À saída, perto do ponto de encontro onde nos iriam buscar, passámos por um bar que era também uma biblioteca. Que bizarra e maravilhosa ideia! Pelo lado de fora das vidraças vi pela primeira vez esses intelectuais de cabelo seboso, oculinhos redondos e nuvens de fumo por cima da cabeça. A toda a volta estantes com livros que as pessoas iam MESMO buscar para ler. Quando puder decidir sozinha onde quero ir, é aqui que venho! pensei. Mais tarde descobri que nunca se decide verdadeiramente sozinho...

09/03/08

já está

Ao fim de algumas tentativas, finalmente consegui comprar o passe do metro. Ao primeiro dia do mês as filas são tenebrosas. Ao segundo não melhoram grande coisa. Ao terceiro lá se atinge o guichet, mas apenas para ficar a saber que na estação em que nos encontramos os cartões demoram dez dias no forno. Se os quisermos pedir com urgência teremos que nos dirigir a outro local, onde almas mais expeditas tratam do assunto de um dia para o outro, mediante o pagamento de dez euros. No acto da entrega arrotam-se mais dezoito euros e meio, que é o valor do passe propriamente dito. Fácil…

Enfim, interessa é que estou a gostar de frequentar o metro. Pena que seja subterrâneo e escuro, mas força a caminhar alguns minutos logo pela manhã, o que me faz sentir melhor do que a entrada directa no carro. Também gosto de olhar os meus companheiros de viagem. A maioria é feia e isso encanta-me particularmente. Percorro quatro estações, para lá e para cá, atenta aos aspectos negativos desses corpos alheios. As assimetrias. As borbulhas. Os dentes tortos e a gordura a mais. Uma imensidão de gente que se cruza comigo diariamente e que não tem nada a ver com as imagens de “normalidade” que trago decalcadas no cérebro. Uma pessoa sente-se melhor num mundo imperfeito.

07/03/08

estou em falta quanto ao inquérito

Parece que 55% dos 20 votantes concorda comigo: ser trocad@ por um elemento do outro sexo não custaria tanto. A mulher do Heith Ledger não ficou assim muito contente com a coboiada, diga-se. Mas pronto, também arranjou logo novo gajo. Amigos dizem-me: “por experiência, sei que é a mesma coisa”. Eu como não sei, fico-me pelo acho. E afinal só 4 pessoas entenderam ser pior (talvez por terem menos hipóteses de reconciliação ou reconquista?...) uma situação deste tipo.

Em relação a este assunto, apetece-me ainda comentar o comentário da C.M. O termo traição é o que habitualmente se usa neste contexto. Não sei dizer se será o mais correcto. Talvez uma palavra tão gorda não se devesse aplicar ao que (com razão) chamas a simples de condição de ser humano. Mas sim… está relacionada com a mentira, com o engano. Só que no extremo - lá está - também não sei muito bem onde estabelecer os limites dessa dita mentira. Porque se o afecto é o que mais interessa, saber-se-á precisar o momento em que ele é transferido para outra pessoa? É difícil. E porque é que então se faz do sexo, normalmente, o ponto de honra? É porque as pressões evolutivas são lixadas (ouvem-se os sábios biólogos ao fundo).


A monogamia é uma espécie de contrato entre uma mulher que precisa de recursos e um homem que quer ter a certeza da paternidade. Atenção, isto não é para ler de um modo absoluto. Não me venham cá dizer “eu amo muito o meu marido e não sou uma cabra interesseira”! Acredito que não. Mas se uma associação (teoricamente) monogâmica não trouxesse vantagens às partes, não se tinha mantido ao longo do tempo. Temos que nos colocar nas cavernas por momentos. Somos um grupo social constituído por homens e mulheres e não existe qualquer estrutura familiar. O sexo é com quem mais agrada no momento. E então as fêmeas engravidam e começam a crescer em dificuldades de arranjar comida, que tem de ser apanhada. Se por acaso um dos casais estabeleceu uma ligação emocional, então o homem tenderá a ajudá-la, tanto nessa altura como quando o bébé nascer. Em comparação com as outras, cujas mães estão sozinhas, é provável que esta criança tenha mais probabilidades de sobreviver aos primeiros anos. O sucesso da cria faz com que o comportamento que ela herdou dos pais seja transmitido à geração seguinte. Vantagens evidentes. Mas olhemos para as estratégias do homem e da mulher. Ela só pode ter um filho por ano, o que lhe convém é mesmo que esteja ali um elemento mais forte que dê apoio ao longo do processo. A gravidez é um risco e se se mantiver viva e saudável provavelmente continuará a ter filhos. Mas e o homem? Ao homem interessa também que as suas crias tenham sucesso. Contribui no pré e pós-natal com recursos e apoio. Só que pode ser um esforço em vão, caso o filho não seja seu (quando digo em vão, refiro-me aos genes que não está a transmitir à geração seguinte, não à importância ou legitimidade de educar qualquer criança!). Portanto interessa imenso ao homem estar seguro da fidelidade SEXUAL da sua parceira. Fomos seleccionados assim, tal como os boxeurs para terem o focinho achatado ou os caniches para serem irritantes. E às mulheres o que interessa a fidelidade do companheiro? Interessa-lhes, e muito, que ele não vá desperdiçar os seus recursos com outro gajedo. Não convém muito. E não era coisa fácil, já que o fraco investimento representado por um minúsculo espermatozóide faria com que um homem pudesse ter filhos de variadíssimas mulheres ao mesmo tempo. Mesmo que se dedicasse só a um ou dois, com sorte algum dos outros sairia benzinho e a custo zero! Só que ao relacionar-se com várias fêmeas, podia gostar mais especialmente de alguma e trocar as voltas à primeira. Risco enorme para ela. Pensa-se que é este o motivo pelo qual, ainda hoje em dia, as mulheres são mais permissivas às relações extra-conjugais do parceiro (desde que ele não crie laços emocionais com a outra pessoa)do que os homens. E que, por outro lado, desenvolvam frequentemente ciúmes dos amigos dele, das pessoas a quem ele afectivamente se liga. O que não quer dizer que também elas não tenham relações extra-conjugais. Podia ficar a desenvolver isto eternamente… Vou só acrescentar uma coisinha: é que em dois extremos temos homens que são bons pais (o ideal para constituir família) e homens que têm bons genes (isto é, que são atraentes à generalidade das mulheres). Haverá homens que conseguem ser ambos – e esses são o melhor partido – e outros que não são nem uma coisa nem outra. Mas, no geral, vê-se muito um ou outro. Para as mulheres o cenário ideal é terem um bom pai em casa e darem umas voltas com os bons genes por fora. Ficam com filhos atraentes e bem tratados. Coisa que um homem, no papel de pai, não pode aceitar. E portanto, o melhor é manter as mulheres bem controladinhas. Enfim, isto nunca pára: vantagens de um lado, desvantagens do outro… Evolutivamente a guerra dos sexos é uma realidade.
Não somos, em definitivo, uma espécie monogâmica. Em primeiro lugar teríamos uma monogamia sequencial, já que mudamos de parceiros ao longo da vida. E depois é uma monogamia conveniente na cena social mas que, aqui e ali, resvala. É que pode ser que pegue. :) Também já li que as DST podem ter tido um papel importante a eliminar comportamentos promíscuos. Acredito que seja verdade, talvez num grande mix de variáveis significativas neste modelo. A religião, a religião… Essa. Ainda não a consegui entender de todo.

25/02/08

ontem, no S. Luiz


Mayra Andrade.

5 estrelas.

22/02/08

embrulhar o fio na meada

Vou atrasada já, o trânsito cede à chuva e atrasa-me o percurso até à Baixa. O dia não é dos melhores, a impaciência baila pelos cantos que conhece tão bem à casa, tanto porque passar a manhã em frente ao computador me faz doer as costas como porque os ataques de riso descontrolados de quem não tem culpa de ter catorze anos me impedem de explicar o que devo – no caso, a constituição e função do aparelho genital humano. Vou acelerando quando posso, maldizendo os semáforos que me contrariam e tentando, sinceramente, não atropelar almas inocentes. Revejo o dia que passou, faço o balanço, tento descontrair. Recordo o momento em que a criatura me perguntou, franzindo o sobrolho para o livro e com um ar muito enjoado: “cli... clítoris? ó S. também tenho que saber este?...” Ao que eu respondi que esse era o mais importante de saber, antes de me aperceber que era uma piada que não faria ali outra pessoa rir que não eu. A criatura olhou-me com espanto. O relógio, no entanto, disse-me não haver tempo para mais demoras. Agora, e apesar disso, vou atrasada! Mentalmente faço todo o percurso em antecipação, visualizo todas as ligações possíveis, a ver se chego à rua do Crucifixo a horas. Vou também ansiosa pela novidade. Por sorte, ainda antes de pensar no assunto, cai-me do céu um lugar para estacionar.

Subo as escadas de madeira e espanta-me como são largas. Nunca vi um edifício normal de habitação com um aspecto tão amplo, quatro pessoas subiriam lado a lado os degraus sem problema! Cheira a antigo, não propriamente mal. Não sei explicar porquê mas tudo tem um ar muito resistente e dá vontade de ficar simplesmente a olhar para as paredes.

Toco à porta. De imediato ouço o “clic” do trinco e encontro uma cara sorridente do outro lado. Depois de despir o casaco e deixar a mochila na entrada, à confiança, digo o meu nome ao balcão. O rapaz rabisca o papel que tem à frente, volta a sorrir, diz que está tudo. Dirijo-me para a sala à esquerda. Já começou. Dez cabeças viram-se para me fixar durante uns segundos e três dos seus donos começam a gesticular freneticamente, apontando-me os pés. Fico estática. Situação embaraçosa número um: entrar numa sala cheia de gente silenciosa e fazer com que as atenções se centrem em mim por não estar a cumprir um requisito. Que requisito? Os sapatos - lá acabo por perceber - têm que ficar à porta. Obedeço rapidamente e esgueiro-me depois para o primeiro lugar vago que encontro, com as meias (de bonecos!) a fazer-me deslizar no soalho. Sento-me entalada entre a parede e um amiguito qualquer, o que não me permite descolar os braços do tronco e se torna muito incómodo. A sala cheira a gente. Está calor a mais e não consigo evitar olhar a pilha de sapatos à porta. Já repararam como os sapatos têm muito pior aspecto fora dos pés? Deformados, tristes, os atacadores murchos e os interiores escuros a pedir distância.

O gajo virado para a audiência lá à frente fala suave, pausadamente, para um microfone. Senta-se em posição de lótus sobre um palanque de madeira profusamente decorado com imagens e panos e objectos cujo significado não entendo. A cada duas palavras dá três risadinhas. Tento não me fixar nisso, ouvir o que diz… o que diz ele? Fala dos momentos em que nos irritamos com os outros e no como isso é negativo para nós próprios. Fala sem grande conteúdo, se querem que vos diga. E, depois de uma banalidade qualquer, lá saca de novo da gargalhada arrastada (começo nesse momento a entender a ironia da situação em que me encontro). Gostava de poder explicar o tom com que o senhor fala, fazendo subir sempre a entoação na última sílaba da última palavra de cada frase, como se fizesse um relato futebolístico em câmara lenta. Mas não é fácil. Haveria que estar presente. É milimetricamente sempre igual, tal como se entoasse uma ladainha decorada ao longo de uma vida. O conteúdo perde-se. A impaciência força-me então a mudar de lugar mais para a frente, onde vou aterrar ao lado de um indiano bem mais antigo que eu. Incomoda-me que esteja descalço. Tudo me incomoda naquela sala. O rapaz da recepção entra nessa altura, colocando-se atrás de nós e, imagine-se!, não só respira ruidosamente (e eu pronta a bater em alguém), como ainda se ri também de cinco em cinco segundos, tal como o outro, com gargalhadas de sopro. Aguento, estóica que sou. Vou descontrair e vou sair daqui mais próximo de aceitar os outros! E vai de primeira meditação para “ficarmos todos mais receptivos”. Não corre mal porque é a do costume, embora o efeito não seja grande coisa. O da recepção decide então que tem fome. Enquanto vai lá fora o indiano sai também, deixando vago o lugar ao meu lado. Mesmo ali à mão de semear… Obviamente que o outro volta e despeja-se logo na cadeira a mastigar. A MASTIGAR!! Estou tão fora de mim que já vejo pintinhas verdes por todo o lado. Quanto mais me irrito, mais furiosa fico por estar furiosa e porque estou ali precisamente para aprender a não me irritar com as pessoas. Respiro fundo, cerro os maxilares, faço balançar os pés sem sapatos para trás e para a frente como fazem as crianças. Ele nunca mais acaba de mastigar. Nhac, nhac, nhac, nhac… O que raio será que tanto mastiga? Imagino-o a ir ainda pescar com a língua um pedacinho esquecido por triturar entre os dentes, a fazer um ar regalado e a continuar com orgulho a tarefa deglutidora. Quando é que… ai… já está?... não! Ainda não, só mais uns segundos… Finalmente. Um último nhac e acaba. Posso então tentar ouvir o que diz o senhor das barbas no microfone. Que para começar o ideal é pensarmos no quão gratos devemos estar à nossa mãe que, incrivelmente, nos deu tanto amor. “É realmente fantástico… uma pessoa… modificar a sua vida… os seus hábitos… sacrificar-se… por outro ser” (as reticências são mesmo as pausas após o elevar de tom da última sílaba). Só que eu hoje estou com outra veia activa e desatam a saltar-me ideias evolucionistas à mente. Não é nada fantástico, é que se não fosse assim não estávamos aqui hoje e ponto final. E logo me arrependo. Não S., pára. Agradecida, é para te sentires agradecida agora. Vá, um, dois, três: agradecida. Não? Outra vez: ai que agradecida, agradecida profundamente me sinto!! Não, não parece estar a funcionar. Estou chateada, isso sim, com aquilo tudo, aquelas pessoas que vão na onda e abanam afirmativamente a cabeça. Penso em ir-me embora. Aguento mais um pouco. E então o clímax surge inesperado! “Nós temos muitas vidas… podemos achar que não… podemos dizer que não nos recordamos de outras vidas… mas… também não nos recordamos do que almoçámos ontem… na verdade… não recordamos quase nada…” Já ouviram argumento mais fantástico que este? Eu não me lembro de algum dia ter dado a volta ao mundo, mas deve ter acontecido porque, na verdade, eu não me lembro de quase nada da minha vida! Por um lado quero vir-me embora, por outro ganho curiosidade em saber onde vai dar aquele caminho de sabedoria. E ele acaba aqui: “se todos temos muitas vidas… então todos já fomos mães uns dos outros… e devemos ver… cada pessoa com que nos cruzamos… como nossa mãe… e dedicar-lhe… todo o nosso agradecimento…”

E assim foi que voltei para casa uma hora depois. Impaciente.

28/01/08

coisas várias

Ao entrar no espaço comum à loja do Benfica e ao Media Markt cruzo-me com uma senhora que sai, com a filha pela mão. Criatura de dois anos, mais coisa menos coisa. Noto que à medida que outros adultos passam por elas sorriem muito à criança e, portanto, presto-lhe mais atenção. Sorrio também ao aproximar-me. Ela olha para mim, os olhos brilham de excitação, aponta-me o dedo gorducho e exclama para a mãe: “Pópó!”

(Pópó?...)

Deito uma rápida mirada à imagem que projecto no vidro da entrada. Assim de longe não me faz lembrar os contornos de um veículo automóvel. Mas a miúda lá saberá. E pelos vistos a mãe compreende, que ainda a consigo ouvir a rir enquanto me afasto: “sim, é popó”, responde.

(Sou pópó?!)

___________________________________________________________

Confesso ao capitalista todo-poderoso
e a vós irmãos,
que comprei muitas vezes
com dinheiro vivo, cheques,
multibanco e mesmo a crédito
por minha culpa,
minha tão grande culpa…


Fui buscar o meu computador agonizante e comprei uma mochila para acomodar a Priscila como uma princesa. Andava a pensar nisso há meses e hoje lá entreguei o cartão do BES à menina da caixa. Embalada, ainda parei para trazer para casa umas revistas. Depois foi um pastel de nata totalmente desnecessário, fora a sempre dolorosa paragem na bomba de gasolina… Isto foi hoje. Escusado será falar dos dias em que se “passeia” a ver lojas e se é atraído à aquisição de objectos sem qualquer utilidade e que tendem a amontoar-se pelos cantos - numa casa em que o plano de ordenamento já de si não é o mais eficaz. Frequentemente ponho-me a olhar para essa quinquilharia e a tentar entender… o que é que nos leva a um consumo tão despropositado? É giro, quero! A não-sei-quantas tem, quero! Está em saldo, quero! Aliás: Está em saldo? Levo dois!!
___________________________________________________________

E morreu o Heath Ledger, essa tão agradável combinação de atributos físicos que nos fazia ver e rever “A Knight’s Tale”, sempre que passava na TVI. Um australiano alto e espadaúdo, assim pela minha idade. Foi encontrado morto no apartamento de uma amiga e mais não se adianta.

A tragédia fez com que o seu filme mais mediático, o “Brokeback Mountain”, que lhe valeu a nomeação para um Óscar, fosse exibido este sábado na televisão. Durante o filme, e a propósito, comentei com uma amiga que me parecia muito mais fácil tolerar uma traição daquelas, em que o amante é também um homem, do que ser trocada por outra mulher. Coisa com que ela concordou, mas surpreendida. É que, segundo disse, era a primeira pessoa que ouvia defender tal ponto de vista. Ora isso parece-me estranhíssimo! Que outra mulher tome o meu lugar, soa a substituição. Que o faça um homem, enfim, não soa a nada porque, na verdade, está fora da minha liga. É como comparar um bolo de cenoura a um cozido à portuguesa. Não tem nada a ver.

Por curiosidade transformei esta dúvida em sondagem e, já agora, vamos saber o que acha o pessoal… (comentem também por extenso se quiserem, que é mais giro)

12/01/08

Reveillón made in UK - II

Entrámos então numa discoteca espaçosa, de dois pisos, onde havia muita gente mas nenhum fumo (estágio de habituação à nova lei do tabaco por aqui). Desde logo o calor se fez sentir dado que os tais cachecóis, gorros, luvas e casacos não tinham por onde ser úteis num sítio daqueles. Como ingrediente extra acrescentem-se collants debaixo das calças!! (uma ideia brilhante à saída do aeroporto pela manhã, mas já não tão brilhante nesse momento…)

O desconforto era algum, no entanto a observação comportamental valeria a pena. Elas, matronas sem vergonha, de saias bem mini e decotes transbordantes, abanavam-se a valer. Eles, tanto ou mais repulsivos, idem. Entre cambaleantes e enrolados uns nos outros como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, nada mais parecia ter importância. O JP levou logo à entrada com um beijo na boca de uma avantajada desconhecida. A SemNexo e a ME, corajosas, fizeram-se à pista e suportaram os apalpões de toda uma vida. Eu aventurei-me apenas na casa-de-banho, onde os corpos meio caídos levaram os seguranças a fazer uma espécie de rusga. PUM! PUM! PUM! Are you allright? (ya, ya, desamparem-me a loja!). Quando saí, vi que levavam em braços uma loira que, pelos vistos, não estava nada allright. Imagine-se tudo isto com o chão permanentemente escorregadio por causa das bebidas entornadas. Então disse à SemNexo quero-me ir embora! e, para meu espanto, ela concordou imediatamente. Lá fomos descendo as escadas em direcção à saída quando a porta ficou bloqueada por uma bifa bêbeda (redundância, bem sei) que com algum histerismo gritava com o rapaz da frente. Do alto dos degraus hesitámos em forçar a passagem. E de repente, não percebi bem como, meteu-se outro gajo e começou tudo a empurrar-se e a gritar e eu a pensar “f... logo agora que convenci alguém a ir lá para fora, não conseguimos sair!” Mas foi de pouca dura, que apareceram de novo os gorilas da security e obrigaram cada um a ir à sua vidinha. Lá fora chuviscos bons.

Pode-se dizer que a segunda discoteca tentada se revelou de qualidade bem superior, talvez porque fosse frequentada, na maioria, por não-escoceses-não-ingleses. Africanos, indianos, paquistaneses e afins encaixavam-se na pista com mais lucidez. Mas eu, que fora de carro de Lisboa para Faro na véspera, apanhara uma seca de 3h à espera de um avião em cujo nariz se tinha espetado uma ave (hum, será que o facto do aeroporto ter sido construído em cima da ria tem alguma coisa a ver com o assunto?...), viajara outro tanto naquele conforto low-cost para chegar a Glasgow às duas da manhã, fazer uma caminha jeitosa nos bancos do aeroporto, dormir cerca de três horas com uma gravação a gritar-me aos ouvidos de meia em meia-hora que o aeroporto não se responsabilizava por objectos perdidos e que estes seriam, sem meias medidas, DESTRUÍDOS (juro que ela intensificava esta parte com nítido gozo! ou então era só a minha mente sádica) e que, por fim, apanhara uma camioneta de Glasgow para Aberdeen, onde cheguei ao fim de quatro horas, eu estava, portanto, nesse preciso momento na discoteca, um bocado amassada. E a desejar aquela horizontalidade amiga que quando finalmente veio foi uma verdadeira bênção. É que já não tenho idade para estas coisas (isto e patinar no Campo Grande)!

Um dia volvido, lá fomos ao ansiado passeio. Loch Ness, como não podia deixar de ser, dormida em Fort Williams, uma vilazita onde os bares fechavam à meia-noite e quase me rebentaram os pulmões a jogar ao toca-e-foge e, no dia seguinte a termos gravado o meu novo toque no telemóvel (uma alusão a Juan Carlos e à sua amizade por Hugo Chavéz), partimos para a ilha de Skye, nas Highlands.

E confesso que aqui me apetece parar o relato. Guardar esse sítio bom só para quem foi. Porque criar o ridículo é tão fácil, mas fazer jus ao que é positivo e marcante tem muito mais que se lhe diga... Skye é uma ilha mesmo juntinha à mainland (note-se a terminologia emigra) que se estende em planícies altas com vista para o mar e para as outras ilhotas em volta. Aves é ao pontapé. Neve nos pontos mais altos. Focas que não chegámos a ver e veados que passaram por nós majestosamente. Praias de cascalho escuro que visitámos com pulinhos friorentos. Pequenas quedas de água nas zonas em que as pastagens inclinam e o declive acaba por vencer. Muito wild, muito giro.
Calhou também ficarmos hospedados num sítio especial, com anfitriões à maneira e em ambiente caseiro. Calhou termos feito uma gloriosa noite de Pictionary em que o gajedo (em desvantagem numérica!) arrasou com a testosterona presente. E calhou termos sido campeões internacionais de bowling virtual e brindados com bem-disposta conversa escocesa. Foi bom, sim senhor.

E por aqui me fico. :)

10/01/08

Reveillón made in UK - I

Uma pessoa vai e chega ao Reino Unido, aquele da Elisabete dos dentes amarelos, sabem? Aterra-se em Glasgow - numa região chamada Escócia que, ao que consta, afinal não é bem da tal senhora porque o reino não é tão unido quanto isso - e não é preciso muito tempo para se perceber que, a depender da oferta gastronómica local, se avizinham valentes dias de fomeca. Para pequeno-almoço é difícil de avistar para além de salsichas e sanduíches cheias de maionese. A velha do balcão fixa-nos com olhos educadamente duros. O que comer, o que comer?... No fim lá surge um scone embalado, pede-se a cup of tea e acaba por salvar-se uma manhã. Mas a verdade é que não haveria que comer muito fora porque onde há casa de tuga, sempre se cozinha um esparguete com atum ou um arroz com ovos mexidos. Para a passagem de ano, e directamente do Feijó, chegavam também pastéis de bacalhau e rissóis de camarão. Tudo sob controlo.

Aberdeen é uma cidade cinzenta, começando pelo alcatrão e pelos passeios neutros, subindo ao longo das fachadas escuras e terminando lá no alto, naquele céu de chuvinha molha-tolos. Enchouriçados que andávamos para o frio, entrar algures para tomar um valioso café (valioso porque 2 ou 3 euros sempre custam a ganhar) implicava em todas as ocasiões um strip aborrecido. Luvas, gorro, cachecol, blusão… Mas pronto, faz parte.

De referir (e fundamental) temos a hospitalidade de ME, Cacá e Juan, cujo apartamento atingiu lotação considerável, tendo sido oferecida às meninas uma cama inesperada e muito confortável. É uma das alturas em que se agradece ter pipi e haver essas réstias de cavalheirismo que normalmente detestamos por condescendentes e paternalistas. Não foi o caso. E se fosse, teria dormido numa cama fofinha na mesma. :)

Adiante. Importa mesmo é registar a folia da noite escocesa! Ora os bretões, como manda o estereótipo, são criaturas secas que insistem em manter certo distanciamento do que não bate certo com as suas regras. Passe-se a generalização, por favor, que já se sabe para que existem as excepções. O panorama é mais ou menos este. Rígidos, educados, aparentemente pacientes, de poucos sorrisos, eficazes e, dá a sensação, conformados à norma. Mas atenção, tudo isto apenas na condição sóbria. Existe a outra… A partir do momento em que o álcool lhes entra no sangue, o mundo vira e logo vemos bifolândia a bombar! As ruas ficam cheias de lixo: garrafas vazias, copos, restos de comida, coisas meio esmagadas e não identificáveis, pocinhas de vómito, you name it. E os carros da limpeza prontamente a passar, a lavar, a esconder essa faceta menos controlada do povo. Bebedolas, muito bebedolas…

(continuo amanhã)