07/08/12

Há coisas sobre o meu avô que apenas o meu tio sabe. Outras que só a minha mãe recorda. E haverá aquelas histórias dele que vivem em mim e em mais ninguém – talvez nem nele próprio. Uma pessoa desmembra-se, assim, em várias. A pessoa não é isso, essas partes desconexas, filtradas, não... Mas são elas as marcas de onde pisou. E, ao contrário do que se possa pensar, o rasto não serve só para identificar uma passagem: ele é também um caminho em si. Um caminho novo, que leva ao outro verdadeiro. Nesse outro, julgo, encontrar-nos-emos todos mais cedo ou mais tarde. E compreenderemos que nada é tão real como a unidade.
Poderemos fazê-lo antes de morrer? Aguentaremos o peso da paz? Brilham os olhos das crianças. Nada tem limites.

17/03/12

(...)

Meter-se dentro de alguma coisa fazendo das palavras recurso é ingrato. Contar de lugares, de cheiros, de olhares e do que se nos mete na pele no momento em que o vivemos deixa não só a certeza da parcialidade das coisas, mas também um pequeno vazio dentro, esse da verdade que acabámos de assassinar. Morta para sempre. O relato é tão falaz como a memória.

13/03/12

ideias de outro lado

Pode viver-se de forma contínua, pode viver-se em fotografias. Um momento aqui, outro ali. Pedaços congelados de realidades incompletas que formam memórias pensadas. A memória profunda é outra, não se pensa. Memória daquilo que somos, do som eterno da vibração própria. Essa é contínua, flui sem cessar, como o sangue que corre e corre e corre...