25/04/08

resumo de uma janta de gajas


A emigra do norte aparece à bifa: chinelo no pé e calores imensos. A tarde passada na baixa e no chiado - como manda a praxe - e eu tenho as minhas dúvidas de que não se tenha sentado na Brasileira ao lado do Pessoa a tirar auto-retratos para depois mostrar lá no UK. Desejosa que vem da boa pastelaria portuguesa, parte substancial do tempo é passada a falar de pastéis de Belém, duchaises e bolas de berlim. Podia-lhe dar para pior, é verdade.

Uma das já poucas não-emigras, acha por bem despejar o conteúdo da carteira em cima da mesa e chega-se à conclusão que temos um caso de MacGyverismo entre nós. Algo assustador. Fita-cola, lápis nunca antes vistos tão delgados, chaves para aparafusar móveis, fita-métrica… Não lhe vejo o canivete suíço, mas não tenho dúvidas quanto à sua existência.

A emigra do sul materializa-se muy salerosa, como de costume. O cabelo novo, a boa disposição habitual e uns sapatinhos de salto que embirram com a calçada lisboeta a noite inteira. Vá-se lá entender! Bairro alto acima, bairro alto abaixo, e os sapatos com vida própria, a insistirem fazer nicho dos buracos no chão!

E pronto, ao som dos Gipsy Kings e um bocado abatido, o Júlio lá serve as margueritas. Não sei se é a crise económica, se é coisa de bola, mas o homem parece preocupado. Lá fora uma montanha de gente, porque passa da meia-noite e já é 25 de Abril. Ainda se alcança fogo-de-artifício lá para os lados do Seixal. Tiramos fotografias parvas com os óculos-de-sol gigantes (e fashion, obviamente) da emigra do norte.

No fim a escuteira vem-nos buscar, com a mochila às costas. Como boa alma que é, caridosa, leva-nos no seu carro até às nossas próprias viaturas. Ainda sai do lugar do condutor para me vir abrir a porta de trás! Um mimo.

Para acabar, chego à minha rua e noto a rega do jardim a fazer um repuxo enorme. Vou espreitar. Os mendigos deitam-se nos bancos com caixas de cartão por cima, mas não evitam levar com os salpicos. Um deles levanta-se e ameaça com o punho o aspersor. Sorrio. Ele vira-se para trás e lança-me um olhar sanguinário. Medo! Meto o rabinho entre as pernas e vou para casa.

5 comentários:

Inês disse...

Uma seca, uma seca.
Alias, estou a pensar comecar a arranjar desculpas esfarrapadas para me safar destes ditos convivios.
Com tanta novela gira para ver na tv, tive que ser arrastada para as zonas imorais de lisboa.

OOOOOOOOOOOH, VOLTEM SEMPRE E MUITAS VEZES.

Ja quase que tenho um nicho para vos receber!

Bjuu

Anónimo disse...

Chinelinho...hum...tou mesmo a ver o estilo..oculo da moda e tal.

MacGyverismo...quem sera? Mas julgo que uma vez em tempos fizemos uma "limpeza" semelhante a mala ou a carteira dela e ate encontramos bilhetes de transportes usados, guardados propositamente..e mais papeis, e papelinhos com notas escritas...eu sei la, havia de tudo!

Sapatinho de salto, na nossa sulista, pq sera que isso nao me espanta? E bom ver que ha coisas que nunca mudam...

Obrigada pelo relato, transportou-me por breves momentos na noite lisboeta cm vcs.

Ah! E viva a liberdade! Apesar de, na latitude 57N ser um dia como os outros, e necessario referir a importancia desde dia para toda a tugolandia:)

Bjo
ME

Anónimo disse...

Oh pa... Ate parece que sou uma gorda com a mania das grandezas! Ups, e mesmo verdade!!! NOT!
Adorei as babes, sempre ultra-fantasticas. Sentiu-se a falta da emigra-mais-a-Norte bem lembrada com palavras silenciosas e mao sobre o peito ao som de de "Tenho uma lagrima no canto do olho, tenho..".
Beijinhooooooooo
Ana Q

sara disse...

Mais que isso Ana! Não te lembras que fizemos até uma breve referência ao "culu culu culu"? Para que saibas ME, para que saibas!

Anónimo disse...

Cululu, Ainise, Ana War, bar da margaritas no bairro (na noite de entrega da minha tese...), enfim...uma serie de situacoes que mereciam ser panteteadas. :)

De qq forma, e importante referir que estas ditas "situacoes" so sao relevantes pq vcs lhe dao essa relevancia (passo a redundancia).

Tb tenho mtas saudades...

Bjo ME