29/11/07

mais de ser humano

Eu acho (e notem o peso destas duas palavritas juntas, apenas por prepararem uma emissão de opinião desta ilustre alma que vos escreve), acho mesmo, que sobrevalorizamos muito a racionalidade.

No início, era a emoção! – e assim devia começar toda uma bíblia, porque não? No início do que quer que seja, bate sempre a emoção. Qualquer uma. Ânimo ao receber uma boa notícia. Desagrado com um cheiro menos simpático. Medo do cão do vizinho. Encanto em frente a uns olhos perfeitos. Nervo miudinho na véspera de um exame. Tranquilidade ao entender que tudo acaba bem. No mínimo temos a dicotomia bom/mau a indicar um caminho. Gosto ou não gosto. Uma arma eficaz para as decisões rápidas. E depois lá entra o cognos ‘alto lá, alto lá, o que é que se passa aqui? Eu é que lidero, nada dessas manias primitivas de se precipitar! Os sentimentos têm um moootivo!’. E pronto, que somos bichos pensantes, logo que forçosamente, por a+b, ou por a+b+c, existem regras firmes e invisíveis para as emoções também. O que se deve ou não sentir. Aquilo que se aceita, muito bem, com palmadinha nas costas e aquilo que é repreensível (não tens vergonha de ser tão ganancioso?) e, até, moralmente inaceitável. Não sei muito bem o que significa a moral, mas hei-de investigar.

Suponho que tudo tenha motivos, sim. Mesmo as emoções. A questão é que elas não são controláveis. Posso sempre drunfar-me antes do exame, mas não é uma solução a longo prazo, nem evita que me sinta nervosa sempre que um novo aparece. Posso ocultar a inveja que sinto do amigo que conseguiu comprar casa ou posso mesmo até transformar esse sentimento num de alegria partilhada, que até ajuda a descomprimir. Posso morder a raiva que sinto quando me acordam sem motivo. Posso também mascarar a desilusão de receber um presente inútil ou, sei lá, a tristeza de uma crítica lá onde dói. O que quero sublinhar é que podemos ocultar, mas não deixamos de o sentir. Entendo que não se possa agir sempre em conformidade, que redes sociais são palcos altamente instáveis... Mas porque gastamos tanta energia a fingir que não somos feitos de emoções e, talvez até pior, a convencer-nos a nós próprios que as coisas não nos afectam?

Just a thought.

PS1 - Ainda não me livrei da coisa, mas já pouco falta.
PS2 - Obrigada pelos comentários, que vou sempre adorando ler. :)

23/11/07

diz que estamos quase naquela data

Lá vamos nós outra vez... Luzinhas, compras, música irritante por todo o lado, mais compras, e luzinhas, pessoas com sacos - e já mencionei as luzinhas em todo o lado? - outras pessoas com compras, pessoas em stress, pais natais a tocar musiquinha irritante... E daqui a nada começa o "se não nos virmos, Bom Natal" e o "muitas prendas no sapatinho". Aaahhhhh! Insuportável. Todos os anos decido que já basta, que é desta que passo por cima do acontecimento. Só que depois, como boa ovelha, deixo-me ir com o rebanho. Dia 24 à tarde lá faço umas corridas para que à noite tudo seja como esperado. O jantar é fixe, podíamos até combinar um dia para trocar presentes. Mas porquê o suplício da época do senhor gordo vestido de encarnado? Detesto ver tudo a piscar, todas essas mini-lâmpadas intermitentes que são uma verdadeira tortura visual. Odeio que sejamos todos iguais em toda a parte do mundo, não posso com a descaracterização. E irrita-me essa obrigação de comprar coisas só porque sim.

Sei que há muitos aí fora que são tão natalícios como eu... Então, para animar, deixo-vos o senhor Eddie Izzard. Cinco estrelas. Quase vale a pena que haja Natal só para o ver gozar!

17/11/07

fecharam as urnas!

Atingimos 28 votos, o que é quase 30 e, assim sendo, fico contentita. A análise dos resultados bastará ser gráfica, porque a coisa é simples... Observe-se a figura. “Prazer mútuo” bate aos pontos as restantes alternativas votadas, quer por machos, quer por fêmeas. Devo por isto depreender que existe uma preocupação com o próximo? Ou será que do acto se retira verdadeiro prazer? Altruismo ou egoísmo mascarado? (aprendam, é assim que os investigadores arranjam projecto atrás de projecto: logo que têm os resultados de um qualquer assunto, desatam a fazer mais perguntas e a pedir “ó faxavori, oriente aí mais um financiamentozeco para eu tirar esta dúvida chata que não me deixa dormir!”).


Falemos de oralidades. Ainda esta noite contava à caríssima SemNexo que o hábito símio de beijar na boca tem como base evolutiva a passagem de comida mastigada da progenitora para a cria. Como ela muito bem observou, dantes não havia Minipimer para ninguém! Então pensa-se que, à semelhança do que acontece ainda com os chimpanzés, as mães mastigavam a comida que depois estendiam no lábio inferior para a boca dos filhotes. Daí que um beijo seja, além do mais, um símbolo de confiança – não só se trocam fluidos e transmitem microorganismos como, segundo o senhor Franz de Waal, a boca é das zonas mais sensíveis que temos.


Também o sexo oral, até há relativamente poucos anos considerado uma invenção da máquina sexual humana, tem o seu match nos bonobos (para quem não conhece, uma espécie do género Pan – tal como os chimpanzés – que só se descobriu em 1929). Da mesma forma que com os chimpanzés partilhamos uma sistema de organização político e patriarcal, com os bonobos partilhamos um profundo "interesse" no sexo. É provável que o facto de sermos também os primatas que exibem sexo oral esteja relacionado com isto. (nota: últimas frases modificadas após pertinente comentário de joãopestana, preocupado que estava o colega (e com razão) com a transmissão de informação incorrecta ao meu "leque" de leitores)

Há tanto e tanto para dizer sobre este assunto... Mas como não estou para grandes pesquisas às cinco da manhã, tentarei abreviar o assunto. Duas mulheres responderam que só gostam de ser receptoras (o que até esperava que fosse mais vezes opção, por ambos os sexos) e um homem e uma mulher disseram que só gostam de fazer. Só gostam de fazer!! Haja diversidade. Por junto, não encontro nestas respostas grandes diferenças entre os sexos. Estavam à espera disto? Eu sei que a amostra é minúscula, mas mesmo assim tenho curiosidade em saber o que pensam. É que fui ouvindo comentários durante estes dias que me deixaram a sensação que cada um tem ideias bem marcadas: “ah, eles é assim!”, “não, não, elas é que tal e coiso...”, ou então “está-se mesmo a ver que vai dar isto”.

No final parece que tudo se rende do mesmo modo que o vizinho do lado, autor do inquérito, que acabou de escrever a comemoração do post nº69!

13/11/07

o que faz falta é animar a malta!

Do que eu gosto mesmo é que me digam – com aquele ar grave que rebenta ciência pelas costuras –, que “já está na altura de arranjar um namorado e assentar”. Porque pelos vistos existem alturas e parece que esta é a altura. Ou pelos menos uma das alturas. Verifica-se também que este imperativo é independente da pessoa escolhida para o efeito, porque pessoas, por amor da Santa!, é o que não falta neste mundo. Qualquer atitude em contrário é prova da minha má-vontade ou de uma teimosia estapafúrdia que só almeja estragar os planos bem-intencionados dessas altruistas almas que por mim sofrem.

Ora bem... Vou descrever então um episódio passado (onde, onde, quem adivinha?) numa bela boda que ocorreu há coisa de mês e pouco. Lá estava eu arrumadinha como manda o protocolo (para que não me acusem de ser do contra) quando chegam duas tias, aquelas-cujos-nomes-não-podem-nesta-crónica-ser-pronunciados, apoiando a querida avó e, a páginas tantas, não decidem nada melhor do que bloquear-me a passagem. Tipo operação stop. Aproxima-se logo a primeira, muito coladinha à minha cara e inspecciona-me de alto a baixo, dengosa: ai a minha sobrinha de vestido, está tããããão liiiiinda! E, vou eu, espeto o sorriso amarelo nº24 (ninguém nota, tenho-os todos treinados). Julgo escapar-me, mas devo estar é louca. Entra a segunda em cena, agarra-me firme no braço – como se para garantir que não me escapo – e segue com uma ladainha que nunca na vida pensei ouvir (êta minina ingênua!): Então e de moço como estamos? Olha que está na tua vez!, diz enquanto aponta com o nariz para os noivos que dançam na pista. E eu juro que lhe vejo uma faíscazinha a saltar dos olhos, qualquer coisa entre o gozo e o ódio que não consigo definir, mas que definitivamente me assusta. Vacilo. Na minha vez?? Não sabia que havia vezes... Ninguém me avisou que havia VEZES!! Como é que hei-de fazer isto agora, tão em cima da hora?? Balbucio qualquer coisa sem nexo, pois que fui apanhada de surpresa. Volta a primeira à carga: não te despaches não, que depois acontece-te como à A. porque as mulheres têm prazo de validade e como já lhe disse o médico esta brincadeira de esperar até depois dos trinta para ter meninos depois dá no que dá... E eu aqui penso seriamente em torcer o braço da que ainda me segura, fazer uma placagem lixada à primeira, resgatar a avó que me olha com alguma piedade e, com a justiça que me cabe, deitar por terra todo o Mal. Mas depois contenho-me. Com alguma dificuldade, e depois de engolir várias vezes em seco, consigo finalmente recolocar o sorriso. Desta vez o 37, mais apropriado para situações de choque pós-traumático. Segue-se um breve silêncio, no qual me sinto bastante incomodada. Os quatro olhos continuam a fixar-me com uma certa gula. Gula de fofocas, suponho, que não vejo do que mais possa ser. Ou gula de razão, que é o que quase toda a gente quer ter. Não sei. No fim, em vez de resgatar eu a avó, salva-me ela a mim, afastando com serena autoridade as duas graciosas e deixando-me com um: deixe lá filha, não ligue às suas tias, ainda é tão novinha, tem tempo para tudo o que lhe apetecer. E eu “uffff” (que para mim a voz da terceira idade é quase a voz da Deusa).

Estive quase, quase, quase para me virar para as duas e deitar a língua de fora, como se tivesse cinco anos (porque era tão giro quando tinhamos cinco anos!). Não o fiz, mas foi como se tivesse feito. Minhas caras, aqui não se vende fiado nem se aceitam encomendas, capiche?

10/11/07

às cinco da manhã

Chateia-me poder morrer a qualquer instante. Assim, pumba! Uma pessoa vai muito bem na sua vidinha e, sem mais nem menos, zás catrapás. Foi-se. E depois? Depois... Nem sequer é o depois que me apoquenta, é tudo aquilo que fica por fazer. Tudo o que nunca se experimentou. O que não se disse. Todas as gargalhadas por soltar e as lágrimas por ocultar. Todos os nervos, todas as dores, todos os achaques e compaixões. Todos os dias que passam de mansinho e os outros que disparam que nem loucos. Todos os cheiros e mais os olhares. Todos os comboios que se perdem sem sequer se correr atrás. Todo o chocolate por comer e os filhos por ter. Todas as letras que se esfumam e os sonhos que morrem sem chegar a ser. Todos aqueles que ficam e que continuam, porque sim. Só porque sim. Tudo aquilo que ainda será na minha ausência.

Li um dia, algures (como sempre), que já não sabemos viver com a morte. Que fazemos por esquecê-la por ser coisa de velhos – a que um dia chegaremos mas com calma que não há pressa. Que os nossos ritos são rápidos, a memória é curta e o lema é andar para a frente. Seguir com a vida, percebem? Nunca tinha pensado nisto. Dantes confrontava-se a morte cruamente, as crianças morriam, os jovens morriam, as mulheres morriam, os homens também morriam e, quem tivesse a sorte de chegar a velho, sorria sem dentes e agradecia a Deus. Agora não queremos saber do assunto (de que nos serve saber do assunto?) mas, na verdade, todos continuaremos a morrer. É uma questão de tempo. E o tempo, ui, o tempo... Se fosse peixe era uma enguia, de ágil e fugidio. E estranho que ele é, também! Complicado. “Ontem” é um mal-amanhado resumo de memórias filtradas por um cérebro particular, cheio de falhas. “Amanhã”, uma folhita amarrotada de tanto traçar e apagar, voltar a escrevinhar e de novo borrar...

Nem sei. Se morrer é uma questão de tempo, estou bem tramada.

08/11/07

inquérito

Pessoal é assim: tudo às urnas no blog do lado, a ver se conseguimos um N jeitoso. O tema mete sexo, pelo que interessa a toda a gente! (não finjam que não, eu sei que sim...)

Por coincidência ou não, acabei de encontrar no nick do messenger de um amigo a seguinte frase "sabes o que é melhor num broche? os 10 minutos em que estás calada!". Bastante a propósito. Vão votar.

Desde que haja dados para isso, no fim responsabilizo-me pela análise estatistica (se o calvinn o permitir, obviamente). :D

Ala! Vou voltar para os passarinhos agora...

07/11/07

incapacidades de ultimamente

Ando-me a sentir como uma laranja: espremidinha, espremidinha. Mesmo que queira deixar aqui umas linhas de vez em quando, não consigo... A sério que não consigo. Estou agora completamente formatada naquele discurso rígido e idiota, tipo "verificou-se existir uma tendência estatisticamente significativa entre o número de horas passadas sentada em frente ao computador e o agravamento da sanidade mental do indivíduo".
Perdi vocabulário (que já não digo coisa com coisa), volume neuronal na certa e sinto as sinapses bloqueadinhas. Não sei se voltarei a ser a mesma. Teme-se o pior.