30/04/08

Anita em Amsterdão...

Agora estou aqui, neste sítio em que há casas que são barcos, barcos que são pistas de dança e música um pouco por todo o lado. É que foi dia de aniversário da rainha-mãe - aquilo a que os holandeses chamam o dia da rainha - pelo que este pontinho do mapa, hoje, virou cor-de-laranja, apinhado e meio descontrolado.

Gosto da atenção que dedicam às crianças, do facto de montarem, com simplicidade, uma feira gigantesca em que elas exibem talentos, vendem o que querem e se divertem à grande.


Tiro o meu chapéu ao amigo gandamaluko por ter conseguido aprender esta língua de trapos, principalmente tendo sido autodidacta no processo.

E estou de rastos porque andámos umas 10h a cirandar por aí. Deliro com a cena da bicicleta! Se não faltasse o sol 80% do tempo, isto é que seria qualidade de vida.

28/04/08

into the (not so) deep

Finalmente, ao fim de cinco meses, fizemo-nos ao mar!
Glup, glup, glup...


Os exercícios do tem que ser:


E agora é só dar à barbatana!

25/04/08

faz um ano

Quase deixava passar o aniversário desta dieta a pão e vodka! Foi por acaso que pensei "deixa lá ir ver a data do primeiro post". E não é que foi a 25 de Abril?? Um ano inteiro, parece mentira! Coincidência ou não... vou ali soprar uma vela e já volto.

resumo de uma janta de gajas


A emigra do norte aparece à bifa: chinelo no pé e calores imensos. A tarde passada na baixa e no chiado - como manda a praxe - e eu tenho as minhas dúvidas de que não se tenha sentado na Brasileira ao lado do Pessoa a tirar auto-retratos para depois mostrar lá no UK. Desejosa que vem da boa pastelaria portuguesa, parte substancial do tempo é passada a falar de pastéis de Belém, duchaises e bolas de berlim. Podia-lhe dar para pior, é verdade.

Uma das já poucas não-emigras, acha por bem despejar o conteúdo da carteira em cima da mesa e chega-se à conclusão que temos um caso de MacGyverismo entre nós. Algo assustador. Fita-cola, lápis nunca antes vistos tão delgados, chaves para aparafusar móveis, fita-métrica… Não lhe vejo o canivete suíço, mas não tenho dúvidas quanto à sua existência.

A emigra do sul materializa-se muy salerosa, como de costume. O cabelo novo, a boa disposição habitual e uns sapatinhos de salto que embirram com a calçada lisboeta a noite inteira. Vá-se lá entender! Bairro alto acima, bairro alto abaixo, e os sapatos com vida própria, a insistirem fazer nicho dos buracos no chão!

E pronto, ao som dos Gipsy Kings e um bocado abatido, o Júlio lá serve as margueritas. Não sei se é a crise económica, se é coisa de bola, mas o homem parece preocupado. Lá fora uma montanha de gente, porque passa da meia-noite e já é 25 de Abril. Ainda se alcança fogo-de-artifício lá para os lados do Seixal. Tiramos fotografias parvas com os óculos-de-sol gigantes (e fashion, obviamente) da emigra do norte.

No fim a escuteira vem-nos buscar, com a mochila às costas. Como boa alma que é, caridosa, leva-nos no seu carro até às nossas próprias viaturas. Ainda sai do lugar do condutor para me vir abrir a porta de trás! Um mimo.

Para acabar, chego à minha rua e noto a rega do jardim a fazer um repuxo enorme. Vou espreitar. Os mendigos deitam-se nos bancos com caixas de cartão por cima, mas não evitam levar com os salpicos. Um deles levanta-se e ameaça com o punho o aspersor. Sorrio. Ele vira-se para trás e lança-me um olhar sanguinário. Medo! Meto o rabinho entre as pernas e vou para casa.

22/04/08

cliques

De vez em quando recebo e-mails sobre concursos fotográficos para amadores como aqui a je. Uns mais restritivos, outros mais abrangentes, uns que se repetem anualmente, outros inéditos, com prémios, sem prémios, há de tudo. O último que me chegou chama-se “culturas da minha rua” e é um concurso europeu que procura a captação de momentos pluriculturais no local onde vivemos - que é uma coisa muito em voga, isto das culturas misturadas. Não sei se a intenção é que a fotografia mostre situações interculturais, ou se as pessoas podem estar simplesmente de costas voltadas uma para a outra. O curioso é que, se lermos com atenção os regulamentos, na parte onde diz “requisitos de participação” encontramos: “os participantes devem provar que os indivíduos mostrados nas fotos inscritas concordaram em ser fotografados para este fim”. Para tal, os referidos indivíduos devem assinar um papel onde afirmam “I, the undersigned … hereby declare that I posed voluntarily for …”. Ora não me digam que isto faz sentido. O que é suposto fazer? Pôr o qué-frou, o chinês da loja da esquina e o preto que mendiga no jardim todos em filinha-pirilau e tirar uma fotografia? Ou dar uma nota de cinco a cada um e perguntar se o amigo não se importa de apertar a mão a esse companheiro? Ou pegue ao colo na menina, vá, que é de leste e não tem muito que comer?!
Eu gostaria de ver o resultado de um concurso que tivesse captado realidades. E as realidades a sério, aquelas que não são fruto da criatividade de cada um, tendem a ser espontâneas. Ou não?

21/04/08

pontapés nos acentos

Não sei se este blog terá modus vivendi com o novo acordo ortográfico... Se ainda faço contas em escudos!!

18/04/08

vinha subindo

as escadas do metro quando comecei a ouvir umas pancadinhas regulares logo abaixo de mim. Virei-me para olhar e lá estava um cego. Ao bater com a bengala nos degraus assegurava-se que era preciso continuar a subir. Visto assim não parece difícil. Mas tentei imaginar em que mudaria a minha existência o facto de não conseguir ver. Em primeiro lugar, o mais provável seria não estar a subir aquelas escadas naquele momento, a caminho de uma manhã em frente ao ecrãn de um computador. O que faria nessa manhã - em todas as outras manhãs - se fosse cega? Ficaria em casa? Dormiria até ao meio-dia? Teria alguma ocupação ou nem por isso? São questões a que não consigo responder, por muito que o tente imaginar. De uma coisa, no entanto, fiquei segura: estaria extraordinariamente dependente dos outros. Enquanto crescesse, enquanto me movesse, enquanto quisesse saber mais sobre o mundo... Iria precisar de ajuda. Pouco me estaria tão acessível como se pudesse ver. Não iria guiar um carro. Com dificuldade acenderia uma lareira ou montaria uma tenda para acampar. E a maior parte dos livros ter-me-ia que ser lida, quer por um amigo ou uma gravação.

Olhando à volta para o resto da Natureza percebemos que um indivíduo cego tem fraquíssimas probabilidades de sobrevivência. Não é por mal nem por bem, é só assim. Uma zebra que não veja é a primeira a marchar na cadeia alimentar. Chamam-lhe um figo! Por isso é tão intrigante que os humanos exijam socialmente o cuidado com os outros, em especial se estes forem incapacitados. É preciso gastar energia preciosa para o fazer, mas somos compelidos a fazê-lo. Bem sei que isto parece básico. Quem precisa mais deve ter direito a mais. Mas é básico apenas porque são as regras segundo as quais vivemos, talvez nunca as tenhamos chegado a pôr em causa. Desde quando seremos assim? Desde quando passou a fazer parte de nós este marcado, embora por vezes duvidoso, altruísmo? Actualmente temos um sem-número de associações de apoio, promovemos o voluntariado social, chegamos mesmo a punir quem não ajuda uma pessoa em perigo. Estabelecemos regras morais. Grande parte da população mundial cresce a ouvir como exemplo a história do senhor que deu a vida por nós todos. E porque será? Os insectos têm sociedades, outros mamíferos têm sociedades... Nenhum parece partilhar com os primatas (em especial connosco) a capacidade de sentir empatia. Não me atrevo a dizer que ela é a base - simplesmente porque não me quero esticar - mas que é uma linha bem definida do que significa ser humano, disso não haja dúvidas.

Estando numa de cegueira, acabo com Saramago, uma achega de que gosto:
"Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara."

16/04/08

é a vida que dá um filme?

Os heróis não existem, mas é o que nos imaginamos sempre ser. Incompreendidos, ocultos heróis, cujas minúsculas vidas se revelarão, afinal, num final, importantes. E que final é esse? Simples: é aquele que sabemos vir mesmo antes das letras brancas a rodar no fundo preto. Para lá chegar o herói ultrapassa provações, enfrenta perigos, é trazido à razão pelo melhor amigo, é ignorado ou menosprezado pelo povo em geral e, no tal final, encarna o seu verdadeiro ser - aquele que os outros desconheciam até então, mas passam desde logo a admirar. Tudo termina bem e com grandiosidade.

Na vida real acontece que o final não existe. Daquilo que por vezes parece final logo entendemos que não é estático, que o casal não se abraça eternamente ao pôr-do-sol ou que ao fechar de um livro se segue qualquer outra acção (como levantar-se para o arrumar na prateleira ou ir à casa-de-banho porque a bexiga já dói). Bem dizia a personagem da Meg Ryan no “You’ve Got Mail” que lhe parecia estranho que tanto do que vivia lhe fizesse lembrar histórias lidas algures e não o contrário. Bizarro que fosse a vida a imitar a ficção. Só que num mundo que arrota doses maciças de ficção, como não fazer dela o modelo do universo mental de qualquer um de nós? É que talvez nem seja mau... Só temos que interiorizar que nem sempre seremos a personagem principal.

10/04/08

o raio da carne!

Uma coisa que me irrita sempre é a pergunta “se não comes carne então porque é que comes peixe?”. Quando eu argumento que discordo das condições em que vacas, porcos, galinhas e patos, entre outros, são mantidos na maioria dos locais de criação (ou melhor, “produção”, que é um termo que até me arrepia) há alguém que logo se levanta e atira com a aquacultura. Ora bem, eu entendo o raciocínio. Em ambos os casos os animais são impedidos de ocupar o seu habitat natural e vêem-se confinados e enfardados de antibióticos e alimento artificial. Não está certo. Mas o que não entendo é porque é que me hei-de ver obrigada a dar justificações a cada refeição que partilho com uma nova pessoa. É cansativo. Eu não passo o tempo a pedir às pessoas “explica-me, por favor, porque é que comes carne”. Às vezes acho que devia, mas não o faço. Não lhes espeto com as histórias dos leitões capados sem anestesia - cujos dentes e cauda são também arrancados -, dos frangos a serem escaldados vivos, dos gansos alimentados à força para o fígado dar um bom fois gras ou das porcas inseminadas sempre que possível para terem ninhada atrás de ninhada dentro de um cubículo de um metro quadrado. E da mesma forma que não estrago a refeição a ninguém, gostava que parassem de me chatear. Se sou menos sensível aos peixes, isso é uma questão minha. Posso procurar justificá-lo com a diferente complexidade do sistema nervoso das duas classes, com a minha maior proximidade aos mamíferos (o que deixaria de fora os frangos e os patos, mas talvez seja por isso que tanta gente insiste em convencer-me que “frango não é bem carne”) ou pode ser que o meu paladar tenha, simplesmente, mais dificuldade em renunciar ao prazer de uma dourada grelhada. Não sei. Mas sei que não tenho que ser atacada por, a ver de terceiros, não estar a agir de uma maneira preta ou branca - aquelas duas que consideram aceitáveis.

Quem estiver mais interessado no assunto pode sempre espreitar o site da PETA (aconselho que vejam o video na página princial).


p.s. - Parabéns à SemNexo!!! Qualquer dia está uma senhora! :D

03/04/08

El amor en los tiempos del cólera

Fui ver e gostei. Mesmo em filme, o senhor tem pormenores deliciosos.

02/04/08

o BA de outrora

Logo da primeira vez, fizémo-nos ao Bairro Alto. Teria quinze anos, mas dos pouco vividos, dados fundamentalmente às crises existenciais. O Bairro não era para mim mais do que um nome. Uma ideia difusa.

O carro encostou junto ao miradouro de São Pedro de Alcântara para nos deixar sair. Assim que pisei o asfalto e olhei em volta, percebi que não conhecia a minha própria cidade. A praça borbulhava de gente, os batuques dos djembés elevavam-se no ar e, ao fundo, as luzinhas de Lisboa faziam vezes de moldura. Sentia-se a energia como um estalo na cara. Estava uma noite quente, cheia de cheiros. “Aqueles ali estão a fumar ganza” sussurrou-me a amiga, forçando um adolescentíssimo ar blazé. Inspirei mais profundamente. Ganza… Esperava qualquer coisa agressiva, mais de acordo com os avisos de pânico que tendiam a acompanhar o tema. Pelo contrário, parecia-me adocicado e nem sequer desagradável. Mas era o ritmo das percussões, isso sim, que unia a montanha de gente que ali se reunia. Uns rodavam fitinhas no ar, praticavam malabarismos amadores, outros ajoelhavam-se em cima dos instrumentos, frenéticos, criando grandes círculos sinfónicos. Pum, pum, pum, pum… Por momentos deixei-me estar, hipnotizada.

Depois atravessámos a rua e penetrámos as ruelas desconhecidas. Espaços apertados, construções em tanto diferentes daquelas a que estava habituada! As pessoas sentavam-se nos passeios e conversavam animadas. Lembro-me claramente das Dr Martens, essas botifarras tão noventa, desfilarem diante dos meus olhos em cores várias. Isso e os eternos All Star - desde que devidamente rotos e emporcalhados. Era a malta do grunge, os fiéis seguidores de Pearl Jam, para quem o Nirvana, mais do que a superação das ilusões desta vida, era o veículo de Cobain para o mundo. Também eu tinha um grande fraco por “Smells like teen spirit” ou “Oceans” e me sentia encaixar nessa onda de neura.


Rua acima, rua abaixo e dei por mim a jogar snooker num sítio com ar tascoso. O cérebro ia registando tudo como se quisesse garantir que não me enganava no protocolo a cumprir nas vezes seguintes: começar a noite num salão de jogos, check!

Depois seguimos os nossos chaperones até um bar com paredes amarelas e espelhos pendurados. Lá fora o fumo, a conversa, os risos. E dentro algum sossego, música ambiente, esse amarelo quente que anos mais tarde acabaria por conseguir espetar na parede do quarto... Tudo novidades a absorver mas, ao mesmo tempo, como que saído de um sonho de infância - quase em câmara lenta.

Foi então que, de volta à rua, de repente, no meio das sombras daquela envolvência estranha e boa, ouvimos um barulho muito forte. Em questão de segundos e sem que nos déssemos conta, metade das pessoas corria rua abaixo e a outra metade, na qual nos incluíamos, agachava-se atrás dos carros. É que na altura ainda o trânsito circulava no Bairro Alto e ao longo das ruas os carros estacionados criavam refúgios de todo o tipo. Não sei bem como, portanto, vi-me escondida atrás de um deles. Espreitei através do vidro e avistei um homem de barba por fazer e camisola de alças à porta de um dos prédios, de pistola em punho. Alguém lhe gritou de longe para se acalmar e o resultado foi mais dois tiros para o ar, bem ao jeito do faroeste. Um autêntico Clint Eastwood. Que aventura! Nunca mais me esqueci dessa noite. Assim que o homem voltou a entrar no prédio a minha amiga puxou-me pela mão e corremos rua abaixo com o coração aos pulos. Então isto é sair à noite!, pensei. Estava um bocadinho longe da verdade, mas nunca me poderia vir a queixar de falta de emoção nessa estreia.

À saída, perto do ponto de encontro onde nos iriam buscar, passámos por um bar que era também uma biblioteca. Que bizarra e maravilhosa ideia! Pelo lado de fora das vidraças vi pela primeira vez esses intelectuais de cabelo seboso, oculinhos redondos e nuvens de fumo por cima da cabeça. A toda a volta estantes com livros que as pessoas iam MESMO buscar para ler. Quando puder decidir sozinha onde quero ir, é aqui que venho! pensei. Mais tarde descobri que nunca se decide verdadeiramente sozinho...