15/10/07

no céu espelhado - V

Urge apresentar o último elemento do esquadrão “Instruendos Fantásticos”, para que não se diga que há discriminação a pão e vodka (apenas pouco tempo e algumas falhas de criatividade).

PeterPan-de-RayBan não era mau moço. De todos, o instruendo mais dado às artes de bem navegar (embora não lhe escapassem outros prazeres desta vida) e também o mais camarada de seus compinchas marujos. Atento e preocupado com o próximo, houve até quem lhe visse certo dia um avental de cozinha que, em acto de profundo altruísmo, vestira para ajudar um não-companheiro de grupo (instruento-não-fantástico, portanto)! É o que consta…

A ele coubera também a complicadíssima tarefa de reunir os elementos do sexteto de sucesso. Que capacidade de cálculo, que visão!! Qual polvo gigante lançando cinco dos seus tentáculos para agarrar aqueles que lhe pareceram os melhores candidatos a super-heróis do Creoula, ao mesmo tempo que se apoiava a si próprio apenas nos três tentáculos restantes (notem, mais uma vez, o espírito de sacrifício), o homem lá conseguiu reunir um grupo de elite. Modéstia completamente à parte.

Resumindo, para quem já se perdeu: a jogar pela equipa dos machos tivemos Don-Lerpas, o non sense personificado para nos animar dia e noite e PeterPan-de-RayBan, argamassa da estrutura, a fundamental nata do strogonoff. Pela equipa das fêmeas jogou-se com Rapariga-Sussurrante que contribuia com vocábulos relativamente complexos e eloquência em barda, Wonder-Sister que apostava na plasticidade social e poder de mediação, Sininho (a.k.a. IC19) cujos entusiasmo e força atingiam qualquer um que lhe fizesse frente e, finalmente, a tal Cara-d’Anjo, observadora de serviço, treinada desde cedo nas artes da invisibilidade.

E agora pode seguir o baile.

No dia em que a barraca abanou mais à séria, o fadista metaleiro insistiu no dvd dos Metallica, o Cajó enjoou que nem um perú, e a Wonder-Sister entrou em vôo na casa de banho dos homens. Nada mau para um dia só. O fadista – que na verdade não era fadista, apenas lhe chamavam assim – era um mocito pela minha idade, mais para o gordo que para o magro, sempre calado, branquinho de pele e com bochechas rosadas. Assim tipo os habitantes de Mangualde*. Adorava fazer nós em silêncio, dançando suavemente as mãos sobre o cordel. Nada que fizesse prever o aficcionamento pelo rock da pesada. Mas era vê-lo na messe, vidrado no concerto a que dera vida na televisão, dizendo que sim com a cabeça ao som do ritmo. Nada de exaltações, nada de manifestações de grande regozijo. Só uma data de sims ritmados e seguros, quase orgulhosos. E os IF, resistentes, a superar a adversidade sonora!

Agora que falei em nós, lembrei-me de outra coisa: o Cajó sentou-se ao meu lado na aula de nós que o mestre deu (como se pode comprovar nos registos fotográficos que Don-Lerpas gentilmente fez do momento). Quem é que pode adivinhar o que é o senhor dentista passou o tempo todo a murmurar entredentes? Terá sido “oh please, isto é básico”? Não! Lá agora! E depois teve o desplante de, quando a coisa complicou um pouco, começar a olhar de soslaio para os nós do vizinho, um simpático que andava sempre de calções (mesmo a chegar a Lisboa às 3 da manhã com um frio desgraçado!), cheio de energia e que noutra vida fora cientista maluco. E como era muito simpático, o simpático lá lhe ia mostrando os nós sem reservas. Haja pessoas boas!

Eu, por exemplo, não sou completamente má. É só uma veiazita. Aliás, no geral sou bastante compreensiva. E deve ter sido por isso que quando o Cajó, que fingia lavar pratos ao meu lado, começou a ficar cada vez mais calado e a espaçar as suas preciosidades arrogantes (e.g. “é inaceitável que nos ponham a lavar com um fiozinho de água destes!”), me bateu uma certa pena. A embarcação balançava como se aí viesse o fim do mundo e a loiça que não era posta logo dentro do lava-loiças despencava por todos os lados. O Cajó já só suspirava de vez em quando e o Charréu olhava para ele rebolando os olhos com justa impaciência. Então a criatura arranjou forças para dizer: “Ai, parece que tou a ficar maldisposto, daqui a nada é ala para a camarata!” E ainda que isto fosse um aviso de que me iria abandonar a qualquer momento, que eu não sou parva, decidi dar uma de Madre Teresa (ou de Wonder Sister, que também se aplica) e oferecer-lhe os serviços dos meus vomidrines. Oh, os olhos até lhe brilharam! Claro que a partir daí passou a chagar-me para lhe dar comprimidos. Fui dealer por um dia. Mas uma triste dealer, sem qualquer tipo de proveito.

Concentremo-nos ainda no balanço. É forçoso imaginar tudo isto com as paredes a andarem de cá para lá e o pessoal a entalar as cervejas entre as pernas para não escorregarem da mesa. Ao som gritante dos Metallica. Tá? Então, nesse ambiente, eu e a Wonder decidimos arriscar uma ida à casa de banho. Errado. Grave.


(estou noveleira, fica o resto para o próximo episódio...)


* uma das minhas terras natais.

20 comentários:

calvinn disse...

Seja bem vinda. Espero que tenha conseguido fazer tudo aquilo a que se propôs . Vai contando as histórias que eu cá deste lado vou dando uma outra risada.
cumprimentos.

Anónimo disse...

caradanjo, sabes que tens uma foto com o cientista maluco ?

i35

sara disse...

calvinn querido,
li algures que sua excelência até imaginava uma historiazinha com estes IFs todos. mas veja lá, veja lá... :D
obrigada, consegui gde parte do que queria, mas agora falta tudo o resto!
bjs

i35,
tenho? na aula de nós?

Anónimo disse...

Bem espero que a tua tese seja tão ilumindada quanto a tua escrita senão estas..... mareada sem vomidrim!

Lisongeado pelo protagonismo e babado com os rsgados elogios...

I31

Anónimo disse...

E eu que pensava que estava tudo em banho-maria…

Não quero o Peter Pan (apesar de curtir a rima com rayban). Eu voto em "o Inominável" para designarmos o i31! Evitamos recorrer a duas personagens da mesma história - demasiado pouco imaginativo para as nossas brilhantes cabecinhas - e além disso dá-lhe um toque celestial, que lhe assenta como uma luva, qual deus cujo nome não pode ser pronunciado! No final de contas, é Ele o nosso mentor! É Ele o Criador supremo dos IFs! É Ele a sublime origem de Tudo!

É assim ou não é? É, é!!
Ou pensam vocês que começaram a tratá-lo assim por pura coincidência?! Não, o nome já lhe tinha sido atribuído pelas entidades que regulam o universo, já existia antes d'Ele! Foi por inspiração divina!

Hei, agora sobre assuntos sérios: não se esqueçam de responder ao meu mail! Preciso de saber se invisto nos post(re)s ou nos preliminares!

Anónimo disse...

Estou maravilhada com esta aventura. Continua a escrever. Viva o Peter Pan

Anónimo disse...

Cara IC19/Sininho

Penso que a aposta nos preliminares é sempre uma boa aposta...
Em relação ao PeterPan-de-RayBan vs o Inominável, eu cá acho que apesar do segundo ser mais bíblico, o primeiro permite-nos imaginar
"PeterPan-de-RayBan e o seu bando"

Ora então imaginem lá I31 com os seus óculos (RayBan, claro está), presos pela ceninha própria para marinheiros (que se adapta perfeitamente às necessides de uma criatura voadora), naquele fatito verde a esvoaçar por cima de nós, isto, enquanto a pequena Sininho lhe segreda ao ouvido o que Rapariga Sussurrante descobriu (baixinho).
E o que descobriu (baixinho) a RS?
Não sei, mas estou a gostar tanto desta imagem como da Wonder Sister naquela fardita sexy, a lavar pratitos a uma cadência alucinante.
Também me agrada a ideia de Don Lerpas e Cara d'Anjo numa conspiração mafioso/maquiavélica para acabar de vez com o Capitão Gancho!

Corto Maltese

Anónimo disse...

custa-me estar a assistir a desavenças entre nós ... sobre o nosso mentor.. eu acho que devemos respeitar a anfitriã.. sob pena.... de ela partir as rotulas a alguém.. apesar que o faz com uma graciosidade invejável... mas porra.. só temos duas rotulas cada um....

e agora podiam dizer um bocadinho de mal do peter pan de rayban.. é que ele ainda se tá a "babar" e já tenho o teclado todo mulhado.. raios !

caradanjo, tens sim , fui eu que tirei, tás tu, a wonder sister e o peter pan


sobre o jantareco eu levo os m&m

i35

Anónimo disse...

Não sabia que os marinheiros tinham uma ceninha própria para para pendurar óculos ray ban...

Anónimo disse...

Ora assim se pecebe que Sininho não usa óculos e estava (até agora) pouco desperta para as artes da marinharia.
Então é assim, as pessoas que precisam de óculos também precisam deles quando navegam. Com o abanar da barraca (parafraseando S.) os óculos têm alguma tendência para...ir borda fora.
Para que tal não aconteça, inventaram "uma ceninha" que prende os óculos
á tolinha de quem deles necessita!
Não penso que tenha sido desenhada para os óculos RayBan especificamente.
Corto Maltese

Anónimo disse...

uma ceninha ? tólinha ? esta conversa está a ficar muito abixanada para mim....

só para exemplificar a diferença de semantica de um verdadeiro IF, por exemplo, parafraseando a wonder sister, pessoa aliás , de fino trato e rara clareza de discurso, ela diria/dizia, com a sua voz tonitruante :

"aquela merda para pendurar os oculos? nos chavelhos dum gajo ou duma gaja?"

Perceberam o meu ponto de vista? perceberam-se da alteração subtil da estrutura do discurso ? o ritmo? o leve balançar das silabas? a utilização genial dos verbos? a entoação?

:)

135

sara disse...

i31,
ainda bem que gostas, last but not the least!

sininho,
olha o resto do pessoal grama e eu cá sou mto democrática! Também gosto do Inominável mas o PeterPan parece-me ter mais graça e fica perfeito para a vossa relação de amizade/turras! ;) e tu como sininho a seres perseguida pelo comandante não podia ser melhor...

i35,
por enquanto optei pela camaradagem aqui com a sininho, tás a ver? mas bem sabes q isso n dura mto... como sabes eu é rótulas, clavículas e, em especial, falanges... uma costelita ou outra de vez em quando...
não vou dizer mal do PeterPan, especialmente hj q nos prendou com uma surpresa que ficará nos anais do Creoula!

Corto Maltese,
A Sininho sempre habitou a Terra do Nunca e lá só meia dúzia de ranhosos é que usam óculos. Nenhum deles marinheiro, por supuesto, que uma coisa não se coaduna com a outra. Temos que condescender à sua falta de conhecimento... Além do mais é personagem de fantasia e já se sabe como essa gente é distraída por natureza.

i35,
eu deliro com essas descrições... "de fino trato e rara clareza de discurso", "sua voz tonitruante"
Merda, digamos, é uma palavra de que gosto. Serve para tudo e acaba por ser amiga de toda a gente.
O teu ponto de vista final, portanto, é que o Corto M. é/está abichanado e que a Wonder não?

Anónimo disse...

i35

Será que noto um tom homofóbico nessa conversa do que é ou não abichanado para o seu gosto?

E porque é que ceninha e tólinha são termos abichanados?

Será que WS afinal é um gajo?
Serei eu uma gaja?

:) Corto Maltese

sara disse...

Realmente Corto Maltese levanta questões muito a propósito!

Acrescento eu: Qual será a quantidade de abichananço que Don Lerpas tolera numa conversa? Alguma poucochinha ou mesmo nada?

WS com aquele corpanzil que observámos no "regalo" do Peter Pan ontem, não é definitivamente um gajo! Ou então teve um grande cirurgião.

O Corto Maltese, apesar da mosquinha por baixo do lábio inferior, não sei... (qto a mim, é melhor n falar muito pq o gajo deixou-me lá um belo apetrecho, n sei se reparaste)

Anónimo disse...

até eu fiquei confuso... ai ai... mas adiante... olha..vamos... vamos em frente.. e depois.. virá na 2º à esquerda.. passa a rotunda....e a seguir à lomba fica a uns 100 metros.. ok ?

i35

Anónimo disse...

Mosquinha? Qual mosquinha?

Corto Maltese

sara disse...

Esta conversa já vai deliciosamente confusa! Refiro-me às imagens "wonder-sister" e "corto maltese" no presentinho que o peterpan-de-rayban ofereceu outro dia. Não se chama mosca àquele tufozinho de barba que "Corto maltese" apresenta na imagem? (eu própria estou a pensar começar a comentar os meus próprios posts, só para isto ficar ainda mais confuso!)

Anónimo disse...

vêm ? vêm ? e depois sou eu que invento coisas.. repararam no "mosquinha " ou no "tufozinho" ... pessoas que passam a vida a falar de bichos e usam diminuitivos .. são o k? já viram um gajo das obras, casado e com 5 filhos, por exemplos, dizer " ou coleguinha, passe ai o martelzinho, para dar uma cacetadazinha ali num ratinhozinho" ? não pois não ?!
e depois sou eu que invento coisas!

(versão não inregral)

i35

sara disse...

tens razão... mas como não me passa pela cabeça ser um "gajo das obras, casado e com 5 filhos", dou-me ao luxo de continuar a dizer... tufozinho, tufozinho, tufozinho!!

Anónimo disse...

ai.. que irritação ! :)
i35