Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
Um comentário rápido ao poema do Gedeão. É bom.
Não é verdade que passamos a vida a tentar fazer-nos compreender pelos outros? A estender-nos para fora? A querer à força partilhar uma individualidade que, se prestarmos atenção, simplesmente não vive fora de nós? Pois é. Podemos saber muita coisa, conhecer o mundo de trás para a frente e as ciências pelo verso mas nunca somos capazes de abarcar o todo, de ser para além dos limites da nossa própria pele (a não ser, talvez, pela morte). E, no entanto, somos o centro de onde tudo parte, onde tudo regressa e o único sítio possível para se estar. Não posso deixar de aplaudir o senhor: “Universo sou eu, com nebulosas e tudo”.
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6 comentários:
lanço-me na primeira experiencia blogista para fazer um AH! de admiração por um pensamento tão filosofico e profundo em plenas férias...
Uma questão prática:
Como é que em pleno Algarve publicaste este texto? e já agora como advinhas quem sou eu?
Pois é, os pensamentos têm esta coisa de se colarem a nós 24 sobre 24 e não tirarem férias. :)
Quanto às questões práticas:
1) vim de pc atrás porque adivinhava umas férias tranquilitas com manhãs livres para fazer testes estatísticos!!
2) neste blog a maioria gosta de se fazer adivinhar... suponho que seja karma. De ti só posso ver que sabes que estou no algarve e que vais à net às 00:26. Hás-de convir que é poucochinho (adoro esta palavra escrita!). "Face to face" bastam 3 segundos para que tiremos uma conclusão sobre alguém. Isto é, se ela nos agrada ou não. E essa primeiríssima impressão, depois de um juízo mais demorado, confirma-se em mais de 80% das vezes. Estendendo esta ideia para o que se deixa escrito, posso concluir, sem mais, que me agradas. :)
Andava eu à procura do poema para por no meu blog quando me lembro... mmmmhhh, de certeza que depois daquelas quentes noites de leitura a s. o pôs no dela... Meu dito, meu feito! Cá está ele! Ao anónimo: as férias também são boas para ler, especialmente porque temos mais espaço mental para assimilar. Já tinha lido este poema 1000 vezes e só no Algarve me apercebi de quão fantástico é. O Gedeão é um génio!
Debruçando-me agora no poema, o que mais me marca é a nossa insignificância... sofremos tanto e ao mesmo tempo isso não é nada para os outros. Ao morremos não deixamos rasto... Vivemos de facto a olhar para nós e a ver tudo a partir da nossa perspectiva, catalizamos o mundo e todas as vivências em função do nosso ser. Tudo é filtrado por nós: o nosso sentir a nossa personalidade. O que nos torna, na nossa visão, o centro. Um ponto central donde tudo o resto parte. E todos se têm a si como centrais. Quando nos apercebemos que não somos nada é desvastante... NADA. somos um pequeno ser que vive num mundo, integrado num mini sistema solar, dentro de uma de milhões de galáxias... Somos NADA e no entanto, sentimo-nos TUDO!
Chiça, este comentário doeu quase tanto como o poema.
Vou ficar caladinha, caladinha, a curtir a minha poderosa insignificância...
Bacci my darling
Si, probabilmente lo e
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