29/08/07

a minha vida não dava um filme

Um dia chegou aqui um livro chamado “abre para cá” e, sem sabermos muito bem para quem era, acabou por ficar implícito que seria eu a leitora.

Mas vamos do princípio...

A 11 de Setembro de 2001 já todos sabemos o que aconteceu. As torres gémeas do World Trade Center em Nova Iorque vieram abaixo, bem como parte do Pentágono, e a brincadeira custou cerca de 10 mil vidas. Dito assim parece uma coisa que vem escrita nos livros de História e que decoramos a contra-gosto, com a cabeça apoiada numa mão, tal como fazíamos com os números da segunda guerra mundial.

A 11 de Setembro de 2002, um ano depois, o que aconteceu foi o tal livro.
Nesse dia solarengo a M. foi à praia com o seu mais-que-tudo, montada no mini moke. Para quem não conhece, um mini moke é um carro aberto, pequenino, ao estilo dos buggies com que os brasileiros passeiam os turistas nas dunas nordestinas.
Ao regressar o par à viatura, lá para a tardinha, M. deparou-se com um objecto caído no seu banco e, apesar de não lhe ser propriamente familiar, conseguiu distinguir nas suas formas... um livro! (eheheh, boquinha foleira). Um livrito pequeno de um tal Jacinto Lucas Pires que lhe dera o título “abre para cá” e onde se liam contos, uma dúzia deles. Estranhou e folheou-o. Logo na primeira página, aquela que tantas vezes fica em branco, alguém lhe deixara um recado. Atentado Poético: A quem encontrar este livro, que o saboreie com gosto. É um presente. Em tempo de tristes memórias vamos dar lugar à poesia das leituras.

Foi bonito, não foi? Uma história destas merecia uma revelação no seu desenrolar. E, de facto, até ameaçou um momento de epifania quando a M. mo estendeu e disse podes ler que eu não tenho paciência e eu o fui folheando até à quinta página, logo depois do índice, onde li: para a sara. Flash, momento!

Podia ter sido. Ao ler o livro encontrá-lo-ia carregado de referências metafóricas à minha vida e de mensagens subliminares para a minha pessoa. Seria uma luz que descia, qual espírito santo, a justificar-me a existência e a mostrar o caminho da verdadeira felicidade! Pois era... Mas a verdade é que não gostei nada dele. E não é que seja leitora esquisita (quase tudo o que leio me interessa). Curiosamente é apenas um livro em que fico por fora, à superficie, um livro cujas frases curtas não me permitem entrar na acção e em que não percebo nos contos a moral ou o sentido. Dou-vos um exemplo:
“A luz dos faróis muito forte na curva, uma camioneta desaparece a grande velocidade. No passeio, junto à parede, papéis e bocados de plástico; o homem olha para isto e continua. Da boca sai-lhe ar branco. Entre os prédios, o céu é um rectângulo estreito e escuro, e vão passando árvores e candeeiros e cartazes com caras a sorrir” (J. Lucas Pires).
Não sei... Dá-me a impressão de que o senhor quer despachar e, ao mesmo tempo, descrever tudo. Dêem-me outra perspectiva, se a tiverem.

Confesso que fiquei desiludida pelo facto de os astros, afinal, não se estarem a conjugar só para mim.

3 comentários:

Anónimo disse...

Está mesmo tudo de férias...
Até o Lucky Luke ?
E o sagaz GandaMaluko ?

SemNexo disse...

S.: é engraçado... ainda anteontem estive a escrever um texto no meu caderninho e saiu-me mesmo assim. frases curtas, descritivas, ou não, mas quase sempre pensamentos soltos. Não me queria despachar, antes pelo contrário, queria gastar tempo para ver se vencia a insonia pelo cansaço. Depois pensei que é assim que pensamos... penso que o fazemos e frases curtas que se vão interligando quase aleatoriamente. Um exemplo: Hoje quero pizza. Pizza tomate. tomate acido. Dores de estomago. Mae tem dores de estomago. Mae esta em madrid. nao lhe disse que recebi o selo do carro. não me posso esquecer do selo para a viagem para lisboa. a bofia estava à porta de andraes. quando saó encontrei a vizinha à porta...". Numa fracção de segundo encadeias o mundo. Se quiseres passar para o discurso é quase impossivel, perdes tanto tampo a escolher palavras que te perdes. Acho que esse senhor apenas abandonou a caneta ao sabor dos pensamentos... eu até gostei...Gosto da crueza da coisa...

beijinhos

sara disse...

Sim, sim, sim, tens razão, pensamos de facto assim. Só que mantendo as coisas tão cruas não deixas os outros entrar. E se o objectivo não é esse, valerá a pena publicar?

Para mim, que conheço a tua mãe e as suas dores de estômago, que já debati sobre a questão do tomate ácido inúmeras vezes e que sei onde é Andrães, é engraçado ler. Sei mais ou menos o que está por trás. Mas se não soubesse e tu não desenvolvesses, acho que ficava desligada do texto.

De qualquer modo, é sempre giro que haja quem goste. :) Quando voltares empresto-to.