
O Alfa aproxima-se de sorriso estampado no rosto. Vem confiante e, embora não tranquilo, disfarça bastante bem. O passo não hesita e o corpo alto e forte ondula naturalmente, inevitavelmente, sem que o próprio chegue a ter noção de como causa tal efeito.
Chega, senta-se e espraia de imediato um braço sobre as costas da cadeira dela, ostentando uma intimidade – por sinal mentirosa – à qual a fêmea decide dar o benefício da dúvida. Ao mesmo tempo que se retrai um pouco no lugar e pesa o desagrado que sente pelo abuso, ela sorri-lhe (um meio sorriso que talvez não se note). Conhece a atitude de sobeja, mas ainda assim espera para ver.
Mesmo ao lado dela senta-se o Beta que, alegre e falador até ao momento, cola os olhos no prato e deixa cair os ombros à chegada do Alfa. Assim que consegue, procura um interesse paralelo, vira as costas e torna-se invisível. Rendido à partida numa batalha de eternas subtilezas.
Em três palavras o Alfa puxa do tema pretendido e larga-o a pairar. Ela pega-lhe sem hesitação mas, qual pingue-pongue de palavras, logo decide devolvê-o quase em bruto e pôr-se a olhar o seu interlocutor com expectativa. Nada acontece... Apenas o silêncio incomodativo surge, a troçar da situação. Ouvir é o melhor semáforo de todos e, neste caso, é o vermelho que salta, ostensivo e eléctrico, para cima da mesa. Sobram do artifício masculino o sorriso deslizante e o olhar que revela o fim ansioso de um meio pouco convincente.
Ela impacienta-se. Olha para o Beta em busca de uma solução fácil, mas ele continua de costas. Então levanta-se numa desculpa fisiológica e descarta-se da cena suavemente.
Moral da coisa: a atitude predatória incomoda e desinteressa num ápice. A submissiva desilude. Mas não sei se falo pelo gajedo em geral...