06/10/08

flutuando

Já não escrevo para mim. O tempo vai passando e as teclas batem para outros, alheios que são (e porquê?), forasteiros em meus meandros. Olhos de fora (e porquê?). O que sobeja de mim nestas linhas não faz jus ao agora. Este momento de hoje. Recordo, a propósito de nada, uma igrejinha em Megéve, em noite fria e com cheiro a lume. Todos cantavam, apeteceu-me ficar dentro. Talvez pela primeira vez. Recordo a tarde no pão-com-chouriço em Mafra. A água a pingar do céu cinzento, a subir-nos pelas calças compridas demais – arrastando –, a desagradar. A falta de abrigo para comer e as mãos geladas a retirar o chouriço do pão. Outras mãos geladas dizendo “eu quero!”. Recordo coisas de que já nem me lembro (mas afinal porquê?).

5 comentários:

C.M. disse...

Há um qualquer dito popular que diz que damos mais importância às coisas quando as perdemos.
A comparação não é a ideal, mas lendo este teu post, foi o que me veio à cabeça.
Calculo que a distância a que te encontras de todas os lugares, coisas e pessoas que conheceste até agora, estimulem as memórias de situações, lugares e eventualmente pessoas, que até agora tinham aparentemente passado despercebidos.
Seguiste caminho em modo "aventura", e de repente em vez de vires aqui escrever sobre assuntos vários, mas em escrita livre (para ti), dás contigo a descrever (e bem) sobre a aventura em que te encontras (para os outros).
Bien, não sei se esta minha análise barata faz algum sentido, mas acredito que dentro em breve voltas a escrever para ti e nós continuaremos a ler (com gosto).
Bem regressada a este lugar:-)
Beijoca

Jose Ruah disse...

Saudade, a expressão com sentimento e exclusiva da nossa lingua portuguesa e da nossa forma de estar.

Saudade, resume tudo.

Bonito o poema que o 1º paragrafo constitui, embora enganadoramente escrito em prosa.

Unknown disse...

Pois é como dizia o António Variações "...Só estou bem onde não estou..", mas isso faz parte do nosso crescimento e a dar valor a pequenas coisas que nos eram indiferentes. Há que tirar partido de todas as situações.

Recordo-me dos nossos amigos que vivem no canadá e que a melhor coisa era irem à pastelaria do bairro português para comerem pasteis de nata e à churrasqueira as sandes de frango! Quem diria que o frango era tão importante?

Vais ver que vais chegar mais "crescida" e com expereiências e conhecimentos tambêm inolvidáveis!!

Beijos grandes
Mia

sara disse...

Pois, concordo com tudo. Depois de falar com ttk esta tarde, apercebi-me que alguns ficaram com a sensação que me atacou alguma nostalgia. Não era tanto isso como o espanto de me saltarem à memória situações nunca antes pensadas. Episódios em nada importantes. Ou pelos vistos sim... Não faz sentido percorrer um trilho na floresta, de madrugada, olhar a neblina densa e, num ápice, ser transportada para o "pão com chouriço" em Mafra! Tem graça. Faz-me pensar que as raízes devem ser bem mais fundas do que normalmente consideramos. :)

Obrigada pelos comentários, não pensei que ainda lessem aqui.

Anónimo disse...

"Saudade até que é bom, melhor que caminhar sozinho, a esperança é um dom que eu tenho em mim"...

Quando nos afastamos fisicamente, as recordações tomam proporções emocionais algo longe da realidade. Mas é mesmo assim, faz parte. Assim como quando transpomos para o papel alguns dos nossos sentimentos, temendo tornarmo-nos lamechas, tendemos a pensamento algo profundos.

Um grande beijinho, cheio de saudades.

PS - Até estas saudades se tornam maiores pelo facto de te saber longe, pois vendo bem, quando cá estás, também não no vemos senão de páscoas a natais...