12/01/08

Reveillón made in UK - II

Entrámos então numa discoteca espaçosa, de dois pisos, onde havia muita gente mas nenhum fumo (estágio de habituação à nova lei do tabaco por aqui). Desde logo o calor se fez sentir dado que os tais cachecóis, gorros, luvas e casacos não tinham por onde ser úteis num sítio daqueles. Como ingrediente extra acrescentem-se collants debaixo das calças!! (uma ideia brilhante à saída do aeroporto pela manhã, mas já não tão brilhante nesse momento…)

O desconforto era algum, no entanto a observação comportamental valeria a pena. Elas, matronas sem vergonha, de saias bem mini e decotes transbordantes, abanavam-se a valer. Eles, tanto ou mais repulsivos, idem. Entre cambaleantes e enrolados uns nos outros como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, nada mais parecia ter importância. O JP levou logo à entrada com um beijo na boca de uma avantajada desconhecida. A SemNexo e a ME, corajosas, fizeram-se à pista e suportaram os apalpões de toda uma vida. Eu aventurei-me apenas na casa-de-banho, onde os corpos meio caídos levaram os seguranças a fazer uma espécie de rusga. PUM! PUM! PUM! Are you allright? (ya, ya, desamparem-me a loja!). Quando saí, vi que levavam em braços uma loira que, pelos vistos, não estava nada allright. Imagine-se tudo isto com o chão permanentemente escorregadio por causa das bebidas entornadas. Então disse à SemNexo quero-me ir embora! e, para meu espanto, ela concordou imediatamente. Lá fomos descendo as escadas em direcção à saída quando a porta ficou bloqueada por uma bifa bêbeda (redundância, bem sei) que com algum histerismo gritava com o rapaz da frente. Do alto dos degraus hesitámos em forçar a passagem. E de repente, não percebi bem como, meteu-se outro gajo e começou tudo a empurrar-se e a gritar e eu a pensar “f... logo agora que convenci alguém a ir lá para fora, não conseguimos sair!” Mas foi de pouca dura, que apareceram de novo os gorilas da security e obrigaram cada um a ir à sua vidinha. Lá fora chuviscos bons.

Pode-se dizer que a segunda discoteca tentada se revelou de qualidade bem superior, talvez porque fosse frequentada, na maioria, por não-escoceses-não-ingleses. Africanos, indianos, paquistaneses e afins encaixavam-se na pista com mais lucidez. Mas eu, que fora de carro de Lisboa para Faro na véspera, apanhara uma seca de 3h à espera de um avião em cujo nariz se tinha espetado uma ave (hum, será que o facto do aeroporto ter sido construído em cima da ria tem alguma coisa a ver com o assunto?...), viajara outro tanto naquele conforto low-cost para chegar a Glasgow às duas da manhã, fazer uma caminha jeitosa nos bancos do aeroporto, dormir cerca de três horas com uma gravação a gritar-me aos ouvidos de meia em meia-hora que o aeroporto não se responsabilizava por objectos perdidos e que estes seriam, sem meias medidas, DESTRUÍDOS (juro que ela intensificava esta parte com nítido gozo! ou então era só a minha mente sádica) e que, por fim, apanhara uma camioneta de Glasgow para Aberdeen, onde cheguei ao fim de quatro horas, eu estava, portanto, nesse preciso momento na discoteca, um bocado amassada. E a desejar aquela horizontalidade amiga que quando finalmente veio foi uma verdadeira bênção. É que já não tenho idade para estas coisas (isto e patinar no Campo Grande)!

Um dia volvido, lá fomos ao ansiado passeio. Loch Ness, como não podia deixar de ser, dormida em Fort Williams, uma vilazita onde os bares fechavam à meia-noite e quase me rebentaram os pulmões a jogar ao toca-e-foge e, no dia seguinte a termos gravado o meu novo toque no telemóvel (uma alusão a Juan Carlos e à sua amizade por Hugo Chavéz), partimos para a ilha de Skye, nas Highlands.

E confesso que aqui me apetece parar o relato. Guardar esse sítio bom só para quem foi. Porque criar o ridículo é tão fácil, mas fazer jus ao que é positivo e marcante tem muito mais que se lhe diga... Skye é uma ilha mesmo juntinha à mainland (note-se a terminologia emigra) que se estende em planícies altas com vista para o mar e para as outras ilhotas em volta. Aves é ao pontapé. Neve nos pontos mais altos. Focas que não chegámos a ver e veados que passaram por nós majestosamente. Praias de cascalho escuro que visitámos com pulinhos friorentos. Pequenas quedas de água nas zonas em que as pastagens inclinam e o declive acaba por vencer. Muito wild, muito giro.
Calhou também ficarmos hospedados num sítio especial, com anfitriões à maneira e em ambiente caseiro. Calhou termos feito uma gloriosa noite de Pictionary em que o gajedo (em desvantagem numérica!) arrasou com a testosterona presente. E calhou termos sido campeões internacionais de bowling virtual e brindados com bem-disposta conversa escocesa. Foi bom, sim senhor.

E por aqui me fico. :)

6 comentários:

calvinn disse...

Relatos emocionantes. Adorava ter sido mosca em algumas alturas.
Segundo os teus relatos ir à Escócia pelo menos nesta altura do Ano é algo que não vale a pena. Entra-se numa discoteca e somos logo abocanhados. Nem temos direito a escolher a boca.
e vamos para a pista de dança somos logo apalpados. Nem temos direito a escolher apalpar em vez de sentir uma qualquer mão estranha no nosso corpo. Depois que dizer da viagem...credo horas e horas de espera, esta bem que se torna uma aventura, mas mesmo assim algum conforto fica sempre bem. em relação à vozinha da senhora no Aeroporto podias sempre por papel nos ouvidos. As tais ilhas é que realmente deu vontade de visitar, numa rápida pesquisa googleira deu pra ter uma ideia visual, mas só o facto de não partilhares esse momento dá para perceber nitidamente que foi bom, especial e uma lufada em relação aos outros casos menos bons da viagem.

atentamente
calvinn

C.M. disse...

Bem vinda!
Pelo que percebo deu para ter um bocadinho de tudo, uns momentos muito bem passados em paralelo com uma viagem e um Revellion que te deram tema para estes posts, that's nice, assim nós (os teus leitores assíduos) também somos beneficiados ;)
Conheceste de perto (muito perto) o bife bebedolas, que é uma espécie...diferente.
Beijos

Anónimo disse...

cut the crap and just give me the photos! ;)

Anónimo disse...

S.

Ah....quando penso em Skye e nas Highlands ate me falta o ar...que sitio mais magico, magestoso, imponente...nem sei. Depois de analise cuidada as (com acento grave)minhas memorias, esta deve ter sido a viagem mais bonita que ja fiz em toda mi vida (ok, nao fiz assim tantas...)

Para alem do mais, vcs estavam la! Obrigada por terem vindo...acho que foi um optima forma de comecar o 2008. Inspiradora no minimo...

Bjs
ME

PS: Acentuacao eh mentira...teclados UK

sara disse...

calvinn,
Eu acho que vale sempre a pena ir onde quer que seja. Frio ou calor, muita ou pouca luz, amabilidades ou bifes mal-encarados... Conhecer enriquece-nos!

c.m.,
Na continuação da ideia anterior, é isso. Deu para ter um bocadinho de tudo e para guardar qq coisa e escrever aqui! :)

jodua,
my darling, o PC teve que ir passar uns dias à toshiba. Algo de misterioso se passou na minha ausência, pelo que estou de mãos atadas qto a fotos. Assim que puder faço um albunzinho e mando!

ME,
palavras para quê? É, de facto, um sítio especial. Thanks again pela oportunidade de conhecer! TUGA POWER!!!! :D

Anónimo disse...

desculpa lá, mas nesta altura já não me consigo conter. q tal esqueceres essa coisa de toshiba (o nome ajuda ainda mais) e comprares 1 mac? mmm? chama-se evolução natural. e tu, melhor do q ninguém, deves perceber exactamente do que falo. embrulha! :p