05/12/07

dúvidas assim-assim

Gerir este estabelecimento só tem um pequeno senão. É que se se passa mais de alguns dias sem escrever, logo surge um indignado: “atão!?” (o rolo da massa mal escondido atrás das costas). Dantes incomodava um pouco – essa ideia de não estar a cumprir expectativas – mas com o tempo a pedrinha saltou do sapato. Claro que, para mim, este espaço só faz sentido se for para ser lido e, de preferência, comentado. De outro modo guardam-se as ideias em cadernos e gavetas. Caixas de sapatos. Ou então é largá-las algures no fundo de ouvidos atentos.

Também tenho a noção de que para cada acção existe um reacção e, na ausência de novidades, o interesse esmorece. Regra absoluta, que aceito prontamente, sem amuos.

Apesar de a minha real gana estar mais ou menos virada para outro lado, vejo-me esta noite “obrigada” a escrever uma pastelada qualquer. A causa é nobre e fraterna: M. enfrenta diariamente significativa percentagem de tempos mortos no escritório – karma desgraçado – e nesse seu ócio forçado, dedica-se a bonitas leituras electrónicas (como a que deste blog resulta!). Então, com todo o meu amor para M., aqui fica algo com que gastar cinco minutos. Pensando bem, por cinco minutos não é uma grande ajuda...

Comentava outro dia aqui a Sinhora Maria, amiga recém-bloguista, que uma das grandes questões com que se depara actualmente é “qual a relevância da minha tese?”. Deixou a coisa mais ou menos em aberto, sublinhando que não deixa de delirar quando descobre índices novos (cambada de nerds que eu conheço, chiça!..). Mas a questão que nos exibe Sinhora Maria parece-me, em si mesma, de particular relevância. Está longe de ser a primeira vez que a ouço e suponho que ainda mais longe de ser a última. Por coincidência ou não, ainda há uns dias recebi um mail deste gajo, como resposta a um artigo que lhe tinha enviado e que, segundo o próprio, o fez passar uns dias a pensar “porque raio é estou a fazer um doutoramento e onde é que isto me vai levar?”. As vezes que eu própria enfrentei a pergunta este ano foram algumas. Porquê? Para quê? Acho engraçado que a dúvida e a inquietação surjam com tanta frequência em quem se dedica à investigação e em tão menor grau no resto da população. Não me parece que seja apenas o factor económico e a instabilidade do sistema de remuneração por bolsas a dar o mote. Um doutoramento dura quatro anos, o que talvez não seja garantia menor do que a oferecida pela maioria dos empregos actualmente, para quem quer começar a trabalhar. Porque é que passamos o tempo a questionar-nos se vale realmente a pena, se tem utilidade, quando as pessoas que atendem telefones, analisam leis, criam soluções informáticas, limpam casas-de-banho, vendem imóveis ou dobram camisolas na Zara, parecem fazê-lo com tanta tranquilidade e aceitação? Sinceramente ainda não percebi porque é. À minha volta toda a gente aparenta estar segura da utilidade daquilo a que se dedica. Precisamos de casas para viver e de telemóveis para falar, de trocas comerciais e de toda a gestão, marketing e publicidade que daí advêm. Precisamos de informação, de garantir justiça, de saudinha para cá andar e de manter tudo nos conformes, dentro das normas que criámos para o efeito. Tudo bem, parece até haver um sentido comunitário. Mas individualmente, o que mantém as pessoas? A senhora que atende telefones dia após dia, o que a mantém? Ou mesmo a que gere a sua empresa, teclando no excel até altas horas da noite, o que a mantém? Porque não duvidam elas daquilo que fazem? Como é que se aceita? Como se transforma uma ideia, um conceito de necessidade, na repetição imensa dos dias? A mim faz muita confusão.

Para animar, parece que a felicidade está nas pequenas coisas. Por exemplo, não é por se substituir um peugeot 205 (grande máquina, por sinal) por um porshe que o nosso standard de felicidade se eleva. O que acontece é uma explosão de bem-estar na altura da aquisição e logo um rápido regresso aos valores de base. O que nos faz realmente sentir bem são os pormenores do dia-a-dia: um banho quente, uma refeição saborosa, umas gargalhadas, um passeio descontraído e, assim como assim, uns minutos de leitura...



(no meu caso, apanhar um gavião a jeito também surte efeito)

16 comentários:

Anónimo disse...

ai a felicidade... onde andas ??? hoje estava numa livraria e reparei que os livros de auto-ajuda florescem.. ele é anjos.. psiques.. regressões... rezas...filosofias... comprimidos.. segredos...técnicas.. visões... auras... hehehe e lembrei-me de uma hstória budista.. que passo a contar, em versão livre...."
um velho, numa aldeia, procurava uma chave nos seu quintal, 2000 anos ac.. um vizinho foi ajuda-lo,, e passado pouco tempo.. metade da aldeia estava no quintal do velho à procura da chave.. até que um deles perguntou...- velho , onde perdes-te mais ou menos a chave? a que o velho respondeu - dentro de casa, todos olharam espantados e um deles, perguntou - então, porque procuras a chave no quintal ???? -e ele responde - porque lá dentro , está escuro e não vejo nada.


e é verdade, ainda respiro
hahahah

i35

Anónimo disse...

E pronto, depois deste post, aposto que a M. está bem mais satisfeita e estes 5 minutinhos foram maravilhosos...
Confesso que venho aki espreitar quase todos os dias, n vá haver uma nova história sobre perguntas tão interessantes como "qd arranjas um EMPREGO?" ou "pq n te vestes como uma senhora?"... Já agora, levantei este ponto e eu próprio n sei...Como se veste uma senhora?
Bem, n vou deixar aki as minhas existenciais (elas tb são bastante frakinhas, além de queres saber como se veste uma senhora, passa por saber que jogos dão hoje na Sporttv, que filme dá à noite na TVC1 e a que horas dá a "Anatomia de Grey"...
Fico contente por termos tido um post hoje, já posso levantar o rabo deste meu sofá marcado pelo meu peso, com outra alegria e satisfação...pena n ter havido "perguntas interessantes"...melhores dias virão!!

P.S: Tás a ver M., se leres este meu comentário, já são + 2 minutos deitados à rua, pq realmente o q eu digo (ou escrevo) raramente se aproveita para alguma coisa!!

Beijinhos para as duas,

Tiago

Flip disse...

Olá.
O próximo comentário está longe de ser um exercício sobre a minha capacidade de síntese: tem algo como 4000 caracteres e é suficientemente desorganizado, o que facilita a identificação do autor.

Flip disse...

Eu acho que tu sabes a resposta...

Pareceu-me ao ler-te que a maioria dos bolseiros que conheces questionam-se sobre "Porque é que passamos o tempo a questionar-nos se vale realmente a pena, se tem utilidade". Porventura será isso que os leva a considerar o seu futuro percurso.

Eu vejo a investigação científica para além da utilidade e, como tal, não é o que me faz mais cócegas saber se o que eu faço hoje tem aplicação imediata ou não. Se ocorrer que o meu trabalho possa, de alguma maneira, melhorar a qualidade de vida de um qualquer ser vivo acho que vou ficar muito feliz, mas não é essa a razão primordial que me leva a estudar. Sou curioso e se me pagam para satisfazer a minha curiosidade, tanto melhor! O desenvolvimento de um corpo de conhecimento parece-me razão mais do que suficiente para colocar uma questão, e procurar resolvê-la. Relembro-me agora de um artigo que li o ano passado sobre a pressão que os pinguins fazem ao cagar....há perguntas que se calhar podem contudo ficar por responder.

Eu tenho uma bolsa de 4 anos, super bem renumerada, vivo em frente à praia numa cidade que tem um festival de jazz que dura dois meses e, bem mais importante do que tudo isso, trabalho, sem horário, com pessoal muito porreiro o que faz do meu dia a dia algo que dá vontade de repetir, mesmo que isso implique ir ao lab ao sábado e domingo. Queixar-me de que?

Lembro-me, por oposição, das hienas, que fazem sexo uma vez por ano e comem merda a maior parte do tempo. Riem de que?


Daqui a 4 anos a bolsa acaba e....so what...se é verdade que, como tu relembras no blog, produzimos trabalho científico e não temos contrato de trabalho...parece-me que todo o mercado de trabalho caminha nesse sentido: a ideia de incorporação numa empresa, ou negócio de família que seja, ad eternum, com 12 ordenados mais 2 para as férias no algarve num Agosto ao sol, e em Dezembro para o sapatinho, é uma foto amarela.

O teu paper fez-me reflectir sobre outro tópico: De que forma é feita a avaliação do trabalho científico, da qual depende termos financiamento para a próxima bolsa. Constatar que o meu putativo futuro depende de um método de avaliação demasiado subjectivo deixa-me a pensar sobre que outros futuros consigo imaginar. Acho que no fundo me permiti questionar sobre o que faço agora porque sinto que poderia estar a labutar em algo diferente.


Mas avaliados somos sempre em qualquer situação laboral. Não sendo bom...olho..da rua..

Talvez se calhar a questão surja então mais dentro da comunidade científica porque muito do seu trabalho não tem resultado prático imediato, o que nos leva a considerar sobre a sua utilidade...ainda decidem que o que eu faço não é útil...não o sendo...não financiam....é que sanitas..acho que todos nos as queremos limpas.

Ou então é preciso ter em conta a idade das pessoas que te rodeiam, recém licenciados, a iniciar uma vida laboral activa, alguns com o desejo de estabelecer uma família, comprar um T2 e ir para lá viver com a pessoa amada, ou não, e o carro..., bens de consumo, modelos consumistas a seguir não faltam...Em todos os casos de alguma forma esta parece ser uma altura em que se pode definir um rumo e, talvez por isso, a pergunta se torne pertinente, não tanto sobre a utilidade do trabalho, mas sobretudo sobre a satisfação que o mesmo nos trás e que perspectivas se vislumbram para o futuro, já que tomando-o um projecto a longo prazo, que seja uma escolha feliz.

Não deixo de notar que esta sensação de rumo a definir é, de alguma forma, uma falsa questão, pois dá a entender que uma vez o rumo tomado não há espaço para o divórcio. Pode não ser fácil, mas há.

Ou algo muito mais simples, como o hábito, o medo de mudar, preferir viver na segurança de que reconhecemos o amanhã.

Viver ou sobreviver.

Pois eu a mim custa-me um bocadinho (grande) encarar a minha única vida dessa forma. O que dá valor ao que faço, vivo e amo é precisamente o facto de serem escolhas sobre elementos não perenes. A certeza de não ser, mas antes de estar, parece-me ser a única forma de valorizar uma escolha, sobretudo no contexto de uma relação.


Eu se não estivesse a fazer o doutoramento não me importava de tocar piano em cruzeiros e passear pelo mundo, mas é tão previsível a hipótese de me deixarem a boiar sobre o instrumento em alto mar.... Ser cozinheiro num daqueles restaurantes do guincho! Ou pedir um empréstimo ao banco e comprar um restaurante que existe na praia de são Lourenço, Ericeira, e fazer dele algo que já sonhei. Ou continuar em ciência mas voltar ao que me levou para a Biologia, comportamento humano e a sua evolução, e ter um programa de televisão onde se procura responder às perguntas que o público coloca sobre o mundo natural, uma espécie de A Física no dia-a-dia, do Rómulo de Carvalho, versão audiovisual. Isso era mesmo muito muito giro!

Não me recordo de me ter preocupado muita vezes sobre o que iria fazer laboralmente....acho que o fiz quando estudava matemática e percebi que se calhar ainda ia acabar a dar aulas, ou quando estive em veterinária e descobri que afinal não sonhava em dar apoio psicológico a senhoras de idades com gatinhos...
Entretanto vou tentar tirar o curso de vela...e quando o futuro for presente se calhar até tenho um barco e posso passear os interessados ($) em agradáveis cruzeiros até ao Norte de África, ou fazer contrabando de estupefacientes ao longo da costa durante a madrugada.

Sempre quis ter uma desculpa para usar meias de pescador!

sara disse...

i35,
adoro essas histórinhas dos orientais, uma pessoa até fica aparvalhada.

Tiago,
É que tu não sabes mas eu agora visto-me como uma senhora, estou absolutamente irreconhecível, e lanço luz cor-de-rosa pelos olhos também... Tudo em tons mto femininos, claro. Por isso é que não escrevo sobre o assunto.
Questões fundamentais da bola também não fazem parte do meu repertório de dúvidas, lamento. Já a Anatomia de Grey tem o seu interesse e ontem deu um ar da sua graça logo a seguir ao Viver no Alaska. Não atentei nas horas...
Cheer up!
bjinhos

flip,
este era digno de publicares no teu próprio blog! como dizes no início, eu sei a resposta. Gosto de atirar postas de pescada pó ar e ver se alguém as come e a que é que lhes sabe. Já a sinhora Maria se viu também obrigada a um post de resposta. ;)
gostei imenso do que escreveste, está muitíssimo elucidativo.
bjs

gAnDaMaLuKo disse...

Eu começo a reparar que estes comentários se estão a tornar um bocado "lambidos".. Parece-me bem destoar um pouco.

A M. pode aplicar o tempo livre no emprego a... deixa cá ver... trabalhar (digo eu); ver a Anatomia de Grey continua a ser um pouco bichano (as gajas não são assim tão boas, pá!); e se vestires-te "como uma senhora" implica colocar uns brincos e deixar os Timberland em casa, então esquece! Há!, isso da "luz cor-de-rosa pelos olhos" chama-se conjuntivite!

Anónimo disse...

Acho q n � de bom tom, pessoas q n conseguem diferenciar a M e a S de costas, venham para aki dar a sua opini�o e ainda por cima t�o frakinha...Sim, pq toda a gente sabe q a Anatomia de Grey tem meninas bastante engra�adas...
Mas pronto...
Tou aki hesitante se deverei filosofar um bocado, embora me parece q o cargo de filosofo ja esteja atribuido...
Brankinho, o q fazes hoje?

T

gAnDaMaLuKo disse...

O meu próximo comentário tem algo como 27 caracteres, mas este não.
Se achas a Anatomia de Grey um programa a ver, pelas babes que apresenta, então é porque és rapaz para ficar colado ao ecran quando passa o Queer Eye For The Straight Guy.
Quanto a confundir a M. e a S. de costas, até faz sentido, visto que apesar de uma ter costas mui bó-nitas, a outra tem-nas muito quentinhas (??!?). Ainda não consigo é associar qual é qual (mas a prática leva à perfeição).
Quanto a planos para hoje, acho que nenhum faz o teu feitio.

Creizi prógram náite tumórrou?

Flip disse...

gandamaluko.
Estudaste em utrecht?ou aquelas fotos que me parecem ser de Uithof sao de uma escursao niponica ao edificio da universidade desenhado pelo Rem Koolhaas;)

um abraco
flip

Anónimo disse...

Há pessoas que fazem tudo para exibirem o q sabem... Será pa combater inseguranças noutros campos ou será na tentativa de ter o que nunca conseguiram em 8 anos?

Não me parece q vão ter muita sorte, mais vale filosofar...

gAnDaMaLuKo disse...

flip, vou tentar fazer uso do meu poder de síntese e responder-te em menos de 65000 caracteres.
Não estudei em Utrecht. Na verdade, só lá ia por razões de ordem feromonal.
Nunca perdi muito tempo a visitar essa bela localidade, mas pela forma como tu a "pintas", parece-me que talvez devesse lá ter estado mais vezes.
Quanto ao Rem Koolhaas, preferia admirar as obras dele em Roterdão e Haia. Aqui o Lopes é fulano para apreciar muito o Museu de Arte de Roterdão, (e o terminal dos autocarros), bem como a Academia de Dança em Haia, mas acha que não é preciso ir tão longe para descobrir uma obra dele (a Casa da Música, no Porto, é da sua autoria.. como deve ser do teu conhecimento). Mas como se diz por lá, Zalig zijn de dommen.

E eu que ia acordando numa banheira cheia de gelo e sem um rim a caminho de casa do Quimdrocas, hein?

Anónimo disse...

Gandadoido, n é bonito vires dizer q uma coisa q o "flop" disse n é verdade...Como é q ele alguem se pode exibir qd outro lhe tira todo o brilho??
Vamos lá ver nos entendemos e deixar o miúdo brilhar...

Quato à banheiroca, posso dizer q o mm pensamento me passou pela cabeça a caminho do largo c 3 árvores... Quimpê, quimpê...Andas por sitios escuros com a alma limpa, sem contar com o que se pode atravessar à tua frente.

T

SemNexo disse...

Querida S.
com tanto blá blá de bolsas e doutoramentos, ficou-me na cabeça apenas o teu último parágrafo (e a foto, claro)... è que da história das bolsas já estou fartinha!
Sim, de facto felicidade é feita de pequenas coisas... e só quando eu percebi isso, depois de um momento menos bom da minha vida (parece que as viragens ´so se dão em situações más...), é que me considerei feliz. SOU FELIZ ( e desta vez apregoo isto sóbria...)! e sabes que a minha vida anda um caos... mas gostei do café ctg hoje, do bolo que comi ao lanche, do telefonema que acabei de receber... pequenas coisas...
Acabei a pensar naquele exercício que fizémos durante um mês, sobre o qual te mantiveste muito céptica, mas que para mim foi uma lufada de ar fresco... o das três coisas... E repara que muitas vezes acabávamos na tonelada de gomas que comemos e no até quão tarde dormimos...

beijinhos

sara disse...

Lol! Eheheh...

1 - sono muito tranquilo até ao meio-dia(esqueci-m do despertador!)
2 - a M. trouxe um sacão de gomas do lidl para casa
3 - café no Mocho c a senhora mini-stress, sem que os empregados nos ignorassem

(como vês tudo na mesma)

bacci

Anónimo disse...

Flip, o objectivo de investir na educação, num projecto profissional, não é só a realização pessoal. Também convém que sejamos pagos pelo nosso trabalho. A não ser que não te importes de viver às custas de alguém. Já não és o primeiro a dizer (e até foi relativamente aos bolseiros de investigação) que estes têm o privilégio de ser pagos para fazer uma coisa de que gostam. Privilégio?
A tristeza é haver muita gente a ter que fazer algo de que não gosta.

sara disse...

e quem fala assim não é gago!