06/12/07

aniversários

Rara a pessoa que passa por eles indiferente, sendo que uns adoram e outros consideram a experiência desagradável, por um ou outro motivo. No meu caso, confesso, nunca fui grande fã. Tirando os anos da infância em que receber presentes e ter a casa cheia de gente me deixava verdadeiramente feliz, desde cedo que cada ano que passa me causa uma ligeira angústia. Não é por ficar mais velha, que essa noção nem sequer tem muito de real – não é de um dia para o outro que me transformo (ou talvez seja, mas decididamente não por fazer anos!). Há quem diga que é um dia em que se pensa muito em si próprio e que, havendo descontentamentos com a vida, eles saltam cá para fora menos controlados. Mas também não acredito que todo o santo ano – quase desde que me conheço – esteja descontente com a vida. Seria demais! Para além do que penso em mim própria e no lugar que ocupo no mundo dia sim, dia não.

Depois de muito ponderar, cheguei à conclusão que não gosto de fazer anos porque me sinto sozinha. Aquela atenção que nos dedicam em telefonemas, a cantar “parabéns a você”, a tratar-nos por “o nosso bebé”, resulta para mim como se me pusessem do lado de fora e me olhassem todos de dentro, sorrindo amigavelmente. É bom que sorriam e nos acenem, mas é ainda melhor fazer parte do todo, sem a segregação. Não gosto de me sentir de parte, que não partilhemos preparativos, detesto que segredem ideias para presentes e combinem encontros secretos para os comprar, onde eu não poderei ser incluída. Parece tonto? Pois que seja. Gozo com a M. por chorar quando lhe cantam os parabéns mas entendo-a perfeitamente. É o símbolo último dessa solidão de fazer anos: uma multidão alegre que canta, fixando-nos, enquanto somos forçados a ficar calados e suportar todo e cada olhar que se nos dirige. Socialmente, trata-se de uma exposição considerável e, para mim, um pouco agressiva.

Depois há os telefonemas vários de todas as pessoas com quem falamos uma vez por ano e nos lançam aquele género de perguntas “então, que andas a fazer agora?”, às quais nos apetece imediatamente desligar o telefone, nem que seja por exaustão (que andamos desde manhã a resumir a vida em capítulos hiper condensados para satisfazer quem liga). Neste dia vão-nos dar atenção de um modo quase exigente, vão querer saber que planos temos, porquê, onde e com quem. E nós temos que o permitir. Se organizamos um jantar, a lista de convidados tende a extender-se ao triplo do desejado porque “se vai este, então tem que vir também o outro” e, no final, sentar as pessoas de modo a que toda a gente tenha parceiro adequado e se sinta bem é outro desafio. A noite é passada a saltitar de um lado para o outro para se conseguirem dois dedos de conversa com cada um e, bem vistas as coisas, sabe sempre a pouco. Eu não sou assim, saltitante. Mas, como se faz anos, é suposto estar-se nas nuvens. Veste-se essa carapaça (é só mais uma) e amansam-se as expectativas sem fazer ondas. Então, se por um lado gosto muito do dia sete e o associo sempre a mim e à bisavó desconhecida que me deixou o nome, por outro lado também é verdade que ele acaba por ser um símbolo de solidão.

Há histórias engraçadas de aniversários aí fora para contar? Aqui em casa repete-se aquela do dia em que eu, com seis ou sete anos, me casei em cerimónia pomposa com o namorado da altura, um tal de Bruno, segundo orientação e preparativos da Ilda, a nossa empregada na época (personagem com muito que se lhe diga). Vestiu-me de branco, pintou-me e arranjou até pétalas que todos os miúdos lançavam, delirantes. O Bruno, também muito divertido, vestia um casaco do meu pai que lhe ia até aos pés. Do resto já não me lembro bem, mas creio que chegámos a ter um filho, se é que ele não ia já enfiado debaixo do vestido na altura do casamento. Algum dos presentes se lembra deste pormenor? Vindo da Ilda, é bem possível.

Trago também algumas recordações das festas em que a minha madrinha aparecia mais cedo e insistia em fazer a decoração da sala com grandes laçarotes por todo o lado. Como imaginam, sempre fui muito dada a essas coisas e não me envergonhava absolutamente nada quando as minhas amigas apareciam...

Bem, mas este ano a M. acabou de receber o primeiro ordenado e calcorreámos o Colombo há uns dias para ela dar provas da sua dedicação fraterna. E que bem que lhe ficou. Já compensa alguns telefonemas, senão mesmo um parabéns a você!

11 comentários:

Anónimo disse...

Ok krida S.!!!!!!!
Fonix...assim não me deixas contribuir para a phone-ix.
Tá bem,eu não telefono amanhã.
Tb não kero saber kem vai jantar, nem se já acabaste a "coisa".
Se calhar nem vou jantar...
Tb fico feliz por não ter k subir
4 andares com uma gripalhada de sufocar.
Mas giro... giro é k pra além do natal, aki tá mais 1 coisa em k me identifico ktigo. Será genético?
Se fui eu k te "peguei" dxculpa lá o mau jeito !!!!!

Bjinhos de parabéns
titiokrido

sara disse...

LOL! :D

contribui
telefona
vem
vêm os de sempre
sobe os 4 andares que faz bem ao catarro
e sim, a mac continua a resmungar "miúda estuporada, tinhas que sair ao teu tio"

Anónimo disse...

aniversários = natal. qd é q essa m...... acaba? :)

Anónimo disse...

Um bom dia como os outros! já reparaste que estás um dia mais velha?

BJO I31

Anónimo disse...

Quando nascemos e à medida q vamos crescendo, é-nos trasmitido uma data de aniversário, e é nesse dia q nos habituamos a receber prendas, a ver os amigos e familiares, a celebrar, a soprar as velas, tudo só porque é o q nos mostram q é isso q se costuma fazer.
Quando ficamos mais velhos, entram pessoas nas nossas vidas que por vezes ganham maior importância que nós próprios. Quando isso acontece, o nosso mundo agita-se, gira e transforma-se.
Posso dizer bem alto, que já vivi vários dias 7 de Dezembro bastante felizes, onde a minha felicidade era a de outra pessoa, onde tudo parava (ainda + q nos outros dias) e apenas akela pessoa interessava.
Fico contente por os ter vivido, fico contente por eles terem existido...Obrigado.

T

Anónimo disse...

Querida S. desde 1981 os dias 7 de Dezembro passaram a ter uma graça especial mas sempre com a sensação que definivamente a arte de organizadora de eventos não me tinha saído na rifa, à nascença. As festas organizadas para a menina mais linda do Mundo nunca atingiam o aprumo na apresentação e pormenores conseguidas por tantas outras na mesma situação. Até ao dia em que a Tia A. passou a desembarcar previamente e se incumbiu da espinhosa tarefa de decorar o nosso lar. Pensei ... a minha Princesa finalmente tem o que merece. Está bem, como eu na vida só fazer coisas do tipo cálculos em excel (pelo menos no futuro), dos pormenores trata a Fantástica Tia e a festa passa a ser ...perfeita.
Pois podias ter avisado que nem laços, nem velas. Tinhamos sido as duas ainda mais felizes. Já podiamos festejar o dia das Ss desta forma há muitos mais anos.
Afinal a genética tb funcionou um bocadinho cá para este lado.
Angústias profissionais ??? Não caias nessa ! Como diria a M. "carpe diem". Vai em frente !

sara disse...

o jodua é cá dos meus.
mas mto obrigada a toda a gente que se lembrou de mim! i31, foi um bom dia como os outros. :)

T.
Não sei se me fiz entender nesta coisa. Não é por sentir uma angústia de fundo durante este dia que o passo mal. As pessoas lembram-se de mim e fico verdadeiramente agradecida (às que nao me fazem perguntas da seca, claro!). Não ando de trombas nem respondo mal, aceito parabéns e presentes e tudo o mais. Adorava a dedicação que punhas nesses dias sete. A sério. Só que sinto-me estranha quando faço anos, parece que é um dia que me escapa. Um dia cheio de "devia ser" que, por isso mesmo, não consigo viver com normalidade. Já sei que não entendes, não "concordas", não vale a pena bater na mesma tecla... Esta é uma emoção de mim para mim. Mas, sim, sempre tivemos bons setes e dezoitos. ;)
bjinhos

mac,
Tudo muito lindo mas agora já está! Traumatizada para todo o sempre com o raio dos laços! Bem sabes que "aprumo na apresentação e pormenores", definitivamente, não é comigo... Hereditário? Sem dúvida. :p
A das angústias profissionais refere-se ao post anterior é?

calvinn disse...

Acho irónico comemorarmos a data no nosso nascimento, sabendo nós que a cada aniversario que passa, estamos um ano mais perto do fim da nossa existência.

SemNexo disse...

S.
Eu revejo-me muito no comentário do T. O bom, no nosso dia de anos, é quando temos alguém que renuncia à sua vidinha diária para passar o dia inteirinho connosco disposto a não nos deixar nem o momento sós... Quase só os namorados o fazem... mas eu tenho a sorte de ter amigos que o fazem e, por isso, não me entra o bicho da solidão. Os bons amigos compram a prenda na véspera ( ;) )
O que é importante, s., é que nao os afastes quando o querem fazer... Não deves fazer um jantar por obrigação... Para o ano que vem deixo de respeitar a tua bolha, e rapto-te para passares o dia INTEIRINHO comigo... só te deixo ir a casa jantar e espero à tua porta para seguirmos pá noite! A bem ou a mal isto vai acontecer!

O noivo Titus disse...

Calvinn,
todos os dias quando acordas é menos um dia que te resta, é um dia mais perto do fim da nossa existência...E por isso é suposto acordar-se de trombas ou com pouca vontade de aproveitar o dia? Acho q o objectivo de comemorar os aniversários é, sempre na mesma data, comemorar o dia em que nasceste, o dia em q vieste ao mundo e não o dia que tá a passar. Mas isso é a minha opinião e aceito outras.


Semnexo,
obrigado por concordares cmg, tava dificil alguem entender-me!! :) Mas tb devo confessar que tb concordo ctg (e n é so simpatia) na parte dos amigos tb fazerem isso, às vezes sinto falta de ter um pekeno grupo de amigos (4, 5 ou mm 6) em que somos todos tão unidos que fazemos tudo juntos e que os aniversários dos outros são quase como os nossos. Acho que todos já passámos por isso ou já tivemos amigos desses, mas depois tanta coisa vai mudando, vai-se para universidades diferentes, namorados e namoradas aparecem, novos amigos, passagens de anos em sitios diferentes, etc, e quando se dá por ela, a distância apareceu e se calhar n há força para a encurtar.

Gosto qd sinto que tenho amigos sinceros que se esforçam por encurtar essa diferença. Eles que venham, nunca são demais...

sara disse...

calvinn,
Talvez seja... Só que ninguém se lembra que morre, a não ser os velhos (e talvez por isso se mostrem tantas vezes cerimoniosos em relação aos aniversários).

De qualquer modo penso que é um dia mais para os outros do que para ti. Eles celebram a tua existência - tu já o fazes diariamente. A comemoração às vezes passa por tentar fazer com que te sintas bem (se forem próximos e preocupados), outras vezes, simplesmente, por seguir o protocolo.

SemNexo,
Lol! Adorei "os bons amigos compram a prenda na véspera". Só não percebi o que disseste sobre afastar os amigos que "o querem fazer" (fazer o quê, comprar a prenda de véspera?). Quanto a jantares por obrigação, acho que é óbvio... :)
E sobre bolhas: às vezes tenho-as, mas nem tem calhado serem nestas ocasiões. Só gosto que sejam dias normais. E se a tua irmã se lembra de almoçar ctg num sítio diferente, as explicações correm bem, em casa tudo contente e, à noite, uma dessas amigas BOUAS te liga para um giro, tanto melhor!

NOTA: A ameaça de rapto é altamente querida! :)