Rara a pessoa que passa por eles indiferente, sendo que uns adoram e outros consideram a experiência desagradável, por um ou outro motivo. No meu caso, confesso, nunca fui grande fã. Tirando os anos da infância em que receber presentes e ter a casa cheia de gente me deixava verdadeiramente feliz, desde cedo que cada ano que passa me causa uma ligeira angústia. Não é por ficar mais velha, que essa noção nem sequer tem muito de real – não é de um dia para o outro que me transformo (ou talvez seja, mas decididamente não por fazer anos!). Há quem diga que é um dia em que se pensa muito em si próprio e que, havendo descontentamentos com a vida, eles saltam cá para fora menos controlados. Mas também não acredito que todo o santo ano – quase desde que me conheço – esteja descontente com a vida. Seria demais! Para além do que penso em mim própria e no lugar que ocupo no mundo dia sim, dia não.
Depois de muito ponderar, cheguei à conclusão que não gosto de fazer anos porque me sinto sozinha. Aquela atenção que nos dedicam em telefonemas, a cantar “parabéns a você”, a tratar-nos por “o nosso bebé”, resulta para mim como se me pusessem do lado de fora e me olhassem todos de dentro, sorrindo amigavelmente. É bom que sorriam e nos acenem, mas é ainda melhor fazer parte do todo, sem a segregação. Não gosto de me sentir de parte, que não partilhemos preparativos, detesto que segredem ideias para presentes e combinem encontros secretos para os comprar, onde eu não poderei ser incluída. Parece tonto? Pois que seja. Gozo com a M. por chorar quando lhe cantam os parabéns mas entendo-a perfeitamente. É o símbolo último dessa solidão de fazer anos: uma multidão alegre que canta, fixando-nos, enquanto somos forçados a ficar calados e suportar todo e cada olhar que se nos dirige. Socialmente, trata-se de uma exposição considerável e, para mim, um pouco agressiva.
Depois há os telefonemas vários de todas as pessoas com quem falamos uma vez por ano e nos lançam aquele género de perguntas “então, que andas a fazer agora?”, às quais nos apetece imediatamente desligar o telefone, nem que seja por exaustão (que andamos desde manhã a resumir a vida em capítulos hiper condensados para satisfazer quem liga). Neste dia vão-nos dar atenção de um modo quase exigente, vão querer saber que planos temos, porquê, onde e com quem. E nós temos que o permitir. Se organizamos um jantar, a lista de convidados tende a extender-se ao triplo do desejado porque “se vai este, então tem que vir também o outro” e, no final, sentar as pessoas de modo a que toda a gente tenha parceiro adequado e se sinta bem é outro desafio. A noite é passada a saltitar de um lado para o outro para se conseguirem dois dedos de conversa com cada um e, bem vistas as coisas, sabe sempre a pouco. Eu não sou assim, saltitante. Mas, como se faz anos, é suposto estar-se nas nuvens. Veste-se essa carapaça (é só mais uma) e amansam-se as expectativas sem fazer ondas. Então, se por um lado gosto muito do dia sete e o associo sempre a mim e à bisavó desconhecida que me deixou o nome, por outro lado também é verdade que ele acaba por ser um símbolo de solidão.
Há histórias engraçadas de aniversários aí fora para contar? Aqui em casa repete-se aquela do dia em que eu, com seis ou sete anos, me casei em cerimónia pomposa com o namorado da altura, um tal de Bruno, segundo orientação e preparativos da Ilda, a nossa empregada na época (personagem com muito que se lhe diga). Vestiu-me de branco, pintou-me e arranjou até pétalas que todos os miúdos lançavam, delirantes. O Bruno, também muito divertido, vestia um casaco do meu pai que lhe ia até aos pés. Do resto já não me lembro bem, mas creio que chegámos a ter um filho, se é que ele não ia já enfiado debaixo do vestido na altura do casamento. Algum dos presentes se lembra deste pormenor? Vindo da Ilda, é bem possível.
Trago também algumas recordações das festas em que a minha madrinha aparecia mais cedo e insistia em fazer a decoração da sala com grandes laçarotes por todo o lado. Como imaginam, sempre fui muito dada a essas coisas e não me envergonhava absolutamente nada quando as minhas amigas apareciam...
Bem, mas este ano a M. acabou de receber o primeiro ordenado e calcorreámos o Colombo há uns dias para ela dar provas da sua dedicação fraterna. E que bem que lhe ficou. Já compensa alguns telefonemas, senão mesmo um parabéns a você!
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11 comentários:
Ok krida S.!!!!!!!
Fonix...assim não me deixas contribuir para a phone-ix.
Tá bem,eu não telefono amanhã.
Tb não kero saber kem vai jantar, nem se já acabaste a "coisa".
Se calhar nem vou jantar...
Tb fico feliz por não ter k subir
4 andares com uma gripalhada de sufocar.
Mas giro... giro é k pra além do natal, aki tá mais 1 coisa em k me identifico ktigo. Será genético?
Se fui eu k te "peguei" dxculpa lá o mau jeito !!!!!
Bjinhos de parabéns
titiokrido
LOL! :D
contribui
telefona
vem
vêm os de sempre
sobe os 4 andares que faz bem ao catarro
e sim, a mac continua a resmungar "miúda estuporada, tinhas que sair ao teu tio"
aniversários = natal. qd é q essa m...... acaba? :)
Um bom dia como os outros! já reparaste que estás um dia mais velha?
BJO I31
Quando nascemos e à medida q vamos crescendo, é-nos trasmitido uma data de aniversário, e é nesse dia q nos habituamos a receber prendas, a ver os amigos e familiares, a celebrar, a soprar as velas, tudo só porque é o q nos mostram q é isso q se costuma fazer.
Quando ficamos mais velhos, entram pessoas nas nossas vidas que por vezes ganham maior importância que nós próprios. Quando isso acontece, o nosso mundo agita-se, gira e transforma-se.
Posso dizer bem alto, que já vivi vários dias 7 de Dezembro bastante felizes, onde a minha felicidade era a de outra pessoa, onde tudo parava (ainda + q nos outros dias) e apenas akela pessoa interessava.
Fico contente por os ter vivido, fico contente por eles terem existido...Obrigado.
T
Querida S. desde 1981 os dias 7 de Dezembro passaram a ter uma graça especial mas sempre com a sensação que definivamente a arte de organizadora de eventos não me tinha saído na rifa, à nascença. As festas organizadas para a menina mais linda do Mundo nunca atingiam o aprumo na apresentação e pormenores conseguidas por tantas outras na mesma situação. Até ao dia em que a Tia A. passou a desembarcar previamente e se incumbiu da espinhosa tarefa de decorar o nosso lar. Pensei ... a minha Princesa finalmente tem o que merece. Está bem, como eu na vida só fazer coisas do tipo cálculos em excel (pelo menos no futuro), dos pormenores trata a Fantástica Tia e a festa passa a ser ...perfeita.
Pois podias ter avisado que nem laços, nem velas. Tinhamos sido as duas ainda mais felizes. Já podiamos festejar o dia das Ss desta forma há muitos mais anos.
Afinal a genética tb funcionou um bocadinho cá para este lado.
Angústias profissionais ??? Não caias nessa ! Como diria a M. "carpe diem". Vai em frente !
o jodua é cá dos meus.
mas mto obrigada a toda a gente que se lembrou de mim! i31, foi um bom dia como os outros. :)
T.
Não sei se me fiz entender nesta coisa. Não é por sentir uma angústia de fundo durante este dia que o passo mal. As pessoas lembram-se de mim e fico verdadeiramente agradecida (às que nao me fazem perguntas da seca, claro!). Não ando de trombas nem respondo mal, aceito parabéns e presentes e tudo o mais. Adorava a dedicação que punhas nesses dias sete. A sério. Só que sinto-me estranha quando faço anos, parece que é um dia que me escapa. Um dia cheio de "devia ser" que, por isso mesmo, não consigo viver com normalidade. Já sei que não entendes, não "concordas", não vale a pena bater na mesma tecla... Esta é uma emoção de mim para mim. Mas, sim, sempre tivemos bons setes e dezoitos. ;)
bjinhos
mac,
Tudo muito lindo mas agora já está! Traumatizada para todo o sempre com o raio dos laços! Bem sabes que "aprumo na apresentação e pormenores", definitivamente, não é comigo... Hereditário? Sem dúvida. :p
A das angústias profissionais refere-se ao post anterior é?
Acho irónico comemorarmos a data no nosso nascimento, sabendo nós que a cada aniversario que passa, estamos um ano mais perto do fim da nossa existência.
S.
Eu revejo-me muito no comentário do T. O bom, no nosso dia de anos, é quando temos alguém que renuncia à sua vidinha diária para passar o dia inteirinho connosco disposto a não nos deixar nem o momento sós... Quase só os namorados o fazem... mas eu tenho a sorte de ter amigos que o fazem e, por isso, não me entra o bicho da solidão. Os bons amigos compram a prenda na véspera ( ;) )
O que é importante, s., é que nao os afastes quando o querem fazer... Não deves fazer um jantar por obrigação... Para o ano que vem deixo de respeitar a tua bolha, e rapto-te para passares o dia INTEIRINHO comigo... só te deixo ir a casa jantar e espero à tua porta para seguirmos pá noite! A bem ou a mal isto vai acontecer!
Calvinn,
todos os dias quando acordas é menos um dia que te resta, é um dia mais perto do fim da nossa existência...E por isso é suposto acordar-se de trombas ou com pouca vontade de aproveitar o dia? Acho q o objectivo de comemorar os aniversários é, sempre na mesma data, comemorar o dia em que nasceste, o dia em q vieste ao mundo e não o dia que tá a passar. Mas isso é a minha opinião e aceito outras.
Semnexo,
obrigado por concordares cmg, tava dificil alguem entender-me!! :) Mas tb devo confessar que tb concordo ctg (e n é so simpatia) na parte dos amigos tb fazerem isso, às vezes sinto falta de ter um pekeno grupo de amigos (4, 5 ou mm 6) em que somos todos tão unidos que fazemos tudo juntos e que os aniversários dos outros são quase como os nossos. Acho que todos já passámos por isso ou já tivemos amigos desses, mas depois tanta coisa vai mudando, vai-se para universidades diferentes, namorados e namoradas aparecem, novos amigos, passagens de anos em sitios diferentes, etc, e quando se dá por ela, a distância apareceu e se calhar n há força para a encurtar.
Gosto qd sinto que tenho amigos sinceros que se esforçam por encurtar essa diferença. Eles que venham, nunca são demais...
calvinn,
Talvez seja... Só que ninguém se lembra que morre, a não ser os velhos (e talvez por isso se mostrem tantas vezes cerimoniosos em relação aos aniversários).
De qualquer modo penso que é um dia mais para os outros do que para ti. Eles celebram a tua existência - tu já o fazes diariamente. A comemoração às vezes passa por tentar fazer com que te sintas bem (se forem próximos e preocupados), outras vezes, simplesmente, por seguir o protocolo.
SemNexo,
Lol! Adorei "os bons amigos compram a prenda na véspera". Só não percebi o que disseste sobre afastar os amigos que "o querem fazer" (fazer o quê, comprar a prenda de véspera?). Quanto a jantares por obrigação, acho que é óbvio... :)
E sobre bolhas: às vezes tenho-as, mas nem tem calhado serem nestas ocasiões. Só gosto que sejam dias normais. E se a tua irmã se lembra de almoçar ctg num sítio diferente, as explicações correm bem, em casa tudo contente e, à noite, uma dessas amigas BOUAS te liga para um giro, tanto melhor!
NOTA: A ameaça de rapto é altamente querida! :)
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