31/07/07

escapadas

Diz que todos os malandros têm sorte.

Eu não sou malandra, mas pelos vistos também não tenho azar...


Volto lá para 10. Boas férias! :)))))

29/07/07

uma real situação

Como já se sabe, o Português é língua traiçoeira. Quando acrescentamos a isso o confronto entre o luso e o brasileiro, a coisa pode correr ainda pior. A minha avó, por exemplo, ouve mal e para se entender com a senhora brasileira que lá dorme em casa é o cabo dos trabalhos.

Mas não é preciso ser-se idoso e fraco de ouvido. Dado que abriu oficialmente a época depilatória, nada mais aceitável do que passar meia horinha a ser puxada e repuxada por uma brasileira, de modo a exibir mais tarde uma impuberdade que já não existe. Tudo ok. A questão é: quando ela nos pergunta "anûs, cê faz?", até que ponto será normal responder "sim, sim, em Março"?...

26/07/07

ser humano

Preciso de alguém que me diga que os médicos se preocupam com os doentes. Preciso que me assegurem de que não há um sistema ao qual se acomodam por conforto, descurando aquilo que devia ser o motor da sua actividade: o cuidado com os outros.

Na nossa terra um médico é muito, mas muito mais, que um profissional de saúde. Conheci um estudante de medicina espanhol que passou cá um ano e que se mostrava sempre surpreendido com o “mito dos doutores” em Portugal. Não compreendia porque havíamos de considerar mais um médico e dar-lhe mais regalias do que a um bancário, a um engenheiro mecânico ou mesmo a um veterinário.

Bem sei que tratam pessoas, mas também os enfermeiros! Bem sei que estudam muito para conseguirem resolver problemas, mas por isso são bem pagos (embora raramente o assumam ou, talvez, sequer tenham consciência disso).

Ontem perguntei a um desses seres supra-humanos porque é que tinha deixado parte da tripa do meu avô cá fora com um golpezinho por onde sai merda. Olhou-me como se eu fosse de outra dimensão. Como se o suposto para o comum dos mortais fosse ver uma bola de intestino e ficar calado, acatando as decisões da bata branca.
Condescendente e a suspirar, acabou por me resmungar qualquer coisa desconexa e nitidamente a despachar. Que não percebi. Mais tarde um Non medicis vulgaris tratou de me explicar que efeito surtia aquele aparato.

Hoje a minha avó foi a uma consulta ouvir um discurso sobre as coisas erradas que tem andado a fazer na sua recuperação. Quando, há um mês, saiu do hospital com um colete vestido, umas receitas de medicamentos, e nenhuma recomendação! Quando tivémos que andar a telefonar para médicos amigos para que nos informassem dos cuidados a ter! E, como se não fosse suficiente, ele diz-lhe ainda “tem de parar com as quedas, que a senhora já não tem idade para estas coisas”. Não é surreal? Sim, de facto, a minha avó tem um gozo especial em cair e fracturar o que quer que seja, mas se calhar o melhor agora é mudar de actividade. Com 87 anos pode-lhe começar a fazer mal. Talvez crochet ou leitura sejam mais adequados...

As horas que nos deixam à espera, os maus modos com que às vezes nos minimizam as dores, o gozo com que comentam os doentes “rídiculos” entre si, tudo isto me faz saltar a tampa. Fazem-no porque podem, porque se desligam da nossa humanidade e nos tratam como casos. Não há consequências.

Só que nós não somos só casos e eles não são só cientistas. Deveriam senti-lo, para além de o saber, mas isso não acontece. É que a eles ninguém trata como casos, estão sempre bem protegidos pelas muralhas dos seus canudos, pelas posições dentro de clínicas e hospitais e por todos os amigos doutores que vão fazendo pelo caminho.

Não vou esmifrar aqui todas as histórias pessoais que poderia contar. A verdade é que, ao longo da vida, tenho conhecido mais médicos estúpidos do que dedicados. E o engraçado é que a medicina, como actividade, é estimulante, poderosa e nobre. Por isso, talvez só as pessoas com essas mesmas qualidades a devessem exercer. Assim de repente consigo pensar em três ou quatro (e a essas, como é óbvio, não dirijo o discurso), mas, de qualquer modo, parece-me um número extraordinariamente baixo.

25/07/07

a ver se percebem

Há algumas chatices que advêm de se ser curioso e idealista. Uma delas é descobrir a Hipótese da Origem da Vida de Oparin-Haldane e logo depois a teoria da Evolução de Wallace-Darwin e acabar a ser biólogo. Uma maçada. Um fascínio adolescente pelos mistérios da vida, pela relação entre as coisas, pelos motivos básicos de tudo o que somos e, talvez não menos, por essa beleza estúpida que só a natureza consegue ter.

Vai-se estudando, vai-se aprendendo aqui e ali e descobrindo, pouco a pouco, os assuntos que nos arregalam o olho e enchem as medidas. Nada será tão fantástico como o dia em que descobrimos a selecção natural, claro, mas a etologia virá dar uns ares de graça lá para o fim do curso e tudo irá de feição. Certezas, tantas certezas...

É encantador ser-se biólogo. Não só para quem o é, mas para todos os que vêem de fora e romanceiam vidas de ar livre, aventura e bichinhos a comer-nos nas mãos. O filme não é bem esse... Mas não deixa de ser um encanto andar no campo, tentar entranhar-se na vida dos animais que se estuda ou, simplesmente, olhar para tabelas de significância estatística que nos dizem “sim, tinhas razão” (ok, ok, isto da estatística perfeitinha não acontece propriamente comigo).

Ao fim de pouco tempo começamos, no entanto, a dar-nos conta de uma séria limitação: é que a investigação raras vezes dá dinheiro. E é ver-nos então “ó-tio-ó-tio, que eu até gostava de sair de casa dos meus pais mas não me apetece nada ir viver para debaixo da ponte!”. Pois é. Mas pior, é ver colegas bastante mais velhos “ó-tio-ó-tio, tenho dois filhos e fiquei sem bolsa!”.

Uma pessoa põe-se a matutar... Adoptar ou não adoptar o desenrascanço como modus vivendi? Multiplicar-se em funções e ocupações menos especializadas para sustentar o tal fascínio?

Volto imediatamente ao caldo primitivo e àquela malfadada aula, às carteiras de madeira em que a mesa e o assento eram um só e o tampo se levantava para dar arrumação aos livros, à janela aberta para uma Duque d’Ávila apressada, ao sol que inundava toda a sala, aos meus amigos empurrando-se para a porta após o toque e aos Pearl Jam a gemer baixinho no walkman. “Oceans” era a música que ouvia no momento em que percebi que havia coisas definitivas. Uma delas, é que estudaria biologia.

Aquilo que estudamos deixa marcas fundas e estou segura de que parte do que sou, o devo a essa formação. O resto é coisa de condição inata, sou bastante fraca em matéria de “a vida é dura”. É dura, a vida? Acredito. Ouço dizê-lo a propósito de nada e de tudo. Mas, ao ouvi-lo, ao vê-lo, a vontade que me dá, não é a de vencer. Quero lá saber de vencer! Só gostava de compreender.

(visitem-me depois debaixo da ponte e contem-me histórias...)

19/07/07

no saldanha, rápido!

À Marili (não confundir com a Marilyn das saias voadoras que sussurrava "happy birthday mr. president"), essa notável madeirense que não morre de amores pelo Alberto João, a mais temida das "amigas dos golfinhos" dos açores e também aquela que faz as alegrias do meu pai ao contrabandear-lhe certo produto insular para o continente, a essa Marili única (e muito melhor do que a outra das saias esvoaçantes!), hoje, uma palavra de apreço especial. Obrigada pela prontidão e pela companhia! :)

17/07/07

baixos e altos


Não gosto de hospitais. Esmagam-me, à entrada, pelo cheiro. Depois é o som que os ténis vão deixando nos corredores. Por leve que o assunto possa ser, acabo por chegar ao quarto de quem visito já com uma sensação estranha no peito. A consciência da dor, talvez.

Médicos, nunca chego a vê-los. As enfermeiras parecem-me autómatos. Corre a cortina, pega no tubo, roda a torneira, muda o saco, injecta a droga, roda a torneira, deita fora o lixo, olha o soro, corre a cortina. Chegam e partem, invisíveis como todos os fantasmas.

Sei que me engano. Os hospitais são casas de sarar em que todos trabalham pelo bem-estar das pessoas e é graças a estes lugares que se devolvem vidas. Eu sei. Mas, assim que entro, é como se não soubesse.

Ao regressar da twilight zone tenho dificuldade em normalizar, a ansiedade instalada oficialmente debaixo da pele. Mas então toco à porta do destino seguinte e sou recebida por uma criatura de cinco anos que se espreme numa posição ninja e me lança no seu timbre mais tenebroso: Queles andale à fight, cala cú?

E o sentido das coisas perde um bocado a importância.

16/07/07

hormonas saltitantes

Quero deixar aqui uma ideia que só agora começo verdadeiramente a assimilar. É que existem apenas duas fases na vida de uma pessoa: a pré-sexual e a sexual. Tudo o resto são extras, pormenores, pequenas barreiras que se vão ultrapassando, dores que encaixamos a contra-gosto e ideias que fixamos sem o sabermos.

Em criança, a paixão surge pelos pais (em especial pela mãe) e por eles ansiamos e procuramos contacto físico. Desejamos profundamente que nos aprovem e amem e sofremos imenso quando se distanciam de nós.

Não, “paixão” não é termo impróprio. De todo.

Li há uns dias num artigo impressionante da investigadora Lisa Diamond (2003), que existe uma ligação muito provável entre a neuroquímica destes comportamentos infantis e a dos comportamentos característicos da paixão romântica no adulto. Os sintomas são praticamente os mesmos e é quase surpreendente que a associação das duas coisas surja tão tardia. Segundo parece, a paixão não existe para garantir que duas pessoas que se atraem sexualmente fiquem juntas, como se pensava até há pouco tempo. Ela existe, provavelmente, por ser uma consequência da dependência que tivémos, um dia, dos nossos pais. Engraçado, não é? Obviamente que acabou por ser uma consequência positiva, porque a manutenção de um casal ajuda a que os bebés sobrevivam melhor.

As possibilidades que surgem desta (aparentemente) simples constatação, para explicar comportamentos e motivações humanas, são imensas. Mas não me quero estender em hormonas e estudos para não vos moer demais a paciência.

Mudando mais ou menos de assunto: hoje tivemos encontro de tias cá em casa. “Tia”, como toda a gente sabe, não indica actualmente uma verdadeira relação de parentesco (a essas é pelo nome e com palmadinhas nas costas), mas diz-se, sim, das amigas da mãe.

Ora bem, um encontro destes passa por uma série de fases que vão do tédio à gargalhada descontrolada, de um modo dificilmente previsível. O tédio instala-se (do ponto de vista do observador, claro) quando a discussão se demora nos pormenores decorativos da festa xis, ipsilone ou zê ou então na vestimenta de cada elemento presente. Não interessa se é pessoa do nosso conhecimento ou não, desde que esteja, de algum modo minimamente rebuscado, ligado a alguém que conhecemos. De facto, o observador deve ir alertado para que noventa por cento do tempo seja passado a falar sobre terceiros (seja eu cega, surda e muda se exagero!).

Nos restantes dez por cento do tempo troca-se informação de natureza prática: como cozinhar uma quiche apetitosa, onde comprar aquelas cuecas sem costura ou as outras que imitam fio dental (porque macho que é macho não resiste à evidência de um fio dental, asseguram as próprias), alertas gerais sobre alimentos que engordam contra todas as expectativas, e outras necessidades básicas que tais. Deixo os comentários sobre os candidatos mais adequados (ou menos inadequados) à Câmara de Lisboa no bolo da vida dos outros porque, no fundo, não deixam de o ser.

Mas de nada gostam mais as fêmeas de Homo sapiens, no geral, do que combinar sexo com vida alheia. E aqui o observador deve preparar-se para a fase da gargalhada descontrolada...

Há um ponto em que a conversa irá descambar para as aventuras amorosas de alguma amiga/conhecida ausente e os ânimos ficarão ao rubro. Na de hoje, particularmente, posso garantir que o surrealismo imperou. Chorei de tanto rir! São ardilosas as táticas usadas pelas mulheres para se fazerem querer pelos homens, mas elas nem sempre funcionam. Ou não funcionam da maneira pretendida, pelo menos.

Com alguma pena, opto por não me estender em detalhes nem usar iniciais para mascarar identidades desta vez.

Isto do sexo é mais ou menos uma guerra. É situação “chapa-três” um casal separar-se depois dos filhos estarem grandinhos, a mulher menos fértil e o marido viver a chamada segunda adolescência. É cruel e muito ingrato ladies, mas evolutivamente não se pode negar que faz sentido trocar uma de cinquenta por duas de vinte e cinco (os homens que o fizeram no passado tiveram mais filhos e esse é o único sucesso que conta na natureza). Claro que a psicologia podia entrar em acção – e felizmente tantas vezes o faz! – mas nem sempre consegue falar mais alto que estes impulsos primários.

Eu tenho uma teoria. Tenho muitas, já sei, mas esta é mesmo, mesmo, mesmo muito boa. É das melhores que defendo, apesar de ainda ninguém lhe ter dado crédito (não percebo porquê). Acho que a menopausa devia marcar, nas mulheres, a mudança de um estado heterossexual para um estado homossexual. Enquanto é fértil a fêmea junta-se a um ou mais machos e vai procriando. A partir do momento em que deixa de poder ter filhos ela ficará menos atraente para os machos, mas psiquica e fisiologicamente não está adaptada para uma vida solitária! Então torna-se homossexual e passa a partilhar a vida com as outras mulheres que se encontram na mesma situação. Os machos, porque podem, vão ter mais filhos com mulheres mais novas e ninguém chateia ninguém. Imaginem só. Parece-me um equilíbrio estável.

Há peixes que mudam completamente de sexo durante o seu ciclo de vida. Há outros que se “fingem” do sexo oposto para obterem vantagens reprodutivas. No alto da nossa macrocefalia toda, até podiamos inventar qualquer coisa para fazer isto funcionar.

A grande pena seria perder depois o gozo das conversas das tias...

05/07/07

let's come together and uncensured

Na mesma semana em que a M. (sim, ele há toda uma família catita de iniciais debaixo deste tecto) decidiu associar ao seu novo super-hiper-mega-ri-telemóvel as músicas do Kusturica e do Yann Tiersen, descubro que a europa anda a querer apostar no seu cinema. Olaré bébé!

Vejam lá o video-promoção:

(mac: não te esqueças, carrega no "play" e depois no "pause" até à barra encarnada estar toda preenchida, para veres o filme contínuo)

03/07/07

um pequeno deslize

Ora bem, domingo folgazedo e o que se faz? A vontade é de bezerrar à grande (como, aliás, sucede em qualquer outra altura), mas dado que é dia do senhor e tudo, vamos lá apanhar sol na mioleira e ver se produzimos alguma serotonina para espevitar. O que fazer, o que fazer?...

Praia ao domingo nem pensar, que a recordação da Fonte da Telha com todo o seu aparato almoçadeiro de tachos, toalhas e garrafões de cinco litros, animados – como se não bastasse! – pelo pequeno Saúl a gritar “o bacalhau quer alho” em todos os rádios transportados para o areal com intuito assassino, deixaram marcas profundas nesta alma ingénua. Além disso o fantasma da tese mantém-se incansável na assombração aqui da je e, portanto, nada de ir muito longe. Vá-se lá saber, pode o computador sentir falta de atenção e declarar negligência quando a oportunidade surgir (lá para Outubro, segundo consta).

Comer um gelado à Praça de Londres? Talvez, talvez... Mas e as (também assassinas) calorias?? Logo agora que decidiu o governo pôr um término na síndrome crónica de depressão pós-calórica? Não, não, nem pensar.

Conclusão evidente e pejada de ponderação: ande-se de patins no Campo Grande!

Andar de patins no Campo Grande... Andar de patins no Campo Grande... (a ler com um suspiro, por favor). Nesta altura alguém pensará “eu não sabia que ela patinava”. Pois. E não sabia muito bem, porque ela, de facto, não patina. E mais: não só não patina, como consegue ser exímia na arte do ridículo!

A acompanhar esta não-patinadora que vos fala encontrava-se, dentro do ringue, uma meia dúzia de criaturinhas minúsculas de patins da Floribella nos pés. Trapalhonas sim, de perninhas de alfinete sim, mas eléctricas de energia. Zum, zum, zum... sempre a passar, sempre com seis anos, sempre sem dentes da frente, sempre canejas e de sorriso rasgado. E a não-patinadora iludida no seu equilíbrio imaginário, numa de “eu tenho muito mais controle muscular que vocês”, decidiu entrar a matar e deu três valentes passos de balanço para deslizar suavemente até ao corrimão. Primeiro metro tudo bem, segundo metro um pouco menos bem, terceiro metro e já o corpo insistia em balançar para trás e, ao quarto metro, por fim, o estatelanço. Foge-lhe o patim para a frente, lê-se-lhe o terror nos olhos, cogela-se-lhe o corpo no ar enquanto pensa “ai mãezinha que é desta” e, em tais preparos, despenca no meio do chão com um bate-cú digno de nota. O chão? Duríssimo.

Estando um senhor observando do lado de fora, apoiado no corrimão, mesmo junto à não-patinadora, esta obrigou-se a sentar rapidamente e evidenciou, como quem não quer a coisa, a mobilidade das pernas (há sempre aquela personagem que tecla o 112 no telemóvel). Depois fingiu-se preocupada com o leitor de mp3 para não ter que encarar a audiência muda. Oh, que maçada, não liga! Terá avariado? Mas que chatice! (enquanto a dor ia martelando e ela disfarçava os gemidos para se levantar).

Como eles dizem sempre nos filmes que quem cai do cavalo tem que montar outra vez (e os ensinamentos da televisão são sagrados!), lá me pus às voltas ao ringue, mas desta vez a passo. Volta, atrás de volta, atrás de volta e sentia-me cada vez mais com seis anos, invejando já os patins da Floribella. O único senão era o medo de ficar, tal como as criaturas, sem os dentes da frente - medo perfeitamente fundamentado, como se viu.

Bem, hoje é o dia seguinte e agradeço ao senhor a invenção dos brufenes. De qualquer maneira, quando for grande quero ser patinadora no ringue do Campo Grande. É só conseguir mexer-me outra vez e vão ver...