14/05/07

uma história para o caminho

Uma das minhas histórias preferidas sempre foi a do velho, do rapaz e do burro. Não sei se conhecem...

Vão por um caminho um velho, um rapaz e um burro, o primeiro puxando o último pela corda e o rapaz saltitando a seu lado, quando se cruzam com uma mulher que segue em sentido contrário. Ao deparar-se com os três viajantes, a mulher começa a rir e exclama: “Isto é que é vida para o burrico! Então trazem um jumento e vão os dois a pé? Mas que grande disparate!”. Então o velho, meio envergonhado, manda subir o rapaz para cima do burro e lá prosseguem viagem. Um pouco mais à frente aparece outro indivíduo, ancião tal como o nosso velho, e planta-se na estrada a barrar-lhes a passagem. Com o cajado levantado faz estancar o burrico e dá dois berros à criança: “Sai mas é já daí, ó catraio! Não vês o teu pobre avô, o estado em que vai? Pernas fracas é que devem ir montadas para descansar”. E o miúdo, aflito, olha o velho – que lhe encolhe os ombros – e salta do burro para baixo. Sobe o velho e o jumento põe-se a andar. Umas curvas mais à frente no caminho, avistam três rapazes que pastoreiam as ovelhas. Um deles aproxima-se e dirige-se ao velho: “Olha o raio do velho montado no burrico! Deixa mas é subir o catraio que é criança e logo se cansa!”. Então o velho desmonta, suspirando, dá de novo lugar ao miúdo e lá se fazem outra vez ao caminho. Indo assim a criança empoleirada no burro e o velho levando-o pela corda, passam por duas mulheres que tratam das batatas na eira. Gritam de lá elas: “Ó miúdo, não tens vergonha? Vais aí regalado no burrico e deixas o teu avô tão idoso percorrer o caminho a pé?”. Os dois entreolham-se sem saber o que fazer. Mais uma vez a criança desmonta e, juntos, decidem sentar-se numa pedra a pensar na situação. Se sobe o velho para o burrico, dizem que não trata bem a criança. Se sobe o miúdo, que não tem atenção ao seu avô. Que fazer? Por fim o velho tem uma ideia: “Olha, levemos nós o burro às costas”. E assim fazem. A muito custo lá encontram uma maneira de levantar o peso do asno, entrelaçam os ombros (uns demasiado pequenos, outros demasiado curvados) e carregam-no desse modo até à aldeia para onde se dirigiam. Mas mal entram no largo da igreja, onde a maior parte do povo está reunida à conversa, estala a gargalhada geral. Todos apontam o rídículo espectáculo da chegada de um velho e uma criança, arrastando-se, estafados, com um burro às costas. “Já alguém viu coisa mais estúpida na vida? Será que bateram com a cabeça? Que duas almas tontas!”. E riem, riem, riem, para espanto e frustração dos dois protagonistas.


Dantes gostava da história porque me divertia. Imaginava um velho de olhar atarantado que subia e descia do burro sem ai nem ui, como se lhe faltasse vontade e entendimento (coisa que, num adulto, me parecia inverosímil e definitivamente cómica). E a cena do burro às cavalitas era o delírio total!
Agora gosto dela porque me recorda a importância de mantermos a nossa razão intacta, não obstante do que nos digam as bocas do mundo. A falta de aprovação nem sempre é fácil de contornar (pronto, é quase sempre lixada!), mas o preço que se paga por sucumbir à tendência para agradar a gregos e troianos pode ser gordo demais. Quem quer acabar a levar um burro às costas para gáudio do povo, levante agora o braço!

7 comentários:

gAnDaMaLuKo disse...

Eu lembro-me bem dessa história.
Recordo-me igualmente que, da 1ª vez que a ouvi (e por aí adiante, sempre que ma contavam), questionar por que razão não se punham os 2 em cima do burro.
É que eu já vi um burro.
Tenho quase a certeza que tu também.
Cabem 2 pessoas lá em cima.
Nas calmas.
Até cabem 3, se for com jeitinho (e se forem elegantes como eu).















P.S.: Esta era a foto que devias ter colocado no post!!

sara disse...

Ó caraças,não é que me falhou essa parte da história? É que eles, a páginas tantas, decidiam mesmo ir os dois montados! Claro que surgia logo alguém a criticar o massacre do pobre animal e a pôr-lhes também de parte essa alternativa.

A foto não consigo ver, mas é capaz de ser por estar num computador do plistocénico...

Anónimo disse...

"Jim"

There was a Boy whose name was Jim;
His Friends were very good to him.
They gave him Tea, and Cakes, and Jam,
And slices of delicious Ham,
And Chocolate with pink inside
And little Tricycles to ride,
And read him Stories through and through,
And even took him to the Zoo--
But there it was the dreadful Fate
Befell him, which I now relate.

You know--or at least you ought to know,
For I have often told you so--
That Children never are allowed
To leave their Nurses in a Crowd;
Now this was Jim's especial Foible,
He ran away when he was able,
And on this inauspicious day
He slipped his hand and ran away!

He hadn't gone a yard when--Bang!
With open Jaws, a lion sprang,
And hungrily began to eat
The Boy: beginning at his feet.
Now, just imagine how it feels
When first your toes and then your heels,
And then by gradual degrees,
Your shins and ankles, calves and knees,
Are slowly eaten, bit by bit.
No wonder Jim detested it!
No wonder that he shouted "Hi!"

The Honest Keeper heard his cry,
Though very fat he almost ran
To help the little gentleman.
"Ponto!" he ordered as he came
(For Ponto was the Lion's name),
"Ponto!" he cried, with angry Frown,
"Let go, Sir! Down, Sir! Put it down!"
The Lion made a sudden stop,
He let the Dainty Morsel drop,
And slunk reluctant to his Cage,
Snarling with disappointed rage.
But when he bent him over Jim,
The Honest Keeper's Eyes were dim.
The Lion having reached his Head,
The Miserable Boy was dead!

When Nurse informed his Parents, they
Were more concerned than I can say:--
His Mother, as she dried her eyes,
Said, "Well--it gives me no surprise,
He would not do as he was told!"
His Father, who was self-controlled,
Bade all the children round attend
To James's miserable end,
And always keep a-hold of Nurse
For fear of finding something worse.

Hilaire Belloc

Nota. Esta história é verdadeira e deve ser lida como um aviso apenas, e nunca como um juizo de valor, um ataque subliminar a um qualquer governo PS, e muito menos tentar-se lá descortinar a mais subtil conotação sexual, ou outra. Para isso existem outros blogs, alguns inclusive onde se admite a existencia da homosexualidade ou a corrupção e nepotismo. Este se for possivel a S. deve ser mantido casto, inocente e floral, e desse modo a sua leitura, ao fim de um duro, mas reconfortante dia de trabalho, ser uma alegria saudavel para os pais de S. e outras pessoas que lhe sejam queridas.
jm

sara disse...

jm,

O que é que uma criança há-de fazer, senão escapar-se? E um adulto, senão tentar que ela não o consiga?

Se com isso quer dizer que devemos ouvir o que os outros nos dizem, respondo-lhe: "com conta, peso e medida". Porque não somos crianças para sempre e a verdade é que os leões são, actualmente, muito bem alimentados nos zoos.

E, não me leve a mal, mas o que este blog "deve" ou não ser, acho que só a mim compete decidir.

Só por curiosidade, li correctamente que compara a homossexualidade à corrupção e ao nepotismo?

Anónimo disse...

P: O que é que uma criança há-de fazer, senão escapar-se? E um adulto, senão tentar que ela não o consiga?

R: Negociação amiga, com subliminares ameaças veladas, como alternativa a fugir de casa e ser atropelada (caso da criança), ir a correr atrás da criança, dar enorme queda e partir-se todo por causa de osteoporose, até esse instante não suspeitada (caso do adulto).

P: Se com isso quer dizer que devemos ouvir o que os outros nos dizem, respondo-lhe: "com conta, peso e medida". Porque não somos crianças para sempre e a verdade é que os leões são, actualmente, muito bem alimentados nos zoos.

R: A maior parte dos portugueses não cresce, e relativamente aos leões creio que preferem crianças, mesmo as más.

P: E, não me leve a mal, mas o que este blog "deve" ou não ser, acho que só a mim compete decidir.

R: Tem toda a razão, apenas a estava a tentar influenciar, subtilmente, para dar assim uma alegria aos seus pais, creio.

P: Só por curiosidade, li correctamente que compara a homossexualidade à corrupção e ao nepotismo?

R: De modo nenhum.

Gene Autry

sara disse...

O cowboy agora divertiu-me! :)

Tomo nota da sua preocupação com os meus pais e a sua alegria(que suponho que eles agradecem...) e tranquila quanto ao assunto homossexualidade-corrupção-nepotismo.

Mas não diga isso dos leões, que criancinhas ao pequeno-almoço sempre ouvi dizer que eram os comunistas. Não eram?

Anónimo disse...

os pais são umas pessoas que pela natureza das coisas, nos amparam e estimam, se bem que nem sempre se note. Os irmãos e outra gente da ninhada, também gostam muito de nós, mas ao correr da vida, por causa de por vezes viverem com gente certamente mal formada, viram o bico ao prego tansformando-se gente horrivel, meta a coisa terrenos, acções ao portador ou até mesmo um triciclo infantil invejado e nunca resolvido.

Os comunistas, são uma especie de Cristos Redentores, Divino Mestre, etc., nunca comeram crianças, mas como partido totalitário, quando teem no seu seio gente má ficam logo piores que os piores bandidos.

Os corruptos e os nepotistas(?) são gente de má qualidade, arranjam-nos sempre grandes complicações, e ainda por cima em vez de gastarem o dinheiro, ilegalmente obtido, em coisas engraçadas, metem-no em leasings de Audis (DKWs?) ou Mercedes desses de plástico e coisas dessas, tipo relógios de colecção e gravatas da Hermés mas sem os bichos, focas, leões, carneirinhos, etc. de cor clara a ar para o parvo, que até parecem cromadas. Como resultado Deus castiga-os e as pessoas pobres dos bairos degradados por divertimento, riscam-lhes os carros e apalpam-lhes as esposas(?) nos parques dos centro-comerciais. Nota: No caso dos corruptos as mulheres chamam-se esposas e como vivem da corrupção sõ igualmente más. No caso de serem do sexo feminino, os corruptos, separam-se dos maridos, ficam com um ar todo atrevido e usam roupa muito apertada, respirando sempre com ar ofegante. São boas mães, diz-se.
Dale Evans