03/05/07

os habitantes da fera

A minha fera é única. Tem 1130cm3 de motor, alcatifa verde no interior, várias mossas no lombo (evidentemente nenhuma delas da minha responsabilidade!), um recém-adquirido “tag” na porta do condutor e uma tendência irritante para dar entrada à água em dias de chuva. Entrai, entrai, por quem sois... Um coche cavalheiro, bem sei.

Mas além destes pormenores, chega uma informação que seguramente impressionará: o meu carro é também albergue hospitaleiro de algumas dezenas de tenébrios (que, para quem não sabe, são pequenas larvas da espécie Tenebrio molitor que mais tarde se transformam em simpáticas carochas pretas). Acalmem-se os ânimos, por favor! Passarei a explicar.

A culpa, no fundo, é da passarada. Aqui há uns tempos vi-me obrigada a percorrer vários quilómetros, todas as semanas, para alimentar alguns bicos famintos que me piavam súplicas insistentes (o meu coração mole não resiste a uma boa súplica). Para compensar a pieguice, decidi torturar outra classe, animais de mais fraca categoria evolutiva. Então comprei as ditas larvas e comecei a fazer-lhes maldades aterradoras - só assim passei a dormir descansada.

Certa bela manhã, uma curva mais apertada ditou o destino dos vários bicharocos que se espalharam de imediato (e, atrevo-me a dizer, sorridentes) na mala do bólide. Eu, deparada com a situação, optei por testar as capacidades de sobrevivência das criaturas e voltar a trancar a mala, como se nada fosse. Qual não foi o meu espanto, portanto, quando mais de dois meses depois, assisti à triunfante chegada de três companheiras ao banco da frente! Imaginam a viagem que não deve ter sido?

Um dia, no incrível mundo das larvas, escrever-se-á um grande épico baseado na aventura das três bravas que percorreram as entranhas do peugeot branco. Só espero que me atribuam os créditos devidos!

7 comentários:

Anónimo disse...

se essas três chegaram à frente, imagina só a quantidade delas que vive agora na tua autocaravana :D

JD

sara disse...

Serei "a larveira do povo", nesse caso! :p

Anónimo disse...

Qual larveira qual quê??

Mais a "el matadora de larvas". Claro que poderia acusar-te já aqui e agora de atrocidares diariamete dezenas de larvas, aquando da alimentação da piscalhada, mas frase cliche ou não: "quem se lixa é o mexilhão". Evolução, cadeia alimentar, enfim n razões para o triste destino larvar neste mundo.

Mas o pior nem é isso. Vislumbrares a população de tenébrios fora do seu habitat (sim, a bagageira de uma viatura, não é propriamente o Jardim do Eden) e o que faz a menina? Tráz pás! Fecha a porta como se nada fosse.

Bom, acho que pelo menos essas 3 gloriosas, os 3 "Ulisses" da Odisseia deveriam ser libertados dos cofins da alcatifa verde.

Atenção, não quero com esta mensagem transparecer que sou defensora de tudo e tudo que seja vivo. (sim, mato sem pudor uma pulga e uma mosquito que parasite o meu ser)

Mas esses bichos...epá liberta as carochas! :))

ME

sara disse...

Perante semelhante manifesto, não me resta alternativa. Amanhã, se não hoje mesmo, procederei à operação "free bugs".

Obrigada ME!
O contacto com a piscalhada deixou-me algo insensível, já percebi...

Quanto às 3 Ulisses, pelo menos essas, foram de imediato libertas!! O que, acabo de perceber, faz com que não possam retornar e contar a sua história. Tornar-me-ei então uma lenda, uma vilã de proporções históricas?..

Anónimo disse...

alimenta-os... dá-lhes afecto... e pode ser que nasçam belas borboletas! Se acreditares muito muito!

Anónimo disse...

Não acredito que andei tão alheada das palavras sábias da bela S. que nem me apercebi que, finalmente, ela confessou ao mundo este seu acto atroz (e cobarde, porque não há qualquer mérito físico nem intelectual em manter captivas criaturas com 2 cm de comprimento, sem cérebro nem braços).

Reparei também que a 9/5/2007, pelas 12:25, afirmaste convictamente "Amanhã, se não hoje mesmo, procederei à operação "free bugs"." Sabes perfeitamente que, a próxima vez que vir o teu carro, vou exigir averiguar se ainda há Zézinhos e Marilús (quase que aposto que lhes deste nomes para tornar a situação ainda mais sádica) à procura de buracos na carroçaria.

Como utilizadora do teu automóvel como meio de transporte, reservo-me no direito de denunciar a ocorrência à ASAE. Be aware! (Claro que em relação à LPDA não tens que te preocupar. Não sejamos exagerados!)

Bjs

sara disse...

Arranja-se amigas atentas e depois é isto...