19/08/09

de lá para cá

Viajar. Viajar é um daqueles verbos que enchem qualquer frase em que se vejam metidos. Sai-se do hábito num pico de expectativa e de deslumbramento com os próprios passos, com uma segurança que nasce do medo quase paralisante… Da superação dos medos nasce a euforia que leva depois ao apaziguamento consigo próprio, ao entendimento profundo de que somos uma entidade perfeita em que nada falha. Nada, nunca, falha. Tudo é.

Se soubéssemos aquilo que cada viagem nos reserva, não seria uma viagem. Na verdade, chegar onde quer que seja não tem o mesmo impacte do que se sente até lá. Mas a meta tem importância porque sem ela não se começaria nada, sem ela o primeiro passo não seria dado ou, pelo menos, o segundo não manteria o rumo. Este é o encanto dos objectivos: promovem a acção.

Um amigo emprestou-me um livro, chama-se “mood of future joys” e relata na primeira pessoa uma volta ao mundo de quatro anos em bicicleta. Por alguém que saiu de Inglaterra lavado em lágrimas, querendo voltar para trás a cada segundo. Então por que o terá feito? Por que não cedeu ao instinto de dar meia volta, fazer soar a campainha da bicicleta no quintal dos pais, gritar aos amigos que ali ficava, encontrar de novo os braços da namorada?... É difícil de explicar, nem o próprio consegue.

Superar medos é crescer, é ir mais além. Quase todos queremos a segurança, em diferentes graus e de diferentes maneiras, mas poucos são os sábios que procuram desafiar-se constantemente. Dá trabalho. Mas como tudo o que é trabalhoso, tem retorno. Stanislavski dizia aos seus alunos que a cada dia deviam fazer uma coisa que lhes metesse medo, ainda que ao fim de um tempo pudessem começar ficar sem ideias. Ainda que se dedicassem a medos pequenos, coisas tontas. Penso que a ideia fosse progredir todos os dias um pouco mais no sentido de chegar ao interior de cada um. Porque, se pensarmos bem, os medos vão-nos sendo acoplados a partir do ambiente. Quando nascemos não tememos nada, existimos em estado puro e absoluto. E voltar aí é, sem dúvida, a verdadeira meta. No fim, tudo acaba como começou. O que fizemos entretanto? A quem andámos a enganar senão a nós mesmos?

1 comentário:

C.M. disse...

Olarilas! Falou e disse!
A tentativa de nos conhecermos e o combate aos nossos medos são tarefas dificeis, mas que valem a pena. O único cuidado a ter é não deixar que se tornem obcessões, o que me parece relativamente fácil de acontecer, pelo esforço que exigem.
Ou seja, sair de bicicleta mesmo de lagrimita no canto do olho pode ser uma alternativa, ser consumido pela solidão, ou mesmo pelo medo, e não ser capaz de voltar atrás... já não me parece bem!
O conhecimento de nós próprios é um conhecimento dificil, por vezes penoso, a arte é fazer com que valha a pena:-)
Beijinhhos
Jantar na 2ªf?