09/03/08

já está

Ao fim de algumas tentativas, finalmente consegui comprar o passe do metro. Ao primeiro dia do mês as filas são tenebrosas. Ao segundo não melhoram grande coisa. Ao terceiro lá se atinge o guichet, mas apenas para ficar a saber que na estação em que nos encontramos os cartões demoram dez dias no forno. Se os quisermos pedir com urgência teremos que nos dirigir a outro local, onde almas mais expeditas tratam do assunto de um dia para o outro, mediante o pagamento de dez euros. No acto da entrega arrotam-se mais dezoito euros e meio, que é o valor do passe propriamente dito. Fácil…

Enfim, interessa é que estou a gostar de frequentar o metro. Pena que seja subterrâneo e escuro, mas força a caminhar alguns minutos logo pela manhã, o que me faz sentir melhor do que a entrada directa no carro. Também gosto de olhar os meus companheiros de viagem. A maioria é feia e isso encanta-me particularmente. Percorro quatro estações, para lá e para cá, atenta aos aspectos negativos desses corpos alheios. As assimetrias. As borbulhas. Os dentes tortos e a gordura a mais. Uma imensidão de gente que se cruza comigo diariamente e que não tem nada a ver com as imagens de “normalidade” que trago decalcadas no cérebro. Uma pessoa sente-se melhor num mundo imperfeito.

07/03/08

estou em falta quanto ao inquérito

Parece que 55% dos 20 votantes concorda comigo: ser trocad@ por um elemento do outro sexo não custaria tanto. A mulher do Heith Ledger não ficou assim muito contente com a coboiada, diga-se. Mas pronto, também arranjou logo novo gajo. Amigos dizem-me: “por experiência, sei que é a mesma coisa”. Eu como não sei, fico-me pelo acho. E afinal só 4 pessoas entenderam ser pior (talvez por terem menos hipóteses de reconciliação ou reconquista?...) uma situação deste tipo.

Em relação a este assunto, apetece-me ainda comentar o comentário da C.M. O termo traição é o que habitualmente se usa neste contexto. Não sei dizer se será o mais correcto. Talvez uma palavra tão gorda não se devesse aplicar ao que (com razão) chamas a simples de condição de ser humano. Mas sim… está relacionada com a mentira, com o engano. Só que no extremo - lá está - também não sei muito bem onde estabelecer os limites dessa dita mentira. Porque se o afecto é o que mais interessa, saber-se-á precisar o momento em que ele é transferido para outra pessoa? É difícil. E porque é que então se faz do sexo, normalmente, o ponto de honra? É porque as pressões evolutivas são lixadas (ouvem-se os sábios biólogos ao fundo).


A monogamia é uma espécie de contrato entre uma mulher que precisa de recursos e um homem que quer ter a certeza da paternidade. Atenção, isto não é para ler de um modo absoluto. Não me venham cá dizer “eu amo muito o meu marido e não sou uma cabra interesseira”! Acredito que não. Mas se uma associação (teoricamente) monogâmica não trouxesse vantagens às partes, não se tinha mantido ao longo do tempo. Temos que nos colocar nas cavernas por momentos. Somos um grupo social constituído por homens e mulheres e não existe qualquer estrutura familiar. O sexo é com quem mais agrada no momento. E então as fêmeas engravidam e começam a crescer em dificuldades de arranjar comida, que tem de ser apanhada. Se por acaso um dos casais estabeleceu uma ligação emocional, então o homem tenderá a ajudá-la, tanto nessa altura como quando o bébé nascer. Em comparação com as outras, cujas mães estão sozinhas, é provável que esta criança tenha mais probabilidades de sobreviver aos primeiros anos. O sucesso da cria faz com que o comportamento que ela herdou dos pais seja transmitido à geração seguinte. Vantagens evidentes. Mas olhemos para as estratégias do homem e da mulher. Ela só pode ter um filho por ano, o que lhe convém é mesmo que esteja ali um elemento mais forte que dê apoio ao longo do processo. A gravidez é um risco e se se mantiver viva e saudável provavelmente continuará a ter filhos. Mas e o homem? Ao homem interessa também que as suas crias tenham sucesso. Contribui no pré e pós-natal com recursos e apoio. Só que pode ser um esforço em vão, caso o filho não seja seu (quando digo em vão, refiro-me aos genes que não está a transmitir à geração seguinte, não à importância ou legitimidade de educar qualquer criança!). Portanto interessa imenso ao homem estar seguro da fidelidade SEXUAL da sua parceira. Fomos seleccionados assim, tal como os boxeurs para terem o focinho achatado ou os caniches para serem irritantes. E às mulheres o que interessa a fidelidade do companheiro? Interessa-lhes, e muito, que ele não vá desperdiçar os seus recursos com outro gajedo. Não convém muito. E não era coisa fácil, já que o fraco investimento representado por um minúsculo espermatozóide faria com que um homem pudesse ter filhos de variadíssimas mulheres ao mesmo tempo. Mesmo que se dedicasse só a um ou dois, com sorte algum dos outros sairia benzinho e a custo zero! Só que ao relacionar-se com várias fêmeas, podia gostar mais especialmente de alguma e trocar as voltas à primeira. Risco enorme para ela. Pensa-se que é este o motivo pelo qual, ainda hoje em dia, as mulheres são mais permissivas às relações extra-conjugais do parceiro (desde que ele não crie laços emocionais com a outra pessoa)do que os homens. E que, por outro lado, desenvolvam frequentemente ciúmes dos amigos dele, das pessoas a quem ele afectivamente se liga. O que não quer dizer que também elas não tenham relações extra-conjugais. Podia ficar a desenvolver isto eternamente… Vou só acrescentar uma coisinha: é que em dois extremos temos homens que são bons pais (o ideal para constituir família) e homens que têm bons genes (isto é, que são atraentes à generalidade das mulheres). Haverá homens que conseguem ser ambos – e esses são o melhor partido – e outros que não são nem uma coisa nem outra. Mas, no geral, vê-se muito um ou outro. Para as mulheres o cenário ideal é terem um bom pai em casa e darem umas voltas com os bons genes por fora. Ficam com filhos atraentes e bem tratados. Coisa que um homem, no papel de pai, não pode aceitar. E portanto, o melhor é manter as mulheres bem controladinhas. Enfim, isto nunca pára: vantagens de um lado, desvantagens do outro… Evolutivamente a guerra dos sexos é uma realidade.
Não somos, em definitivo, uma espécie monogâmica. Em primeiro lugar teríamos uma monogamia sequencial, já que mudamos de parceiros ao longo da vida. E depois é uma monogamia conveniente na cena social mas que, aqui e ali, resvala. É que pode ser que pegue. :) Também já li que as DST podem ter tido um papel importante a eliminar comportamentos promíscuos. Acredito que seja verdade, talvez num grande mix de variáveis significativas neste modelo. A religião, a religião… Essa. Ainda não a consegui entender de todo.