Ao entrar no espaço comum à loja do Benfica e ao Media Markt cruzo-me com uma senhora que sai, com a filha pela mão. Criatura de dois anos, mais coisa menos coisa. Noto que à medida que outros adultos passam por elas sorriem muito à criança e, portanto, presto-lhe mais atenção. Sorrio também ao aproximar-me. Ela olha para mim, os olhos brilham de excitação, aponta-me o dedo gorducho e exclama para a mãe: “Pópó!”
(Pópó?...)
Deito uma rápida mirada à imagem que projecto no vidro da entrada. Assim de longe não me faz lembrar os contornos de um veículo automóvel. Mas a miúda lá saberá. E pelos vistos a mãe compreende, que ainda a consigo ouvir a rir enquanto me afasto: “sim, é popó”, responde.
(Sou pópó?!)
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Confesso ao capitalista todo-poderoso
e a vós irmãos,
que comprei muitas vezes
com dinheiro vivo, cheques,
multibanco e mesmo a crédito
por minha culpa,
minha tão grande culpa…
Fui buscar o meu computador agonizante e comprei uma mochila para acomodar a Priscila como uma princesa. Andava a pensar nisso há meses e hoje lá entreguei o cartão do BES à menina da caixa. Embalada, ainda parei para trazer para casa umas revistas. Depois foi um pastel de nata totalmente desnecessário, fora a sempre dolorosa paragem na bomba de gasolina… Isto foi hoje. Escusado será falar dos dias em que se “passeia” a ver lojas e se é atraído à aquisição de objectos sem qualquer utilidade e que tendem a amontoar-se pelos cantos - numa casa em que o plano de ordenamento já de si não é o mais eficaz. Frequentemente ponho-me a olhar para essa quinquilharia e a tentar entender… o que é que nos leva a um consumo tão despropositado? É giro, quero! A não-sei-quantas tem, quero! Está em saldo, quero! Aliás: Está em saldo? Levo dois!!
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E morreu o Heath Ledger, essa tão agradável combinação de atributos físicos que nos fazia ver e rever “A Knight’s Tale”, sempre que passava na TVI. Um australiano alto e espadaúdo, assim pela minha idade. Foi encontrado morto no apartamento de uma amiga e mais não se adianta.
A tragédia fez com que o seu filme mais mediático, o “Brokeback Mountain”, que lhe valeu a nomeação para um Óscar, fosse exibido este sábado na televisão. Durante o filme, e a propósito, comentei com uma amiga que me parecia muito mais fácil tolerar uma traição daquelas, em que o amante é também um homem, do que ser trocada por outra mulher. Coisa com que ela concordou, mas surpreendida. É que, segundo disse, era a primeira pessoa que ouvia defender tal ponto de vista. Ora isso parece-me estranhíssimo! Que outra mulher tome o meu lugar, soa a substituição. Que o faça um homem, enfim, não soa a nada porque, na verdade, está fora da minha liga. É como comparar um bolo de cenoura a um cozido à portuguesa. Não tem nada a ver.
Por curiosidade transformei esta dúvida em sondagem e, já agora, vamos saber o que acha o pessoal… (comentem também por extenso se quiserem, que é mais giro)
28/01/08
12/01/08
Reveillón made in UK - II
Entrámos então numa discoteca espaçosa, de dois pisos, onde havia muita gente mas nenhum fumo (estágio de habituação à nova lei do tabaco por aqui). Desde logo o calor se fez sentir dado que os tais cachecóis, gorros, luvas e casacos não tinham por onde ser úteis num sítio daqueles. Como ingrediente extra acrescentem-se collants debaixo das calças!! (uma ideia brilhante à saída do aeroporto pela manhã, mas já não tão brilhante nesse momento…)
O desconforto era algum, no entanto a observação comportamental valeria a pena. Elas, matronas sem vergonha, de saias bem mini e decotes transbordantes, abanavam-se a valer. Eles, tanto ou mais repulsivos, idem. Entre cambaleantes e enrolados uns nos outros como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, nada mais parecia ter importância. O JP levou logo à entrada com um beijo na boca de uma avantajada desconhecida. A SemNexo e a ME, corajosas, fizeram-se à pista e suportaram os apalpões de toda uma vida. Eu aventurei-me apenas na casa-de-banho, onde os corpos meio caídos levaram os seguranças a fazer uma espécie de rusga. PUM! PUM! PUM! Are you allright? (ya, ya, desamparem-me a loja!). Quando saí, vi que levavam em braços uma loira que, pelos vistos, não estava nada allright. Imagine-se tudo isto com o chão permanentemente escorregadio por causa das bebidas entornadas. Então disse à SemNexo quero-me ir embora! e, para meu espanto, ela concordou imediatamente. Lá fomos descendo as escadas em direcção à saída quando a porta ficou bloqueada por uma bifa bêbeda (redundância, bem sei) que com algum histerismo gritava com o rapaz da frente. Do alto dos degraus hesitámos em forçar a passagem. E de repente, não percebi bem como, meteu-se outro gajo e começou tudo a empurrar-se e a gritar e eu a pensar “f... logo agora que convenci alguém a ir lá para fora, não conseguimos sair!” Mas foi de pouca dura, que apareceram de novo os gorilas da security e obrigaram cada um a ir à sua vidinha. Lá fora chuviscos bons.
Pode-se dizer que a segunda discoteca tentada se revelou de qualidade bem superior, talvez porque fosse frequentada, na maioria, por não-escoceses-não-ingleses. Africanos, indianos, paquistaneses e afins encaixavam-se na pista com mais lucidez. Mas eu, que fora de carro de Lisboa para Faro na véspera, apanhara uma seca de 3h à espera de um avião em cujo nariz se tinha espetado uma ave (hum, será que o facto do aeroporto ter sido construído em cima da ria tem alguma coisa a ver com o assunto?...), viajara outro tanto naquele conforto low-cost para chegar a Glasgow às duas da manhã, fazer uma caminha jeitosa nos bancos do aeroporto, dormir cerca de três horas com uma gravação a gritar-me aos ouvidos de meia em meia-hora que o aeroporto não se responsabilizava por objectos perdidos e que estes seriam, sem meias medidas, DESTRUÍDOS (juro que ela intensificava esta parte com nítido gozo! ou então era só a minha mente sádica) e que, por fim, apanhara uma camioneta de Glasgow para Aberdeen, onde cheguei ao fim de quatro horas, eu estava, portanto, nesse preciso momento na discoteca, um bocado amassada. E a desejar aquela horizontalidade amiga que quando finalmente veio foi uma verdadeira bênção. É que já não tenho idade para estas coisas (isto e patinar no Campo Grande)!
Um dia volvido, lá fomos ao ansiado passeio. Loch Ness, como não podia deixar de ser, dormida em Fort Williams, uma vilazita onde os bares fechavam à meia-noite e quase me rebentaram os pulmões a jogar ao toca-e-foge e, no dia seguinte a termos gravado o meu novo toque no telemóvel (uma alusão a Juan Carlos e à sua amizade por Hugo Chavéz), partimos para a ilha de Skye, nas Highlands.
E confesso que aqui me apetece parar o relato. Guardar esse sítio bom só para quem foi. Porque criar o ridículo é tão fácil, mas fazer jus ao que é positivo e marcante tem muito mais que se lhe diga... Skye é uma ilha mesmo juntinha à mainland (note-se a terminologia emigra) que se estende em planícies altas com vista para o mar e para as outras ilhotas em volta. Aves é ao pontapé. Neve nos pontos mais altos. Focas que não chegámos a ver e veados que passaram por nós majestosamente. Praias de cascalho escuro que visitámos com pulinhos friorentos. Pequenas quedas de água nas zonas em que as pastagens inclinam e o declive acaba por vencer. Muito wild, muito giro.
Calhou também ficarmos hospedados num sítio especial, com anfitriões à maneira e em ambiente caseiro. Calhou termos feito uma gloriosa noite de Pictionary em que o gajedo (em desvantagem numérica!) arrasou com a testosterona presente. E calhou termos sido campeões internacionais de bowling virtual e brindados com bem-disposta conversa escocesa. Foi bom, sim senhor.
E por aqui me fico. :)
O desconforto era algum, no entanto a observação comportamental valeria a pena. Elas, matronas sem vergonha, de saias bem mini e decotes transbordantes, abanavam-se a valer. Eles, tanto ou mais repulsivos, idem. Entre cambaleantes e enrolados uns nos outros como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, nada mais parecia ter importância. O JP levou logo à entrada com um beijo na boca de uma avantajada desconhecida. A SemNexo e a ME, corajosas, fizeram-se à pista e suportaram os apalpões de toda uma vida. Eu aventurei-me apenas na casa-de-banho, onde os corpos meio caídos levaram os seguranças a fazer uma espécie de rusga. PUM! PUM! PUM! Are you allright? (ya, ya, desamparem-me a loja!). Quando saí, vi que levavam em braços uma loira que, pelos vistos, não estava nada allright. Imagine-se tudo isto com o chão permanentemente escorregadio por causa das bebidas entornadas. Então disse à SemNexo quero-me ir embora! e, para meu espanto, ela concordou imediatamente. Lá fomos descendo as escadas em direcção à saída quando a porta ficou bloqueada por uma bifa bêbeda (redundância, bem sei) que com algum histerismo gritava com o rapaz da frente. Do alto dos degraus hesitámos em forçar a passagem. E de repente, não percebi bem como, meteu-se outro gajo e começou tudo a empurrar-se e a gritar e eu a pensar “f... logo agora que convenci alguém a ir lá para fora, não conseguimos sair!” Mas foi de pouca dura, que apareceram de novo os gorilas da security e obrigaram cada um a ir à sua vidinha. Lá fora chuviscos bons.
Pode-se dizer que a segunda discoteca tentada se revelou de qualidade bem superior, talvez porque fosse frequentada, na maioria, por não-escoceses-não-ingleses. Africanos, indianos, paquistaneses e afins encaixavam-se na pista com mais lucidez. Mas eu, que fora de carro de Lisboa para Faro na véspera, apanhara uma seca de 3h à espera de um avião em cujo nariz se tinha espetado uma ave (hum, será que o facto do aeroporto ter sido construído em cima da ria tem alguma coisa a ver com o assunto?...), viajara outro tanto naquele conforto low-cost para chegar a Glasgow às duas da manhã, fazer uma caminha jeitosa nos bancos do aeroporto, dormir cerca de três horas com uma gravação a gritar-me aos ouvidos de meia em meia-hora que o aeroporto não se responsabilizava por objectos perdidos e que estes seriam, sem meias medidas, DESTRUÍDOS (juro que ela intensificava esta parte com nítido gozo! ou então era só a minha mente sádica) e que, por fim, apanhara uma camioneta de Glasgow para Aberdeen, onde cheguei ao fim de quatro horas, eu estava, portanto, nesse preciso momento na discoteca, um bocado amassada. E a desejar aquela horizontalidade amiga que quando finalmente veio foi uma verdadeira bênção. É que já não tenho idade para estas coisas (isto e patinar no Campo Grande)!
Um dia volvido, lá fomos ao ansiado passeio. Loch Ness, como não podia deixar de ser, dormida em Fort Williams, uma vilazita onde os bares fechavam à meia-noite e quase me rebentaram os pulmões a jogar ao toca-e-foge e, no dia seguinte a termos gravado o meu novo toque no telemóvel (uma alusão a Juan Carlos e à sua amizade por Hugo Chavéz), partimos para a ilha de Skye, nas Highlands.
E confesso que aqui me apetece parar o relato. Guardar esse sítio bom só para quem foi. Porque criar o ridículo é tão fácil, mas fazer jus ao que é positivo e marcante tem muito mais que se lhe diga... Skye é uma ilha mesmo juntinha à mainland (note-se a terminologia emigra) que se estende em planícies altas com vista para o mar e para as outras ilhotas em volta. Aves é ao pontapé. Neve nos pontos mais altos. Focas que não chegámos a ver e veados que passaram por nós majestosamente. Praias de cascalho escuro que visitámos com pulinhos friorentos. Pequenas quedas de água nas zonas em que as pastagens inclinam e o declive acaba por vencer. Muito wild, muito giro.
Calhou também ficarmos hospedados num sítio especial, com anfitriões à maneira e em ambiente caseiro. Calhou termos feito uma gloriosa noite de Pictionary em que o gajedo (em desvantagem numérica!) arrasou com a testosterona presente. E calhou termos sido campeões internacionais de bowling virtual e brindados com bem-disposta conversa escocesa. Foi bom, sim senhor.
E por aqui me fico. :)
10/01/08
Reveillón made in UK - I
Uma pessoa vai e chega ao Reino Unido, aquele da Elisabete dos dentes amarelos, sabem? Aterra-se em Glasgow - numa região chamada Escócia que, ao que consta, afinal não é bem da tal senhora porque o reino não é tão unido quanto isso - e não é preciso muito tempo para se perceber que, a depender da oferta gastronómica local, se avizinham valentes dias de fomeca. Para pequeno-almoço é difícil de avistar para além de salsichas e sanduíches cheias de maionese. A velha do balcão fixa-nos com olhos educadamente duros. O que comer, o que comer?... No fim lá surge um scone embalado, pede-se a cup of tea e acaba por salvar-se uma manhã. Mas a verdade é que não haveria que comer muito fora porque onde há casa de tuga, sempre se cozinha um esparguete com atum ou um arroz com ovos mexidos. Para a passagem de ano, e directamente do Feijó, chegavam também pastéis de bacalhau e rissóis de camarão. Tudo sob controlo.
Aberdeen é uma cidade cinzenta, começando pelo alcatrão e pelos passeios neutros, subindo ao longo das fachadas escuras e terminando lá no alto, naquele céu de chuvinha molha-tolos. Enchouriçados que andávamos para o frio, entrar algures para tomar um valioso café (valioso porque 2 ou 3 euros sempre custam a ganhar) implicava em todas as ocasiões um strip aborrecido. Luvas, gorro, cachecol, blusão… Mas pronto, faz parte.
De referir (e fundamental) temos a hospitalidade de ME, Cacá e Juan, cujo apartamento atingiu lotação considerável, tendo sido oferecida às meninas uma cama inesperada e muito confortável. É uma das alturas em que se agradece ter pipi e haver essas réstias de cavalheirismo que normalmente detestamos por condescendentes e paternalistas. Não foi o caso. E se fosse, teria dormido numa cama fofinha na mesma. :)
Adiante. Importa mesmo é registar a folia da noite escocesa! Ora os bretões, como manda o estereótipo, são criaturas secas que insistem em manter certo distanciamento do que não bate certo com as suas regras. Passe-se a generalização, por favor, que já se sabe para que existem as excepções. O panorama é mais ou menos este. Rígidos, educados, aparentemente pacientes, de poucos sorrisos, eficazes e, dá a sensação, conformados à norma. Mas atenção, tudo isto apenas na condição sóbria. Existe a outra… A partir do momento em que o álcool lhes entra no sangue, o mundo vira e logo vemos bifolândia a bombar! As ruas ficam cheias de lixo: garrafas vazias, copos, restos de comida, coisas meio esmagadas e não identificáveis, pocinhas de vómito, you name it. E os carros da limpeza prontamente a passar, a lavar, a esconder essa faceta menos controlada do povo. Bebedolas, muito bebedolas…
(continuo amanhã)
Aberdeen é uma cidade cinzenta, começando pelo alcatrão e pelos passeios neutros, subindo ao longo das fachadas escuras e terminando lá no alto, naquele céu de chuvinha molha-tolos. Enchouriçados que andávamos para o frio, entrar algures para tomar um valioso café (valioso porque 2 ou 3 euros sempre custam a ganhar) implicava em todas as ocasiões um strip aborrecido. Luvas, gorro, cachecol, blusão… Mas pronto, faz parte.
De referir (e fundamental) temos a hospitalidade de ME, Cacá e Juan, cujo apartamento atingiu lotação considerável, tendo sido oferecida às meninas uma cama inesperada e muito confortável. É uma das alturas em que se agradece ter pipi e haver essas réstias de cavalheirismo que normalmente detestamos por condescendentes e paternalistas. Não foi o caso. E se fosse, teria dormido numa cama fofinha na mesma. :)
Adiante. Importa mesmo é registar a folia da noite escocesa! Ora os bretões, como manda o estereótipo, são criaturas secas que insistem em manter certo distanciamento do que não bate certo com as suas regras. Passe-se a generalização, por favor, que já se sabe para que existem as excepções. O panorama é mais ou menos este. Rígidos, educados, aparentemente pacientes, de poucos sorrisos, eficazes e, dá a sensação, conformados à norma. Mas atenção, tudo isto apenas na condição sóbria. Existe a outra… A partir do momento em que o álcool lhes entra no sangue, o mundo vira e logo vemos bifolândia a bombar! As ruas ficam cheias de lixo: garrafas vazias, copos, restos de comida, coisas meio esmagadas e não identificáveis, pocinhas de vómito, you name it. E os carros da limpeza prontamente a passar, a lavar, a esconder essa faceta menos controlada do povo. Bebedolas, muito bebedolas…
(continuo amanhã)
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