10/11/07

às cinco da manhã

Chateia-me poder morrer a qualquer instante. Assim, pumba! Uma pessoa vai muito bem na sua vidinha e, sem mais nem menos, zás catrapás. Foi-se. E depois? Depois... Nem sequer é o depois que me apoquenta, é tudo aquilo que fica por fazer. Tudo o que nunca se experimentou. O que não se disse. Todas as gargalhadas por soltar e as lágrimas por ocultar. Todos os nervos, todas as dores, todos os achaques e compaixões. Todos os dias que passam de mansinho e os outros que disparam que nem loucos. Todos os cheiros e mais os olhares. Todos os comboios que se perdem sem sequer se correr atrás. Todo o chocolate por comer e os filhos por ter. Todas as letras que se esfumam e os sonhos que morrem sem chegar a ser. Todos aqueles que ficam e que continuam, porque sim. Só porque sim. Tudo aquilo que ainda será na minha ausência.

Li um dia, algures (como sempre), que já não sabemos viver com a morte. Que fazemos por esquecê-la por ser coisa de velhos – a que um dia chegaremos mas com calma que não há pressa. Que os nossos ritos são rápidos, a memória é curta e o lema é andar para a frente. Seguir com a vida, percebem? Nunca tinha pensado nisto. Dantes confrontava-se a morte cruamente, as crianças morriam, os jovens morriam, as mulheres morriam, os homens também morriam e, quem tivesse a sorte de chegar a velho, sorria sem dentes e agradecia a Deus. Agora não queremos saber do assunto (de que nos serve saber do assunto?) mas, na verdade, todos continuaremos a morrer. É uma questão de tempo. E o tempo, ui, o tempo... Se fosse peixe era uma enguia, de ágil e fugidio. E estranho que ele é, também! Complicado. “Ontem” é um mal-amanhado resumo de memórias filtradas por um cérebro particular, cheio de falhas. “Amanhã”, uma folhita amarrotada de tanto traçar e apagar, voltar a escrevinhar e de novo borrar...

Nem sei. Se morrer é uma questão de tempo, estou bem tramada.

14 comentários:

Anónimo disse...

Olá S.

E aqui está um assunto dificil. Confrontada que sou com a morte e a velhice todos os dias, levei muito tempo a ter consciência da minha própria finitude.
O entendimento com a inexorável finitude é complicado, talvez por isso deixamos a morte para a velhice e a velhice para...longe.
Com sorte, a velhice chegará e nessa altura vamos ter medo da morte.
Enfim, este tema dá para muitos posts num blogue dedicado a desabafos de um afincado técnico de saúde! vou trabalhar nesse assunto.

Beijinhos

Corto Maltese

Anónimo disse...

PS1: morrer é mesmo uma questão de tempo, estamos todos tramados...
PS2: o que fazemos com o tempo que nos resta, faz a diferença.

CM

Anónimo disse...

Excelente texto.

Toca com precisao no factor mais importante da actual sociedade face à morte. O nao saber lidar com.

Até há uns anos atrás morria-se em casa, hoje a sociedade despeja os seus velhos para morrer num sitio qualquer. Lares, Hospitais, asilos ....

E com isto a morte desapareceu do nosso quotidiano, ou melhor do quotidiano da maioria das pessoas, pois os que por razoes profissionais ou religiosas convivem com a morte, ainda têm que a enfrentar regularmente.

Metafisicamente falando e segundo so ritos e tradiçoes judaico-cristãs praticados neste país, a morte deveria ser encarada como uma passagem para um além melhor e consequentemente e quase no limite um motivo de alegria.

Mas somos só humanos e isso explica quase tudo.

Não me alongando mais, sou tentado a concordar com os comentarios da comentadora que me antecede.

JS

Anónimo disse...

tiras cada coelho da cartola , que me espanta caradanjo.

"quando não temer a morte, não temerei a vida"
.
todos já nos confrontamos, ou nos iremos confrontar com a morte, e nesse sentido, estamos todos unidos, somos todos irmãos

e essa é uma questão, a outra é , o que aprendemos nós com isso que nos enriqueça, que nos descontraia, que nos permita respirar melhor? que nos transforme em seres melhores

essa é a minha batalha

beijos e abraços para todos (incluindo aquele que não digo o nome )

i35

sara disse...

Obrigada por irem deixando comentários. É optimo atirar assim um pensamento ao ar e vê-lo voltar para nós, chocalhado por outras cabeças.

Corto,
Já antes me tinha ocorrido perguntar-te sobre este assunto - suponho que nunca tenha vindo a propósito. “Tu-cá-tu-lá” com a velhice e a morte, encara-se a vida de outra maneira? (tenho ideia que entraria em depressão em 3 tempos). Que carapaças é que se usam? Usam-se carapaças?
É uma ideia fixe trabalhares nisso!
Bjs


CM,
PS1: Estamos, de facto, tramados! :)
PS2: Continuo com grandes dúvidas que alguma coisa faça diferença. Daqui a 50 milhões de anos nada terá feito diferença. Chego sempre à conclusão de que o melhor é preocuparmo-nos menos.

JS,
É precisamente isso, há uns anos tínhamos a morte dentro de casa. Agora empurramo-la para fora e fechamos os olhos.
Interessante isso da passagem... Se acreditamos que se viaja para um sítio melhor, não deveriamos ficar contentes? Celebrar com pompa e circustância, fazer festa, lançar foguetes? Talvez até ansiar pela nossa própria passagem?
“Mas somos só humanos”. Pois é.

i35,
coelhinhos a saltar da cartola, puff puff puff... Se soubesses o tempo que passei a ruminar aquilo que me disseste de todas as partículas, por mais pequenas que sejam, se constituirem na maior parte de ar e, portanto, que somos quase nada, se soubesses o quão fantástico acho, na realidade, nunca nos tocarmos porque, ao nível microscópico as moléculas se repelem, if you only knew! (tudo aquilo que me desvia desta tese inominável).
As questões da tua batalha são poderosas. São fundamentais e eu (ainda) estou a milhas delas. Corto Maltese pode ter algo a acrescentar, pois que vai encaixando a coisa há mais tempo...
bjinhos

calvinn disse...

se te fosse a falar da morte...Sabes que costumo dizer que eu é que escolho a minha morte. Ao pensar desta forma, torno a dita senhora morte muito mais natural. Eu decido como e quando quero morrer. Para isso tenho de ir enganando a vida como posso. Parece uma lema de vida idiota, mas a verdade é que volta e meia assumo com bastante naturalidade esta maneira de estar na vida. Quanto a esses teus pensamentos, são mesmo prova que estavas acordada ás 5 da manha. É nas alturas de maior cansaço que nos lembramos de coisas que não lembram o diabo. Diabo amigo, um dia estarei contigo.
Morte morte morte morte morte morte morte morte morte morte morte...queres mesmo que te fale sobre a morte? um post pra ver com a minha visão da coisa. Fica atenta. Beijo.

p.s. tas a começar a fritar nao tas:)?

calvinn disse...

um post pra ver - um post pra breve

sara disse...

manda, eu tou sp atenta!

O "fritar" já n sei se é comentário ao tempo, se ao juizinho... o tempo já se vai recomendando como queres, n? cada vez mais fresco. o juizo, olha, tou a deixar sair o fritanço, que é coisa q normalmente controlo melhor.

mas olha lá: reparaste que o i35 te mandou um abraço? parece-me q ela anda a ganhar pontos com a atitude amigável...

calvinn disse...

amigável era ele comprar-me um Ford cortina ou um Citroen Cx modelo Palas. Como até ver não aconteceu nada respeitante a tão bonito tema automobilistico, relego toda a minha atenção em pessoas que não ele. Estamos a falar de quem?:)

atentamente e cordialmente agradecido por puder partilhar linhas de palavreado com pessoas que aparentam ter um QI acima da média.

p.s. pronto ta bem. ola i35...adeus i35

Anónimo disse...

e mais curioso, é que vemos a realidade que compreendemos, o que nao compreendemos, nao vemos...

ja acreditamos que o mundo era plano, e que a terra era o centro do universo, por ex. o 1º tipo que colocou a possibilidade de existirem seres microscopicos, que não se viam a olho nu, foi ridicularizado, quem colocou em causa a ideia que a velocidade da luz não era constante (teoria do einstein) foi ostracizado, incluindo um fisico teórico de renome internacional portugues, joão maguejo....

qual é a possibilidade de olharmos para uma realidade que nos assusta, só porque não a compreendemos ? e não porque ela seja assustadora.

fascina-me sempre a ideia que somos feito da materia das estrelas, viemos do principio dos tempos, temos a idade do universo, todos

a morte , no ocidente contemporaneo, é encarada como uma falha tecnica, que haveremos de resolver, noutras culturas e filosofias, não

mas, tudo se passa na nossa cabeça, tudo,

tenho um filme muito interessante de divulgação cientifica que aborda estas e outras coisas onde se fala tambem sobre a fisica quantica, que seria giro ver em grupo, fica o convite prós IFs e para quem a dona desta casa quiser convidar

(Caradanjo é nesse filme que fala no vazio quase absoluto do que aparentemente é sólido)

corto, vamos organizar um jantarinho? alinhas? .. na minha casa ou na tua ? hahahha

orçamentos grátis.

beijos e abraços a todos
i35

Anónimo disse...

Pois pode ser na minha casa, a ideia desse filme agrada-me, mas depois de dia 29, please...até esse fim se semana "tá de chuva" para jantaritos!
Beijinhos
CM

Anónimo disse...

VIDA...MORTE.
Mero exercicio escolar de somar e subtrair.
À vida acrescenta-se e subtrai-se em simultaneo tempo...
O TEMPO em que cada instante que passa é mais um pouco NA nossa vida, e um pouco a menos DA nossa vida.

bjinhos
titiokrido

Anónimo disse...

tá de chuva ??? ate dia 29 ????!!! lérias..ganda mentirosa.. agora deste em evidente? tás no negócio das adivinhações ???? ou tás ca tosga?

aproposito... caradanjo.. quando abrires vagas para tios.. diz-me ...quero candidatar-me . é preciso algum requisito especial ?) tenho uma irmã, experiencia com sobrinhos, carta de pesados, sei dizer coisas como " a menina tá estrupida ?" ou "xuxuzinha vá ali catar uma grade de mines pró titi" e coisas assim.
Faço deslocações. Orçamentos grátis. assunto sério.

i35

sara disse...

titiokrido,
só que eu ainda n sei bem o que é o tempo.

CM,
mais uma vez tu casa es nuestra casa? já andamos a abusar... eu até q oferecia a minha, mas a única que tenho é virtual. Capaz de n dar mto jeito.

i35,
bem, existem várias categoria de tios. estou certa de que algo se arranjará, caso o candidato revele afinco e vontade de encher a sobrinha de presentes. como vê, não é complicado... depois, para ir subindo na carreira, há toda uma escala de contribuições que pode ir fazendo até atingir a proximidade genética desejada e, portanto, o grau de afinidade que daí advém. (favor contactar-me para informação mais detalhada).