31/10/07

no céu espelhado - VII

Neste momento pensam vocês esta gaja é parva, então tem uma tese pa escrever e vem outra vez falar do creoula?. Pois tenho. E cá estou. Mas este pequeno episódio já estava escrito e reparei que se escaparam 10 dias desde que postei o último. Os instruendos têm de ser alimentados.

Há a história do gato malhado e da andorinha sinhá. Há a história da gaivota e do gato que a ensinou a voar. E há a história do Cabo Costa e da andorinha-do-mar...

Era uma vez o Cabo Costa que manejava os seus cabos em descanso quando as instruendas atentas subiram a bordo, no Alfeite. Cabo Costa viera recentemente do mar do Norte, onde tinha estado a filmar mais um anúncio da Old Spice, ao eterno som Orffiano de Carmina Burana (aquela assim: “tan tan tan tan, TAN TAN, tan tan tan tan, TAN TAN, tan tan tan tannnnn tannn tan tan...” tão a ver, não é?). Das gravações intensivas ao som da música, Cabo Costa acabara por ganhar um olhar um pouco ausente, talvez misterioso, um ar que se tornava apelativo. Mas as instruendas miravam à distância, cada uma medindo em silêncio os seus poderes e calculando probabilidades baseadas em distribuições Gaussianas, como haviam aprendido (e com distinção) na Escola Mediana dos Supra-Heróis com Potencialidades e Mania das Grandezas - “EMSHPMG”, como se dizia para facilitar...

Cabo Costa só era avistado às vezes, normalmente à hora da faina de mastros em que todos eram obrigados a subir ao convés para içar as velas. Aí vinha ele, trazendo consigo o porte da Gant e cumpria com gosto o seu dever. Upa upa, força, muitos sorrisos, “VAI, VAI”, gritava aqui e ali e depois desaparecia. Era uma pessoa cordial e atenciosa. Logo na primeira faina, aquela em que Cajó passeava a máquina de filmar e soltava comentários à canal Odisseia, Cabo Costa deu-lhe a missão de rodar um certo botão para on à sua ordem. Cajó, compenetradíssimo, fixou todo o tempo o aparelho para que o botão não lhe fugisse. E, não só conseguiu, como filmou a proeza!! (foi nesse momento que virou o écrãn da máquina para si próprio, sorriu em rasgo e ergueu o punho num sinal claro de vitória). Pensei: Cabo Costa, além do mais, é esperto, ocupou o irritante e manteve-o quieto para não estorvar. Palavra mais linda, esta do estorvar...

E, de resto, quase não se deixou voltar a ver. Até à noite da andorinha.


Regressávamos já a Lisboa e deviamos navegar algures ao largo da costa vicentina. Tinha sido o primeiro dia de ondulação forte e as aves voavam agitadas por cima do mar. Nessa altura já só tínhamos turnos de dia e, naquele momento, começava a escurecer. O turno estava no fim pelo que, como sempre, mais de metade de nós sentava-se na popa, junto à ponte, a ver o tempo passar. Cabo Costa marcava presença, não sei se estaria de turno também. Começámos a prestar atenção a uma andorinha-do-mar que fazia vôos rasantes à ponte, circulava o local e era depois arrastada pelo vento. Impressionou-me como o bicho parecia uma folha de papel à mercê dos elementos. E Cabo Costa ficou também impressionado! Estava fascinado... Sussurrava quase tanto como a Rapariga-Sussurrante, para não incomodar a ave que, num arremesso, se conseguira atirar à ponte e encaixar lá num spot com menos vento. Podiamos aproximar a mão até uns 20 centímetros da gaja, que ela não se mexia. E o Cabo Costa, todo derretido, não lhe tentem mexer, não assustem a coitadinha, ela está estafada! E eu a pensar atão não é suposto serem marujos rudes do mar? Confesso que mal topei a andorinha achei que estava tudo fod... e que pouco tardaria para jantarmos Sterna hirundo no espeto, esse belo pitéu (sempre variava do atum, não era?). Mas, graças ao Cabo Costa, que fez ali guarda à bicha, afastando com ímpeto e alguma ofensa as “brincadeiras” dos amigos, a andorinha passou uma noite tranquila. Era bonzinho. Não desenvolvia muito, vim a perceber um pouco mais tarde, mas era bonzinho.

10 comentários:

Anónimo disse...

Boa ! esta não conhecia eu ...bonito... giro.. até eu começo a gostar do cabo costa...
obrigado e agora .. vá.. volta pra faina
bjs

i35

Anónimo disse...

que bem que se está aqui !!! sossegado ! calminho.. acho que me vou descalçar ... e esticar o atoalhado nu... areal

i35

Anónimo disse...

esta prainha é boa.. sossegada..tem é um mau serviço de mesa... não vejo o empregado em lado nenhum--

i35

Anónimo disse...

Obrigado S. por este post!
Não assisti a este momento creouleiro (mas tenho pena)
E assim aprendi que
a) Nem todos os marujos são homens rudes (abaixo as generalizações)
b)O "cabo que é giro mas não desenvolve" e que agora passou a ser o "cabo que é giro, não desenvolve, mas é bonzinho" tem algumas preocupações com os restantes habitantes do planeta.
Boa tese :)
Corto Maltese
i35 chega pra lá o atoalhado que há mais malta nesta praia!

sara disse...

ola creoulinhos lindos... :) por aqui a coisa vai andando. aproveitai vós, ó fantásticos, este reluzente sol de outono, que eu já começo a atirar para o verde-amarelado-fora-as-olheiras.
bjs

Anónimo disse...

adorei o ".. vós, ó fantásticos..." hahahah

Corto.. que raio... eu cheguei 1º ! o menino é gordo ? mas olhe ... essa tanga tigre fica-lhe de morrer ... até eu próprio.. já não me estou a sentir lá muito bem ..

i35

Anónimo disse...

O Costa... Old Spice... TanTanTan TAN... lindo! viram a IC 19 na TV?

Beijos e abraços saudosos I31

gAnDaMaLuKo disse...

Esta gaja é parva. Então tem uma tese pa escrever e vem outra vez falar do creoula?

calvinn disse...

Simples. A tese dela deve ser uma banhada sem interesse nenhum e o creoula pelo que leio foi uma banhada das mais interessantes que aconteceram na era moderna.

cumprimentos para todos menos para aquele cujo nome não vou pronunciar.

p.s. Raio da miuda deve andar a rezar para que o mau tempo não venha pra ficar. E depois eu é que sou o "cabrão".

Anónimo disse...

Pensava que estavas concentrada na tese e que não havia novidades por aqui... afinal tenho andado a perder estes momentos! Parabéns mais uma vez pelo teu dom de me fazeres ficar bem disposta!!