20/09/07

on small birds and lazy people

Estou há mais de 3 dias para escrever uma introdução. Há mais de 3 dias a colar frases umas às outras, frases roubadas a outros passarólogos (que a ciência é mesmo assim, a repetição infindável, o tédio total, o encaixe ao molde, o assassínio da originalidade!) e estou há mais de 3 dias a tentar fazer algum sentido nessa colagem forçada. Uma breve introdução, que não estou para me chatear. Dez referências, quinze no máximo. Santa paciência! E tudo isto para quê? Vou-vos contar com palavreado de gente...


Há montes de passarinhos que migram durante o inverno. Fazem-no por melhores condições de vida (temperaturas amenas, vegetação abundante, alimento disponível...), como todo o bom emigra! Mas bazar do seu spot original também tem um revés: é que se vão muito longe a viagem pode esgotar-lhes a gordurinha e, para além disso, quando regressarem no verão seguinte para a maluqueira do acasalamento, todos os melhores lugares para fazer ninho já vão estar ocupados. Resultado, nem sempre é muito fácil (para nós) perceber se será mais vantajoso partir ou ficar. “Porque eu só estou bem aonde eu não estou e só quero ir aonde não vou” é uma máxima que se parece aplicar...

Falando especificamente de piscos-de-peito-ruivo, essa querida passarada: eles migram sim senhor, só que migram mais as fêmeas do que os machos! Estes tendem a ficar confortavelmente em casa (Inglaterra, Escandinávia, Europa Central, por aí) e elas, ala que se faz tarde, para a península dos ibéricos e resto das zonas mediterrânicas. Espertas! Sol, praia, caipiroskas, espírito latino, Zezés Camarinhas versão avícola... Mas não só elas, os juvenis de ambos os sexos também são obrigados a vir. Chegam todos cá e o que fazem? Escolhem habitats, claro está, e começam à batatada para definir quem fica com que espaço. Ah e tal, essa pistácia ficou dentro do meu território, toma lá uma bicada no céu da boca e não me apareças mais à frente. Esse género de coisas. Depois do circo armado, alguns conseguem tornar-se don@as e senhor@s do seu hogar e outros, mais franganotes, são obrigados a partilhá-lo porque não se conseguem impôr.

O que eu queria saber:
1 - será que os donos dos territórios são mesmo mais “capazes” do que os que partilham espaços?
2 - os territórios são um recurso escasso? que proporção existe de donos e não-donos?
3 – os animais que escolhem passar o verão na mata em monsanto são fisicamente diferentes dos que decidem apanhar a brisa marítima na arrábida? onde se definem mais territórios individuais? qual será o melhor habitat e porquê?

Isto é +/- uma das partes do trabalho. A outra é, basicamente, perceber o que é que eles gostam mais de comer: querem bicharocos nojentos ou bagas gordinhas e reluzentes?

E assim se foi passando um ano...

Como é que uma coisa que até é simples e que proporcionou tão bons momentos de campo se revela agora um monstro no computador? Serão as quatro paredes que me fazem alergia e sopram uma leve (ou não tão leve) depressão? Não sei. Consola-me que, ao menos, os bichos são muitíssimo fotogénicos!

11 comentários:

Anónimo disse...

Il semaforo blu.
(da "Favole al telefono" di Gianni Rodari)
Una volta il semaforo che sta a Milano, in piazza del Duomo, fece una stranezza. Tutte le sue luci, ad un tratto, si tinsero di blu', e la gente non sapeva più come regolarsi.
"Attraversiamo o non attraversiamo? Stiamo o non stiamo?"
Da tutti i suoi occhi, in tutte le direzioni, il semaforo diffondeva l'insolito segnale blu', di un blu' che così blu' il cielo di Milano non era stato mai.
In attesa di capirci qualcosa gli automobilisti strepitavano e strombettavano, i motociclisti facevano ruggire lo scappamento e i pedoni più grassi gridavano: "Lei non sa chi sono io!"
Gli spiritosi lanciavano frizzi: "Il verde se lo sarà mangiato il commendatore, per farci una villetta in campagna.
Il rosso lo hanno adoperato per tingere i pesci ai Giardini.
Col giallo sapete che ci fanno? Allungano l'olio d'oliva."
Finalmente arrivò un vigile e si mise in mezzo all'incrocio a districare il traffico. Un altro vigile cercò la cassetta dei comandi per riparare il guasto, e tolse la corrente.
Prima di spegnersi il semaforo blu' fece in tempo a pensare:
"Poveretti! Io avevo dato il segnale di - via libera - per il cielo. Se mi avessero capito, ora tutti saprebbero volare. Ma forse gli è mancato il coraggio."

R&T

Anónimo disse...

Don't get it right, just get it written.
JAMES THURBER
(1894 - 1961)

Elementar cara S.
Troia Marisco, (business man)

sara disse...

:) gostei da história.
não é fácil ser-se corajoso quando se conhece apenas o possível custo e do benefício nem ideia! mas se calhar a noção de coragem parte mesmo daí, não sei.

sara disse...

Heheheh... :D
"Don't get it right, just get it written"
Vou repetir essa todas as manhãs!

Anónimo disse...

Querida S.
Há alguns anos estive numa situação com algumas similitudes, ou seja, ter de escrever muito (em Portugal valoriza-se muito o conhecimento cientifico...ao quilo)sobre a minha (à data curta) vida profissional.
Ora, eu até gosto daquilo que faço, mas...quando chegou a altura da triste escrita...desesperei, amaldiçoei a hora em que me candidatei, pensei sériamente em desistir, enfim... deprimi bastante.
Houve então alguém, mais experiente e sábio que me disse exactamente essa frase "don't get it right, just get it written" e, com muita paciência lá me convenceu que quanto mais depressa acabasse "a coisa" (sim o caso foi grave) mais rápida seria a volta á vida real.
Algum tempo depois, num ataque de raiva que me custou muito tempo mal dormido (estava mesmo muito atrasada) lá consegui parir um escrito, que resultou bastante bem para a finalidade em apreço.
E, esperando que esta minha pequena estória te traga algum alento...bom trabalho :)

calvinn disse...

Vou gostar de ler isso um dia. A sério que vou . É daqueles assuntos que podem parecer o mais desinteressante possível, mas também o mais interessante possível. Depois explico.
p.s. Como reagem esses passarinhos ás trovoadas e relampagos?

Flip disse...

Gracias! ;)

sara disse...

anónima,
uffff... comentário bom de ler, quase me apetece começar a acabar a coisa já! (mas acho q o melhor é dormir enquanto posso)
obrigada!

calvinn,
para mim estas coisas têm sempre um pouco de ambos: o + desinteressante possível e o mais interessante do mundo! mas depois explicas-me... :) quanto à trovoada, se forem como eu, adoram!

Flip,
tinhas razão, até ajudou um pouco. pelo menos a pensar no panorama geral e não engalfinhar nas anovas.

Anónimo disse...

True Story

Cara e juvenil S., a meu ver pelo que vale o que vale, a coragem vem do modelo materno. Se a mãe é pessoa a sério, geralmente as crianças seguem destemidas e portam-se à altura. O modelo paternal pode lá estar mas tem menos peso. Conto-lhe uma história que por vezes me permite sair de situações incómodas. O meu avô paterno era um tipo terrível, mas com um coração frágil e dado a avarias. Foi assim que conheci o H.S.Maria e o Autocarro Pote de água. Nessa altura havia lá em casa um Opel Olympia cinzento, muito usado, mas a minha mãe não sabia guiar. Na véspera de morrer o meu avô que era muito lúcido disse à minha mãe que não queria morrer no hospital, mas que os médicos não lhe davam alta. A ruiva sardenta de um metro e setenta, assegurou-lhe que ia tratar do caso. Chega à porta das urgências (estamos em 1959) esperou que chegasse uma ambulância, rouba uma bata e telefona ao meu pai para estar em casa com dinheiro para pagar um serviço. Os bombeiros para quem a minha mãe e a sua 4ª classe com abata passou a Dr.ª, lá foram atrás dela e uma hora depois o meu avô estava em casa onde morreu nessa noite. Durante anos o H.S.Maria procurou o meu avô por todo o lado, até que desistiu. A bata ainda serviu para montes de coisas, entre outras foi a minha bata de química no liceu e desapareceu tal como tinha sido com o meu avô. O meu pai gostou da minha mãe até morrer, mas deixou-me a minha mãe como herança. Com o subsídio de funeral do meu pai comprei um amplificador da Quad, pois minha mãe não quis a urna mais cara e prescindiu da lápide. Ainda hoje toca como um anjo. Deduzindo que a minha mãe não era de lápides, quando ela morreu troquei de carro e optei por ter A.C. e um Alpine (ninguém tem 2 Quads) que toca mais uma vez e pela natureza das coisas como um anjo.
Will & Abe

sara disse...

:) história encantadora

Anónimo disse...

Cara S.,
Se um dia o que escrevo no seu blog a levar a ler uma página que seja de um qualquer livro de Thomas Bernhard estará feita a maroteira. Se me permite a sugestão julgo ser o "O naufrago" a entrada ideal. Tirando alguma literatura russa, nunca li nada que se lhe compare.
Um bom fim de semana, de A. a Z.
Will & Abe ou outro nome que lhe agradar.

ps.
Pisa and Venice
The mayors of Pisa and Venice had agreed to scandalize visitors to their cities, who had for centuries been equally charmed by Venice and Pisa, by secretly and overnight having the tower of Pisa moved to Venice and the campanile of Venice moved to Pisa and set up there. They could not, however, keep their plan a secret, and on the very night on which they were going to have the tower of Pisa moved to Venice and the campanile of Venice moved to Pisa they were committed to the lunatic asylum, the mayor of Pisa in the nature of things to the lunatic asylum in Venice and the mayor of Venice to the lunatic asylum in Pisa. The Italian authorities were able handle the affair in complete confidentiality.
TB (excerto de The voice imitator)