03/07/07

um pequeno deslize

Ora bem, domingo folgazedo e o que se faz? A vontade é de bezerrar à grande (como, aliás, sucede em qualquer outra altura), mas dado que é dia do senhor e tudo, vamos lá apanhar sol na mioleira e ver se produzimos alguma serotonina para espevitar. O que fazer, o que fazer?...

Praia ao domingo nem pensar, que a recordação da Fonte da Telha com todo o seu aparato almoçadeiro de tachos, toalhas e garrafões de cinco litros, animados – como se não bastasse! – pelo pequeno Saúl a gritar “o bacalhau quer alho” em todos os rádios transportados para o areal com intuito assassino, deixaram marcas profundas nesta alma ingénua. Além disso o fantasma da tese mantém-se incansável na assombração aqui da je e, portanto, nada de ir muito longe. Vá-se lá saber, pode o computador sentir falta de atenção e declarar negligência quando a oportunidade surgir (lá para Outubro, segundo consta).

Comer um gelado à Praça de Londres? Talvez, talvez... Mas e as (também assassinas) calorias?? Logo agora que decidiu o governo pôr um término na síndrome crónica de depressão pós-calórica? Não, não, nem pensar.

Conclusão evidente e pejada de ponderação: ande-se de patins no Campo Grande!

Andar de patins no Campo Grande... Andar de patins no Campo Grande... (a ler com um suspiro, por favor). Nesta altura alguém pensará “eu não sabia que ela patinava”. Pois. E não sabia muito bem, porque ela, de facto, não patina. E mais: não só não patina, como consegue ser exímia na arte do ridículo!

A acompanhar esta não-patinadora que vos fala encontrava-se, dentro do ringue, uma meia dúzia de criaturinhas minúsculas de patins da Floribella nos pés. Trapalhonas sim, de perninhas de alfinete sim, mas eléctricas de energia. Zum, zum, zum... sempre a passar, sempre com seis anos, sempre sem dentes da frente, sempre canejas e de sorriso rasgado. E a não-patinadora iludida no seu equilíbrio imaginário, numa de “eu tenho muito mais controle muscular que vocês”, decidiu entrar a matar e deu três valentes passos de balanço para deslizar suavemente até ao corrimão. Primeiro metro tudo bem, segundo metro um pouco menos bem, terceiro metro e já o corpo insistia em balançar para trás e, ao quarto metro, por fim, o estatelanço. Foge-lhe o patim para a frente, lê-se-lhe o terror nos olhos, cogela-se-lhe o corpo no ar enquanto pensa “ai mãezinha que é desta” e, em tais preparos, despenca no meio do chão com um bate-cú digno de nota. O chão? Duríssimo.

Estando um senhor observando do lado de fora, apoiado no corrimão, mesmo junto à não-patinadora, esta obrigou-se a sentar rapidamente e evidenciou, como quem não quer a coisa, a mobilidade das pernas (há sempre aquela personagem que tecla o 112 no telemóvel). Depois fingiu-se preocupada com o leitor de mp3 para não ter que encarar a audiência muda. Oh, que maçada, não liga! Terá avariado? Mas que chatice! (enquanto a dor ia martelando e ela disfarçava os gemidos para se levantar).

Como eles dizem sempre nos filmes que quem cai do cavalo tem que montar outra vez (e os ensinamentos da televisão são sagrados!), lá me pus às voltas ao ringue, mas desta vez a passo. Volta, atrás de volta, atrás de volta e sentia-me cada vez mais com seis anos, invejando já os patins da Floribella. O único senão era o medo de ficar, tal como as criaturas, sem os dentes da frente - medo perfeitamente fundamentado, como se viu.

Bem, hoje é o dia seguinte e agradeço ao senhor a invenção dos brufenes. De qualquer maneira, quando for grande quero ser patinadora no ringue do Campo Grande. É só conseguir mexer-me outra vez e vão ver...

10 comentários:

Anónimo disse...

Se não te conhecesse, pensava "que imaginação tão fértil! bem que podia escrever livros infantis".
Patinar no Campo Grande?! Vai antes correr para o Estádio Universitário que é bem mais seguro, tanto para a integridade física como para a psicológica.
A dor deve ter sido tão grande que não reparaste nas criancinhas sempre com seis anos, sempre cruéis, a rebolar no chão a rir com o espectáculo!

sara disse...

LOL. É bem possível! Foi mesmo doloroso.

Não sabes que eu tenho aquela deficiência musculó-esqueléticó-articular que se passeia do maxilar para o pescoço e daí para o ombro, braço e costas, que não me permite essas corridas salutares no EU?? Bem vês que já mal posso com a raquete, tadita de mim...

Pensei que deslizar não ia dar dores. Enganei-me. Mas serei persistente, tornar-me-ei a raínha do ringue!

Anónimo disse...

O rei dos rinks
Os patins, e os colchões da Repimpa, com a almofada esvaziada para servir de pega (os Lilo ingleses dobram-se nas ondas), fizeram as delícias de verão de alguns, e a cobiça dos mais humildes, cujos pais por motivos vários tinham mais onde gastar os seus recursos. Na Ericeira em Setembro os Repimpas eram os únicos que suportavam marés vivas. O Rink era usado para campeonatos de hóquei e nos intervalos para crianças e meninas com botas brancas evoluírem com razoável elegância. Tudo isso acabou pensava eu, e mal, pois S. a dona do blog ainda não se põe com correrias em azinhagas e anda de patins. Pode cair ou não, mas anda e isso é o importante. O rei dos rinks era o do jardim zoológico de Lisboa, onde nos anos 50 um senhor africano enorme ensinou várias gerações a patinar para trás. Nunca consegui tal feito mas nos anos 60 vi numa Life uma fotografia de uns miúdos de nova york em cima de tábuas com rodinhas. Os patins Polar vintage foram de imediato transformados em tais artefactos, devidamente aparafusados a tábuas muito rijas. Sempre convidei o meu vizinho Candinho para experimentar as inovações. Levei um dia a partir-lhe um braço e de modo irreversível. Graças a isso o Candinho foi isento do serviço militar e casou-se antes dos outros. Como tinha de trabalhar não acabou a licenciatura, e por isso do lote de primos foi o que teve mais dificuldades. Como tudo deve acabar em bem o tio dele, Cândido de seu nome, ao morrer deixou-lhe uma quinta catita que lhe permite viver com razoável desafogo, segundo ele graças a mim que em boa hora o chamei para experimentar o 1º skate totalmente português. Por estas e por outras é que se um dia Timor Lorosae voltar a ser uma colónia portuguesa não ficarei nada espantado.

Aline (réplica)

gAnDaMaLuKo disse...

Vocemessê só dá mesmo para os desportos ditos "de elite". Ténis, ski, surf, e pelo que li há uns tempos, cultivo-de-minhocas-no-carro.
Fosse a Sara Cortez como eu, e praticava desportos próprios para a sua condição etária: zapping, acordar, e movimentos respiratórios.

Anónimo disse...

Pobre de quem tem herenças genéticas tão dramáticas !!.. Aos 80 deves andar a esmurrar-te nas montras dos cafés....

Com a idade aprende-se que realmente há quem nasça só para os desportos radicais do gandamaluko.

Consola pensar que nas horas tenebrosas é na fantástica criatura que nos deu vida que todos nós pensamos incluindo S.

sara disse...

Eu sabia que não ias deixar passar essa! Confesso que ainda ponderei teclar outra expressão de susto (só para não gramar o comentário, vê como a minha vida é previsível) mas depois, num acto de generosidade, decidi deixar assim... :)

Quanto aos 80, não haja dúvidas! Vou esmurrar-me em tudo quanto é objecto inanimado, engasgar-me com a minha própria saliva (ok, já o faço agora) e andar a decorar músicas em árabe, mandarim ou coisa que o valha. Não evitando sequer a clássica repreensão, repetida em triplicado, nos momentos de falhanço: "burra, burra, burra".

Unknown disse...

Quem sai aos seus...!!Conheço alguns que vão para a neve julgando ter 20 anos e veem de lá todos partidos "mas foi tão bom!!".
Quanto a aprender as músicas em árabe ou mandarim até acho uma boa. Como o resto do pessoal já está surdo, ou para lá caminha, até pensam que estás a falar bem e afinada!(o que vai ser mais difícil...:). Nessa altura já sem dentes vais-te lembrar das criancinhas dos patins e pensar "agora sim sou a vedeta!".

sara disse...

eheheh... até tiveste graça! :)

joao pestana disse...

o bacalhau quer alho
é o melhor tempero
e quem comer alho
fica rijo como um PÊEEEERRRRRROOOOOO!!!

Anónimo disse...

Xiiiiii.. Quantas recordacoes tenho eu do ringue do Campo Grande. Tambem eu tinha seis anos, mas naqual altura ainda nao havia Floribela. Quantas horas almoco o meu Papa me levou ao ringue para eu poder treinar os meus saltos e pioes - na altura era mesmo patinadora. Quantos cachorros quentes com mostarda e ketchup sofreu o meu pai como misero almoco, so para me ver feliz, as voltas e voltas no ringue. hehehe
O corrimao ainda da choque Sarita? Beijoca
Ana Capuzinha