Quero deixar aqui uma ideia que só agora começo verdadeiramente a assimilar. É que existem apenas duas fases na vida de uma pessoa: a pré-sexual e a sexual. Tudo o resto são extras, pormenores, pequenas barreiras que se vão ultrapassando, dores que encaixamos a contra-gosto e ideias que fixamos sem o sabermos.
Em criança, a paixão surge pelos pais (em especial pela mãe) e por eles ansiamos e procuramos contacto físico. Desejamos profundamente que nos aprovem e amem e sofremos imenso quando se distanciam de nós.
Não, “paixão” não é termo impróprio. De todo.
Li há uns dias num artigo impressionante da investigadora Lisa Diamond (2003), que existe uma ligação muito provável entre a neuroquímica destes comportamentos infantis e a dos comportamentos característicos da paixão romântica no adulto. Os sintomas são praticamente os mesmos e é quase surpreendente que a associação das duas coisas surja tão tardia. Segundo parece, a paixão não existe para garantir que duas pessoas que se atraem sexualmente fiquem juntas, como se pensava até há pouco tempo. Ela existe, provavelmente, por ser uma consequência da dependência que tivémos, um dia, dos nossos pais. Engraçado, não é? Obviamente que acabou por ser uma consequência positiva, porque a manutenção de um casal ajuda a que os bebés sobrevivam melhor.
As possibilidades que surgem desta (aparentemente) simples constatação, para explicar comportamentos e motivações humanas, são imensas. Mas não me quero estender em hormonas e estudos para não vos moer demais a paciência.
Mudando mais ou menos de assunto: hoje tivemos encontro de tias cá em casa. “Tia”, como toda a gente sabe, não indica actualmente uma verdadeira relação de parentesco (a essas é pelo nome e com palmadinhas nas costas), mas diz-se, sim, das amigas da mãe.
Ora bem, um encontro destes passa por uma série de fases que vão do tédio à gargalhada descontrolada, de um modo dificilmente previsível. O tédio instala-se (do ponto de vista do observador, claro) quando a discussão se demora nos pormenores decorativos da festa xis, ipsilone ou zê ou então na vestimenta de cada elemento presente. Não interessa se é pessoa do nosso conhecimento ou não, desde que esteja, de algum modo minimamente rebuscado, ligado a alguém que conhecemos. De facto, o observador deve ir alertado para que noventa por cento do tempo seja passado a falar sobre terceiros (seja eu cega, surda e muda se exagero!).
Nos restantes dez por cento do tempo troca-se informação de natureza prática: como cozinhar uma quiche apetitosa, onde comprar aquelas cuecas sem costura ou as outras que imitam fio dental (porque macho que é macho não resiste à evidência de um fio dental, asseguram as próprias), alertas gerais sobre alimentos que engordam contra todas as expectativas, e outras necessidades básicas que tais. Deixo os comentários sobre os candidatos mais adequados (ou menos inadequados) à Câmara de Lisboa no bolo da vida dos outros porque, no fundo, não deixam de o ser.
Mas de nada gostam mais as fêmeas de Homo sapiens, no geral, do que combinar sexo com vida alheia. E aqui o observador deve preparar-se para a fase da gargalhada descontrolada...
Há um ponto em que a conversa irá descambar para as aventuras amorosas de alguma amiga/conhecida ausente e os ânimos ficarão ao rubro. Na de hoje, particularmente, posso garantir que o surrealismo imperou. Chorei de tanto rir! São ardilosas as táticas usadas pelas mulheres para se fazerem querer pelos homens, mas elas nem sempre funcionam. Ou não funcionam da maneira pretendida, pelo menos.
Com alguma pena, opto por não me estender em detalhes nem usar iniciais para mascarar identidades desta vez.
Isto do sexo é mais ou menos uma guerra. É situação “chapa-três” um casal separar-se depois dos filhos estarem grandinhos, a mulher menos fértil e o marido viver a chamada segunda adolescência. É cruel e muito ingrato ladies, mas evolutivamente não se pode negar que faz sentido trocar uma de cinquenta por duas de vinte e cinco (os homens que o fizeram no passado tiveram mais filhos e esse é o único sucesso que conta na natureza). Claro que a psicologia podia entrar em acção – e felizmente tantas vezes o faz! – mas nem sempre consegue falar mais alto que estes impulsos primários.
Eu tenho uma teoria. Tenho muitas, já sei, mas esta é mesmo, mesmo, mesmo muito boa. É das melhores que defendo, apesar de ainda ninguém lhe ter dado crédito (não percebo porquê). Acho que a menopausa devia marcar, nas mulheres, a mudança de um estado heterossexual para um estado homossexual. Enquanto é fértil a fêmea junta-se a um ou mais machos e vai procriando. A partir do momento em que deixa de poder ter filhos ela ficará menos atraente para os machos, mas psiquica e fisiologicamente não está adaptada para uma vida solitária! Então torna-se homossexual e passa a partilhar a vida com as outras mulheres que se encontram na mesma situação. Os machos, porque podem, vão ter mais filhos com mulheres mais novas e ninguém chateia ninguém. Imaginem só. Parece-me um equilíbrio estável.
Há peixes que mudam completamente de sexo durante o seu ciclo de vida. Há outros que se “fingem” do sexo oposto para obterem vantagens reprodutivas. No alto da nossa macrocefalia toda, até podiamos inventar qualquer coisa para fazer isto funcionar.
A grande pena seria perder depois o gozo das conversas das tias...
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11 comentários:
"...existem apenas duas fases na vida de uma pessoa: a pré-sexual e a sexual." Existe ainda uma 3ª fase, ulterior às duas já mencionadas, a «lembras-te-como-foi-sexual?», também conhecida como a «fase da profunda tristeza geriátrica».
Começas por nos ludibriar com as tuas palavras a meio do post, colocando na nossa mente imagens de mulheres em fio dental, para depois acabares a falar de peixes.
E depois vens com teorias. Vejamos: qualquer mulher cinquentona que se junte a outra mulher da mesma idade, vai ocupar um nicho comportamental até então vago, visto que "mulher experiente meets another mulher experiente" é uma tara que apela a um vasto número de homens, seja qual for a idade deles. Há até quem pague bem para ver tal coisa. Daí não poder afirmar com tanta certeza como tu que um homem da mesma idade, troque duas mulheres de 50 por uma de 25.
Relativamente à última frase que colocaste no teu post, queria deixar bem claro um reparo: a mim não me enganas tu.
Acordou para a vida a minha S. !!!
Já o nosso amigo Freud tinha umas teorias interessantes acerca do sexo,neste caso num sentido muito mais generalizado.Teorias essas, que se bem te lembras eram partilhadas e defendidas acérrimamente por alguns menbros na nossa ilustre familia.
E isto tudo para dizer o quê,perguntas tu.
Eu acho que esses encontros de "tias" são apenas uma forma encapuçada de passar mensagens e troca de experiencias, acerca dos "gajos" que estão livres (ou caso contrario, são apesar de tudo "fáceis"),e quais as melhores técnicas de abordagem.
As que já "pecaram" vangloriam-se e mostram que apesar da idade ainda
são capazes de arrastar alguns incautos, ou também sem abrigo (leia-se neste caso deseperados).
As outras alimentam a ilusão de o vir a conseguir, e satisfazem-se apenas perdendo-se nos seus pensamentos lidibinosos.
Todas as outras conversas periféricas (roupa,comida,etc) têm um único objectivo...chegar aos finalmentes.
Sim porque até lá, se trocaram experiencias de sedução e cativação.Qualquer homem que se preze não resite a uma boa refeição(de preferencia regada com bom vinho),e também a uma roupinha sensual que esconda as misérias!
Depois nestes casos,o vinho faz o resto...
Gostos não se discutem,mas no meu caso,e até ver, naõ trocava por duas de 25.
As fêmeas ganham charme com a idade(não me refiro as octagenárias),e ganham acima de tudo muito"savoir faire".
Quanto á tua teoria...nesse caso eu teria então que virar lésbica!!!
Um pouco como o gandamluko, a mim também não me enganas,além do que não concordo minimamente com a tua teoria porque:
1) É verdade que com a idade algumas mulheres tornam-se não só mais charmosas, como ousadas e apetecíveis.
2) Parece-me muito pouco viável que uma mulher que teve ao longo da sua vida uma sexualidade heterógenea activa, que se habituou a lidar bem consigo própria e o seu corpo, se sinta seduzida por um corpo igual ao seu,por uma questão impotente de reprodução. Há muito (desde sempre) que o acto sexual tem pouco a ver com a reprodução, esta é sim uma das suas consequências felizes.
3) Não condeno a homossexualidade desde que assumida com dignidade e valores; não a posso de todo aceitar com justificações "esfarrapadas de impotência"
S maísculo
Por Dios!, ó pessoal, alguém acha que eu acredito na inversão súbita dos hábitos sexuais? Credo, esta teoria não é suposto ser levada a sério! O que eu disse foi: se isto acontecesse, acabava-se o desespero da mulherada dos cinquenta. Tal como, sei lá, se podia tentar injectar umas hormonas aos homens para evitar que se atraíssem por gajedo mais novo. Ou arranjar um modo de que, às mulheres jovens, não interessassem os homens mais velhos. OBVIAMENTE não vai acontecer! (e era suposto suscitar apenas uns sorrisos)
Além do mais já vi que estou enganada e parece que se aprecia afinal o charme, "savoir faire" e ousadia das mulheres maduras.
S maiúsculo: tenho sempre dificuldade em fazer entender os meus pontos de vista "evolutivos" (muitas vezes mesmo com outros biólogos). É certo que parece simplista classificar o que fazemos como tendo uma finalidade reprodutiva. Na verdade, o sexo está para a reprodução como a fome para a nutrição. Temos fome porque temos fome, é um impulso, não temos consciência da falta específica de nutrientes. O mesmo com o sexo, ninguém pensa "tenho uma urgência enorme de transmitir os meus genes".
De uma coisa podemos estar certos: quase tudo aquilo que somos desaparece se não temos filhos. Ou dito de outra maneira, se estamos aqui hoje é porque os nossos antepassados se conseguiram reproduzir com sucesso. E nós somos o resultados desse conjunto de genes. A força da reprodução é brutal e fomos moldados por ela, apesar de hoje em dia parecer que lhe estamos a fugir - este é ainda um tema em brasa.
A crise da meia-idade é uma situação perigosíssima. Mais para os homens do que as mulheres. Não explico o motivo, e passo para um relato de gelar o sangue à rapaziada de madeixa branca blazer azul e calça vermelha. Pessoa muito amiga, nesse escalão etário, seduziu(?) uma surfista vendedora da Billabong, na casa dos vintes e tantos, ao comprar com um cartão Gold uma prancha de surf Wayne Egglet, caríssima, para a filha aniversariante. Convite para jantar, e aí o temos a lavar o MGB branco como a neve para a prevista ida a um qualquer sushi bar. Só para os raios das rodas foram mais de 3 horas. Fim de tarde e aí o temos, camisa Ralph Laureen aberta, jeans de marca e sapatinho sem meia. A surfista na maior logo o fez esperar meia hora por estar a fechar a caixa e ainda lhe vendeu uns Vans um pouco para o apertado. Nada de grave, pela expectativa da visão do MGB reluzente no parking, adereço a seu ver irresistível. A rapariga sempre fala ao telemóvel e ao chegar ao carrito mal o vê mas ao sentar sai-lhe a frase assassina: "Olha que giro tens um Fiat como o da minha tia".
O jantar foi um suplício para o velho, ainda em estado de choque, e óptima refeição para a mocinha que estava cheiinha de apetite. Às 23:00 é era deixada à porta de casa, de táxi pois o MGB tinha ficado sem bateria (são duas e de 6 volts). O meu amigo desde então está em tratamento psiquiátrico, pois tem erecções quando é visitado pela mãe na CUF Descobertas, onde deu entrada levado pelo táxi trás mencionado, revelando enorme falta de ar, e recusa-se a ver a restante família. Esta história é verdadeira por isso muito juizinho.
Artur Garcia
Artur Garcia,
Sei que sou pouco imaginativa nos meus comentários aos seus comentários, mas... hilariante! Para não variar. :)
titio querido,
esta história vai ao encontro do que conversámos ontem. Há homens assim e homens assado. E se calhar é por "percalços" destes que muitos se mantêm encantados com a sua própria faixa etária.
tias queridas no geral,
depois da reacção de "S. maiúsculo" sinto que talvez tenha sido pouco sensivel na abordagem ao tema. Quando falo do sentido evolutivo da coisa não pretendo passar a msg "homens vamos lá a arranjar uma miúda nova pa ter + filhos" (o Hitler também interpretou muito mal o Darwin, com consequências desastrosas). Claro que não acho bem. É só que sou viciada em porquês.
BEIJINHOOOOOOOS cheios de arrependimento!
"Camaradas" tias descobri que não precisamos de nos tornarmos lésbicas ! Boa hem ? .. Há sempre os homo do outro sexo que nos acham lindas, lindas de morrer...
Pensando bem é melhor investir nas tais que não sendo, parecem que são e atraem hetero que gostam de mulheres charmosas e experientes..
Como é que me fui esquecer dessa categoria??? Well done, os homo do outro sexo são também uma óptima solução! (vejo que afinal as tias já dominam bem o assunto)
Baralhei-me ali um bocado com a segunda frase. O que é que "as tais" não são mas parece que são? Charmosas e experientes?
2ª frase significa "fios dentais"
Não fiques triste,nha querida. Foste bem interpretada, no entanto podes querer que a maior parte das tias quarentonas ou mesmo cinquentonas abandonadas, usam hoje - fio dental -
Aliás, o que seria do fio dental, se não fosse a forte adesão(que estranha forma de escrever a palavra...) das tias cotas?
Que tudo gira à volta do sexo já Freud o explicava, agora a versão de uma necessidade imensa de reprodução, coloca-me uma duvida gigante:
Como é que os chineses têm fama ser má cama???
S. Maísculo
Aha! Bela questão!
Eu desconhecia completamente essa fama... (ultimamente parece que desconheço muita coisa)
De certo modo, desarmas-me. Não sei bem o que dizer.
Talvez os padrões ocidentais de "bom sexo" não sejam os mesmos considerados pelas chinesas????
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